O outro lado do muro - uma viagem a Palestina

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FERNANDA CAMPAGNUCCI

palestinos. Comprei o guia logo naquele dia em um grande shopping center – durante o primeiro passeio que fiz com Gilad, de carro.

*

Um homem mandou o carro parar antes de entrarmos no estacionamento. Passou um detector de bombas embaixo do veículo. Depois, já na entrada do shopping, pediram que abríssemos nossas mochilas – procedimento obrigatório para todos que desejam entrar ali. Contei a Gilad, num tom meio irônico, que, só naquela manhã, já tinham me “controlado” várias vezes. Enquanto eu o esperava na estação ferroviária, por exemplo, fiquei lendo o jornal, ao lado de dois guardas, por pelo menos uma hora. Depois, passei sob seus olhos e saí pela porta de vidro, para usar um telefone público do lado de fora, a menos de dois metros. Quando voltei para dentro da estação, os mesmos guardas pediram para olhar minha mochila. “Isso tem em todo lugar”, disse Gilad, meio indiferente. “Você logo se acostuma”. Diante do meu silêncio, Gilad continuou. “O problema é a maneira como fazem isso, sem educação. Além do mais, se eu quisesse trazer uma bomba escondida em outro lugar eu traria, sabe?”, disse, apontando para o banco de trás do carro, onde o detector não acusaria a presença de explosivos. “É, pode ser uma maneira de deixar as pessoas mais tranquilas”, falei, sem certeza do que falava. Gilad concordou. Continuamos nosso passeio.

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