O que eu quero dizer é que provavelmente ainda está apensar no que dizer, como, quando e a quem o dizer. Primeiro tem de pensar nas consequências para ela própria: o potencial escândalo, a fúria do marido... O resto, atrevome a supor, não a aquece nem arrefece. Achas então que não dirá nada? Talvez tarde um ou dois dias. Mas não me parece que seja capaz de conservar um segredo assim às escondidas do marido. E quanto ao plano de fuga? Continua de pé? Mais que nunca. Alegrame ouvir isso. Porque agora é que me parece que isto não tem volta atrás. Os dias daquela semana passaram em lenta agonia. Julián aparecia todos os dias no colégio de San Gabriel com a incerteza a pisarlhe os calcanhares. Passava as horas fingindo estar ali, praticamente incapaz de trocar olhares com Miquel Moliner, que começava a estar tanto ou mais preocupado do que ele. Jorge Aldaya não dizia nada. Mostravase tão cortês como sempre. Jacinta não voltara a aparecer para ir buscar Jorge. O motorista de don Ricardo ia lá todas as tardes. Julián sentiase morrer, quase desejando que acontecesse o que tivesse de acontecer, que aquela espera chegasse ao fim. Na quintafeira à tarde, ao acabarem as aulas, Julián começou a pensar que a sorte estava do seu lado. A senhora Aldaya não tinha dito nada, talvez por vergonha, por estupidez ou por qualquer das razões que Miquel vislumbrava. Pouco importava. A única coisa que contava era que guardasse o segredo até domingo. Naquela noite, pela primeira vez em vários dias, conseguiu conciliar o sono. Na sextafeira de manhã, ao comparecer nas aulas, o padre Romanones esperavao no gradeamento. Tenho de falar contigo, Julián. Diga, senhor padre. Sempre soube que chegaria este dia e tenho de te confessar que fico satisfeito por ser eu a darte a notícia. Que notícia, senhor padre? Julián Caraxjá não era aluno do colégio de San Gabriel. A sua presença no recinto, nas salas de aula e até nos jardins ficava