Anais do IV Encontro de Filosofia Analítica

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Mário Guerreiro

neste ou naquele estado, é capaz de produzir como efeito. Investigações cientificas costumam conduzir à identificação contingente da natureza destes mesmos estados. (Armstrong, 1981, pp. 15-6). Para Armstrong, os conceitos de disposição e de estado são bastante distintos, mas não incompatíveis. À primeira vista, uma crença pode ser concebida como uma disposição e ao mesmo tempo como uma impressão marcada na mente. Ele entende que as crenças particulares devem ser concebidas como estados, mas as crenças gerais devem ser concebidas como disposições. Para ele, há fortes diferenças entre disposições e crenças particulares. Uma destas diferenças entre disposições (como a solubilidade) e crenças particulares (como a de que a Terra é redonda) é que o conceito de disposição tem de envolver uma causa inicial de determinado tipo, que aciona o gatilho da manifestação. Um tablete de açúcar é considerado solúvel, porque se dissolve quando colocado em um líquido como a água. Porém o conceito de crença não parece envolver qualquer causa inicial responsável pela manifestação de uma crença determinada. Não há dúvida de que causas iniciais estão sempre presentes quando uma crença se manifesta, porém tais causas não desempenham nenhum papel especial relativamente ao conceito de crença. (Armstrong, 1981 , p. 16). Armstrong lembra que há muito tempo N. Chomsky tem chamado a atenção para a natureza independente de estímulos das sentenças produzidas pelos falantes. Para o mencionado lingüista, quando um falante produz uma sentença bem-formada e significativa, geralmente não há nenhum estímulo externo que tenha causado seu ato de produção desta mesma sentença. O que o falante costuma dizer é na maior parte das vezes determinado por seus particulares interesses e finalidades. As disposições são também independentes de estímulos, mas as manifestações das disposições dependem de estímulos, à medida mesma que dependem do acionar de uma causa inicial. As crenças gerais, no entanto, não dependem de quaisquer estímulos. Armstrong pede que consideremos a crença de que o arsênico é venenoso. Trata-se de uma crença geral, pois o termo do sujeito faz referência a uma substância (no sentido químico do termo). Nomes de substâncias químicas como o arsênico ou o cloro ou nomes de materiais como a madeira ou o ferro são considerados por P. F. Strawson (Guerreiro, 1986, pp. 97-9) como universais de massa. Na sua teoria dos universais (Armstrong, 1978) não empregou este termo técnico, nem defendeu o nominalismo mitigado proposto por Strawson, mas o fato de ele considerar uma proposição tal como "o arsê~ nico é venenoso" como uma proposição geral ou universal só pode ser justificado tendo como pressuposto que o termo sujeito, "o arsênico" é considerado como um universal de massa ou outro tipo de universal bastante seme-


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