Feneis Revista 40

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estado do Rio de Janeiro, e trabalho numa escola municipal de educação de surdos.

Superação A minha principal superação foi, sem dúvida, terminar a faculdade de Direito, em 2009. Sinceramente, em toda a minha vida, nunca tive dificuldades de viver no mundo dos ouvintes, mas quando ingressei na faculdade, comecei a ter a dificuldade de acompanhar as aulas, pois os professores eram completamente diferentes daqueles do colégio em que estudei. Quando eu estava na faculdade de Direito foi um sofrimento intenso porque não tive intérprete e porque não fui reconhecida como surda. Ou seja, na faculdade eles não sabiam o que fazer comigo. Quase larguei o curso, mas soube que havia ganhado uma bolsa integral do ProUni e por isso meus pais me motivaram a continuar estudando. O meu pai me ajudava com a explicação dos conteúdos que eu gravava durante as aulas. Depois que comecei a fazer as gravações minhas notas ficaram melhores. Essa estratégia era a única solução para que eu pudesse me informar e aprender melhor. No último ano acadêmico resolvi contratar uma intérprete de Libras por causa da monografia e da prova oral da OAB. A partir daquele momento tudo ficou mais claro para mim. Passei a participar ativamente das aulas e a explorar o conteúdo com perguntas. Confesso que foi uma experiência maravilhosa. Imaginem! No momento de receber o diploma, foi uma sensação diferente. Uma mistura de medo, devaneios, emoções fortíssimas, vitória e conquista para a comunidade surda. O diploma também é do meu pai, pois ele se empenhou bastante durante boa parte da minha faculdade ao estudar comigo enquanto escutava todas as aulas que eu gravava. Logo após ter um acidente vascular cerebral, meu pai disse que ia

DE SURDO PARA SUDO

reito porque é uma são que busca justiça e a igualdade” ficar vivo para me ver formar.

Infância Minha infância foi ótima e tive o apoio dos meus pais, mesmo depois de descobrirem a minha surdez quando eu tinha dois anos de idade. Eles foram buscar informações no Ines. A minha mãe fez o curso de Linguagem de Sinais (em 1988 se chamava assim) para estabelecer uma comunicação mínima adequada a mim e depois o meu pai aderiu à ideia de se comunicar em Libras comigo. Comecei a ter contato com os surdos nessa mesma época, aos dois anos de idade, quando entrei no Ines. Ou seja, estou na comunidade surda há 21 anos. Meus pais continuaram me apoiando, principalmente a minha mãe que sempre me encorajava a brigar por algo que não ia dar certo. Ela me dizia: nunca tenha medo, nunca revide quando te disserem “não”. O surdo pode fazer muita coisa. Gostaria de agradecer aos instrutores Fernando Valverde e Lúcia Severo por terem explicado a mim e aos meus pais como é o mundo dos surdos e as experiências que eles tiveram. Relato concedido ao jornalista Diogo Madeira, que transcreveu e editou o texto.

“Somos guerreiros surdos. Lutamos com garra. Nunca desistam dos seus sonhos. Nunca deixem as pessoas os subestimarem!” Priscilla Cavalcante


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