Poemas Manuel Bandeira Porquinho-da-índia
Tema e variações
Quando eu tinha seis anos Ganhei um porquinho-da-índia. Que dor de coração me dava Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão! Levava ele pra sala Pra os lugares mais bonitos, mais limpinhos Ele não se importava: Queria era estar debaixo do fogão. Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas... — O meu porquinho-da-índia foi minha primeira namorada.
Sonhei ter sonhado Que havia sonhado.
O bicho Vi ontem um bicho Na imundície do pátio Catando comida entre os detritos. Quando achava alguma coisa, Não examinava nem cheirava: Engolia com voracidade. O bicho não era um cão Não era um gato, Não era um rato.
Em sonho lembrei-me De um sonho passado: O de ter sonhado Que estava sonhando. Sonhei ter sonhado… Ter sonhado o quê? Que havia sonhado Estar com você Estar? Ter estado. Que é tempo passado. Um sonho presente Um dia sonhei. Chorei de repente, Pois vi, despertado, Que tinha sonhado.
Andorinha Andorinha lá fora está dizendo: — Passei o dia à toa, à toa! Andorinha, andorinha, minha cantiga é mais triste! Passei a vida à toa, à toa.
O bicho, meu Deus, era um homem.
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parte 1 - poemas
2009-11-05 15:35