G N A R U S | 142 todos os homens, responsável por suprir todas as
faraó deveria ter um tratamento especial após
necessidades da sociedade. Ele era o responsável
sua viagem para o outro mundo, devendo seu
pela manutenção de maat, a ordem cósmica.
culto ser mantido através das eras para que a
Os egípcios acreditavam que o poder do faraó era tão grande e ele era tão digno de reverência que não se podia nem mesmo chegar perto dele e muito menos tocá-lo ou em um de seus instrumentos e roupas. Caso isso acidentalmente ocorresse, somente o imediato perdão real evitaria a morte da pessoa. Dizia-se que a serpente que havia à frente da coroa real, o Uajt, cuspia o fogo solar sobre quem se aproximasse muito do rei sem autorização. Não se olhava diretamente para o rei e nem se lhe falava diretamente; ninguém falava ao rei, mas, sim, na presença do rei. Nem se referia diretamente ao rei; não se dizia “O rei ordenou.”, mas “Alguém ordenou.” Ou “A Grande Casa ordenou.” (Grande Casa é, em egípcio, per-aa, que originou a palavra faraó). Nem mesmo o rei falava diretamente de si como pessoa humana, não dizia “Eu desejo.”, mas “Minha Majestade deseja.”. Esse imaginário de divindade régia pode, novamente, ser observado em outros locais a África. Novamente, entre os iorubas, as pessoas para falar ao rei, precisam se prostar no chão,
harmonia
fosse
preservada.
estruturas
funerárias
colossais,
Construiu-se como
as
pirâmides, ou tumbas muito bem protegidas para abrigarem seus corpos. Templos de adoração foram construídos em associação com essas tumbas, onde o culto poderia ser mantido por um grupo seleto de sacerdotes. Tão importante era esse culto que ainda durante a XVIII dinastia o culto aos reis da IV era mantido. No complexo de Karnak está desenhado uma imagem do faraó Set I prestando o culto a todos os faraós anteriores, desde Narmer, enquanto seu filho e herdeiro, Ramsés (que se tornaria o grande Ramsés II), lê em um longo papiro os nomes de todos eles. Está escrito no mural que Set garantiria seu devido culto. O vizir e arquiteto real de Djoser, o famoso Imhotep, foi cultuado como divindade por ter construído o complexo mortuário de Djoser em Sakkara. Ele esculpiu tudo em pedra, mesmo portas e cortinas, culminando tudo com uma imensa pirâmide em degraus. O culto de Imhotep perpetuou-se por milênios no Egito e, mesmo, entre os romanos.
com a cabeça baixa sem olhar para ele. Muitos
A mumificação é outro fator a ser analisado.
reis iorubas usam uma cobertura de franjas sobre
Mumificar os mortos é um procedimento comum
o rosto, o ade, que serve para proteger as pessoas
a diversos povos até os dias de hoje. Pode ser que
do poder que emana de seu rosto.
os egípcios não acreditassem realmente que a
Para a mentalidade egípcia, os ancestrais deveriam ser cultuados, perpetuando a união e a harmonia entre os mundo material e espiritual. Assim o era entre vários povos africanos, como também entre os indígenas das Américas, entre os aborígenes da Oceania e entre os japoneses. Uma estrutura psíquica arquetípica natural do homem. Como senhor de todos os homens, o
preservação da alma dependesse da preservação do corpo, mas que a preservação do corpo garantisse um maior contato entre os homens e o antigo habitante daquele corpo. Embora a alma partisse para o reino da luz, a sua união com seu antigo corpo era preservada através do ritual da abertura da boca que a reconectava com o corpo preservado. A mumificação não era privilégio da