Voz de Nazaré

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2º Caderno

BELÉM, DE 26 DE ABRIL A 2 DE MAIO DE 2019

Semana Santa

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FOTOS: LUIZ ESTUMANO

w FIÉIS lotaram a Capela do Colégio Santo Antônio, no bairro da Campina

U

ma tradição mantida há 140 anos. Assim é o Sermão das Sete Palavras que medita sobre as últimas palavras proferidas por Jesus Cristo, quando suspenso no madeiro da Cruz, em suas “Três Horas da Agonia”. Realizado na Sexta-feira da Paixão, 19 de abril, na capela do Colégio Santo Antônio, o pregador escolhido para este ano foi Padre Moisés do Socorro Lima de Matos, pároco na Paróquia de Santa Maria Goretti, no Guamá. O primeiro Sermão das Sete Palavras realizado na Arquidiocese de Belém ocorreu em 10 de abril de 1879, organizado pelas Irmãs de Santa Dorotéia, fundadas por Paula Frassineti, popularmente conhecidas como Irmãs Dorotéias. Na época, as religiosas entoavam cantos em italiano, com letras alusivas a todas as palavras meditadas. Com melodias suaves e dolentes, os cantos convidavam ao recolhimento e à oração. O Sermão é um ato composto por um conjunto de sete frases proferidas por Cristo. Cada meditação é intercalada por uma estrofe do cântico “Le Sette Ultime Parole di Nostro Signore Sulla Croce”, de Giueseppe Saverio Raffaele Mercadante, que foi entoado pelo Coral Santa Cecília, sob a regência do maestro Eduardo Mário da Silva Nascimento. O Arcebispo Metropolitano, Dom Alberto Taveira Corrêa, subiu ao púlpito para abrir solenemente o ato. Inicialmente agradeceu a tradição mantida por muitos anos pelas irmãs

w PRESENÇA Coral Santa Cecília, regência do maestro Eduardo Mário

Padre Moisés de Matos profere Sermão das Sete Palavras Realizado na Sexta-feira da Paixão medita últimas palavras proferidas por Cristo dorotéias e a disposição do sacerdote escolhido para proferir o sermão no ano em que a Igreja de Belém celebra seus 300 anos de criação. “Irmãos e irmãs, responsabilidade de quem fala e de quem ouve, de quem reza, responsabilidade de todos nós que queremos ouvir e viver.

Deus nos conduza durante essas três horas e o Espírito Santo abra nosso coração, assim seja”. Para muitos presentes o Sermão das Sete Palavras é uma oportunidade única, dentro da semana santa, para meditar e absorver os ensinamentos deixados por Cristo na cruz. Ma-

ria Amélia da Silva, 65 anos, que conheceu a pregação através da irmã, busca todo ano se fazer presente na capela do Colégio Santo Antônio: “Toda Sexta- Feira da Semana Santa estou aqui. Sempre buscando meditar a caminhada de Jesus na Cruz e refletir suas palavras em

minha vida. Devemos observar tudo o que ele passou para trazer para nossa vida. O amor que Ele fez por nós, pela nossa salvação”. Natural de Belém, Padre Moisés foi ordenado em 03 de julho de 2016. No mesmo ano, assumiu a função de vigário no Santuário de Fátima.

Em 8 de janeiro de 2017 foi empossado como pároco da Paróquia Santa Maria Goretti, estando à frente até hoje. Ao iniciar a meditação, o pároco agradeceu o convite do Arcebispo, recordando que era o segundo mais jovem a proferir o sermão, sendo o primeiro o Cônego Vladian Alves.

SETE PALAVRAS. Padre Moisés iniciou sua meditação sobre a relativização da dor, pontuando que a sociedade atual prefere negar o sofrimento ao passo que Jesus em sua Paixão tem atitude totalmente oposta: “Nosso Senhor, ao contrário, não nega a existência do sofrimento ou tenta fugir-lhe, encara-o de frente, demonstrando que o sofrimento é parte intrínseca e inseparável da vida dos homens que nem o próprio Deus uma vez que se fez homem o quis evitar.” Na primeira palavra (Lc 23,34), em que o pedido de perdão do crucificado para seus perseguidores, Padre Moisés afirma que este perdão atinge os bons e os maus, sendo um convite atual para a avaliação da vida cristã. Na segunda palavra (Lc 23, 43), ao lembrar

w PREGADOR Padre Moisés do Socorro Lima de Matos

o bom ladrão que expressa as vontades da humanidade pela santidade e que, mesmo no último instante, a atitude de Jesus personifica a misericórdia de Deus que atinge a todos: “O bom ladrão torna-se para nós um símbolo de esperança, pois a misericórdia de Deus

pode nos alcançar no limiar de nossas aflições terrenas, no entanto é preciso uma aceitação radical por parte da gente, como fez o condenado. É preciso converter-se a Cristo, tornar-se cristão autêntico, significa receber um coração de carne, um coração sensível ao

sofrimento dos outros, como fez Jesus a esse homem”. Na terceira palavra, (Jo 19, 26-27) o sacerdote comentou a relação adotiva do discípulo amado para com Maria que representa a Igreja. Na quinta palavra (Jo 19, 28), Padre Moisés observa que as sete

palavras de Cristo na Cruz seguem o sentido inverso das petições presentes na oração do Pai Nosso. O gemido de sede dito por Jesus e a recusa do vinagre pelo mesmo, segundo ele, demonstram a vontade do Salvador de viver o sofrimento de forma plena e consciente. Por fim, na última palavra: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23, 46), Padre Moisés considera que Jesus foi verdadeiramente até o fim, realizou a totalidade do amor: “Por isso, não foi para brincar que Deus nos amou. Ele revestiuse dessa humanidade semelhante à nossa para ser um de nós e viver no meio de nós a nossa, de modo a ter além, da sua atividade eterna de Deus, uma atividade verdadeiramente humana.”

Preparação do 140º Sermão das Sete Palavras A organização da cerimônia do “Sermão das Sete Palavras” exige uma preparação minuciosa, com antecedência de aproximadamente três meses, envolvendo a elaboração da arte visual do evento (a Carta Programa, camiseta padrão da equipe envolvida, divulgação nas redes

sociais, etc), arte assinada pelo designer Charles Henrique Corrêa, com a devida aprovação do Arcebispo Metropolitano de Belém, Dom Alberto Taveira Corrêa. Além da apresentação visual, a programação requer também instalação de equipamentos de som e o preparo de alimenta-

ção para a equipe de trabalho no dia da cerimônia, envolvendo aproximadamente 20 pessoas. O ambiente para a escuta do Sermão é o Colégio Santo Antônio, que recebe limpeza minuciosa de todos os espaços com cuidado especial para a capela. Trata-se de um trabalho realizado

por seminaristas e grupos de jovens da Arquidiocese de Belém, como o Movimento “Sementes da Misericórdia”, da Basílica Santuário, e do Apostolado Jovem do Instituto Bom Pastor. Visando o êxito de toda a programação que lota todos os espaços em torno da capela, um grupo

de intercessão, composto por jovens, dedica-se a rezar pela realização da cerimônia, recitando orações pelo pregador, pelo coral e pelos fiéis que vão à capela acompanhar o sermão. Este ano a intercessão foi conduzida pelo Movimento “Sementes da Misericórdia”. O “Sermão das Sete

Palavras” integra a tradição católica da cidade de Belém, diretamente relacionado com a espiritualidade da Congregação das Irmãs de Santa Doroteia de Paula Frassinetti que, vindas de Gênova (Itália), chegaram a Belém em 1877, a convite do 10º Bispo do Pará, Dom Macedo Costa.


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