Dancituras da diferença na escola de dança de paracuru thais gonçalves

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hoje comporta duas salas de aula com barras e espelhos, dois escritórios, uma sala de vídeo com uma videoteca e biblioteca, uma cantina, uma sala de figurino e um quintal – espaço inaugurado em abril de 2006. Todo o mobiliário foi comprado com verbas da Petrobras, através da mesma linha de recursos. Assim iniciava a parceria da empresa com a dança em Paracuru. Na nova sede o trabalho ganhou mais fôlego, ao mesmo tempo em que a maneira de perceber a proposta artística e pedagógica passava por reordenações. Uma proposta que se desmontava e tornava-se suscetível de modificações no sentido de encontrar uma configuração mais própria, mais singular, de transitar de modo menos rígido por técnicas e métodos fixos e codificados. O encontro estabelecido entre Flávio Sampaio, os bailarinos da Paracuru Companhia de Dança e os alunos, trouxe desafios tão diversos para o conceito de corpo e de ensino que o diretor começava a sentir-se mais seguro para experimentar e até definir alguns procedimentos que surgiam na prática e se diferenciavam dos modelos já conhecidos. Essas mudanças não são datadas. As reflexões e práticas são processuais, traçadas em diálogo constante. Não estão dispostas em documentos escritos, mas em conversações. Na tentativa de construir minha cartografia com a Escola de Dança de Paracuru e a Paracuru Companhia de Dança, vou entrando e saindo dessa dança com meus pensamentos contaminados por essa prática. E traço uma incursão questionando o que teria tornado possível o balé clássico em Paracuru e a aceitação desta técnica entre pessoas que nunca haviam tido contato com esta modalidade da dança. Uma empreitada que nos remete à história do balé no Brasil40. Um país colonizado41 e habitado por europeus, com corpos miscigenados e várias etnias que por aqui encontraram espaço para viver, portanto com uma variedade anatômica de corpos considerável em relação à França e à Rússia, países onde esta técnica mais se desenvolveu como métodos a serem seguidos por cartilhas e por modelos corporais estereotipados. O diretor pondera que os professores de balé no Brasil não iam perder alunos por causa de uma configuração corporal que não seguia o padrão estabelecido por essas cartilhas. Para ‘dar um jeitinho’ de agradar as filhas das classes dominantes, público-alvo desta arte erudita

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Para um estudo mais aprofundado sobre a formação do balé no Brasil, consultar PEREIRA, 2003. Para uma discussão mais detalhada em torno da noção de corpo colonizado, consultar LEPECKI, 2003. 41


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