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G N A R U S | 53 príncipes o direito de coagir aqueles que se desviassem da doutrina. Mas não se tratou de ato oportunista, previamente planejado. A esse respeito, Febvre insiste em lembrar que a história de Martinho Lutero não foi simples. Seu pensamento e sua vida foram complexos, tanto quanto o século em que viveu. Deixou-se usar pelos príncipes e burgueses, mas não se vendeu a eles. No fim da vida, ainda que se mostrasse melancólico, se manteve fiel à sua convicção interior, a de que Deus lhe revelara a misericórdia. Foi essa convicção que manifestou em Worms, na tarde de 18 de abril de 1521, quando se negou a revogar seus escritos: “Não posso nem quero revogar o que seja, porque agir contra a própria consciência não é seguro nem honesto, que Deus me ajude, amém!”. Esse foi o destino de Lutero: não renegar a sua descoberta interior, a fé que construiu a partir de sua experiência pessoal no mosteiro e nos bancos de Wittemberg, ainda que a política o tenha arrastado para as Reformas. Eis, por fim, a importância desse livro do grande Lucien Febvre: analisar o século XVI a partir de uma personagem de carne e osso, e demonstrar o quanto a história é imprevisível e humana, e, por isso mesmo, fascinante.

Patrícia Woolley Cardoso: Doutora em História pela UFF

e professora da Universidade Veiga de Almeida e das Faculdades Integradas Simonsen - RJ.

Lucien Febvre


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