Mono flavia marques(issuu)

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desejava configurar um largo no acesso da cota baixa, ambos como extensão do tecido urbano. O tratamento que se desejava, de igualdade com os acessos das cotas, claro que cada um com resultados finais formais diferentes do outro, fez com que ao paredão fosse conferida uma importante condição arquitetônica, que fez engendrar mais ainda o permear público para permanecer e transpor no projeto. Uma estrutura que pendurasse as lajes de modo a não representar barreiras marcadas fisicamente nesses largos, e no restante do projeto, fez com que fossem usados tirantes em dois momentos de vigas protendidas, um na cobertura do projeto e o outro na altura da cota alta. Essa atitude liberava de estruturas os dois térreos tratando-os novamente por igual e ainda fazia conferir no restante do projeto a unicidade que tanto se desejava, dialogando com todo o discurso poético, onde o espaço não se fazia demarcado, apenas a ocorrência do tempo. Foram esses dois largos, dentro do pensar a diferença de cotas como um chão espesso público, que na verdade, todo esse chão se tornou um largo, e com isso, todo o desnível passou a ser extensão do tecido urbano, acentuado por um grande vazio interno, onde todas as lajes se entreolham e olham para a cota a baixa. O paredão, que tanto se assemelha em sua existência como artefato aos edifícios e infra-estruturas de transposição murados, tão criticados no estudo, desejava ter efeito contrário. Desejava-se que o paredão representasse em si um paradoxo, pois a disposição das lajes, os térreos livres de estruturas e as condições programáticas, que embasavam o projeto, se tornavam quase à parte do paredão, uma vez que mesmo com textura própria ele estava adjacente às laterais dos edifícios. É como se o paredão se dissolvesse nas pré-existências e conferisse ao projeto uma sensação de levitar e respirar meio àquele contexto tão pesado, marcado pela ausência de urbanidade. Já na cota alta, o paredão chega até o antigo limite dos loteamentos, estando no meio dos fundos dos terrenos da cota baixa. Deixando um pouco a poética urbana que esse paredão aposta em proporcionar, a parte funcional, interpretada nos primórdios da geografia, também foi motivo de tal recurso arquitetônico. Claro que se pode dizer que a funcionalidade de uma cidade está em sua urbanidade, mas a funcionalidade aqui se relaciona àquela condição de drenagem que a cidade, ao formar-se em um espigão central e platôs escalonados como calhas-eixos, conferia a si própria. Nesse sentido, na cobertura do projeto foram implantadas uma série de calhas que se encaminham aos paredões. Cada um dos paredões é duplo, concentrando em si tubulações, shafts e prumadas que recolhem as águas pluviais e que POSTURAS DOS PROCESSOS do fragmento à totalidade | do temporal ao espacial.

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