Minas Faz Ciência 68

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Expectativas multifacetadas Téo Scalioni Uma das mais temidas doenças de todos os tempos, o câncer tem sofrido importantes reveses. Devido ao vasto rol de pesquisas, e ao auxílio das tecnologias, inúmeros se revelam, hoje, os avanços na luta contra a enfermidade – da prevenção à realização de diagnósticos mais precisos, além de cirurgias mais assertivas e medicamentos que atacam apenas as células tumorais, ou as impedem de se espalhar e gerar metástases. Em 2016, boas notícias pipocaram em anais de revistas científicas, com a divulgação de promissoras pesquisas: uma delas foi realizada na Alemanha, onde cientistas do Instituto Max Planck e da Universidade Goethe acreditam ter descoberto o mecanismo de migração do câncer – ou o porquê e o modo como os tumores se espalham. Eles pretendem impedir que a metástase – quando células individuais se separam do tumor principal e entram no sistema circulatório – aconteça.

Vacinas Outra novidade, publicada na revista Nature, refere-se a uma vacina universal contra o câncer. A substância estimularia o sistema imunológico a produzir células capazes de atacar os tumores, como se fossem vírus. O que a difere de outras vacinas é que será usada em pessoas já doentes. Testes foram realizados em ratos e em três pacientes humanos. No primeiro homem, o tumor diminuiu de tamanho após a aplicação. Em outro, cuja área fora removida em cirurgia, a cura veio em sete meses. Por fim, o terceiro permaneceu clinicamente estável.

Novos tempos Segundo o professor André Márcio Murad, diretor clínico da Personal (Oncologia de Precisão e Personalizada) e coordenador do Serviço de Oncologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), os avanços no combate ao câncer ocorrem em diferentes frentes, “do entendimento das causas da doença a formas mais adequadas de prevenção e rastreamento. Também o diagnóstico e o tratamento passam por extraordinárias mudanças”.

Quanto às cirurgias, o tratamento tem ficado menos agressivo e mais seguro, o que resulta em maior preservação dos órgãos envolvidos. Tudo isso graças às intervenções vídeo-assistidas e/ou robóticas, com caráter minimamente invasivo – e consequente diminuição da dor, do sangramento e da medicação analgésica pós-operatória. “Nos EUA, o câncer de próstata já é tratado, em cerca de 80% dos casos, por via robótica”, observa. Os exames diagnósticos de imagem também avançaram. Além de ressonâncias magnéticas, é essencial, hoje, o aparelho de Tomografia por Emissão de Pósitrons, acoplado ao de Tomografia Computadorizada (PET/CT). Diferentemente das radiografias ou tomografias convencionais, que buscam a visualização da estrutura do corpo e a identificação de lesões, trata-se de exame funcional, realizado em nível molecular. “Tal método permite um estadiamento mais correto dos tumores, para precisar a extensão e evitar cirurgias”, explica Murad. “A introdução de novas tecnologias de imagem da Medicina Nuclear no Sistema Único de Saúde (SUS) foi outra grande conquista”, reforça o professor Marcelo Mamede, subchefe do Departamento de Anatomia e Imagem da Faculdade de Medicina da UFMG, que lamenta o fato de o SUS não cobrir todos os métodos. Coordenador de pesquisa centrada no uso de radiofármacos (agentes radioativos) PET para o diagnóstico, ele acredita no uso do método de imagem da Medicina Nuclear em larga escala. “Temos testado a metodologia em pacientes com câncer de próstata. Os dados mostram-se positivos, no que tange ao estadiamento e ao acompanhamento dos pacientes”, acredita, ao reforçar que os exames visam ao diagnóstico precoce do câncer. Também a radioterapia tem se tornado mais precisa, eficiente e menos sujeita a riscos, como queimaduras a órgãos vizinhos à área tratada. Isso é possível, hoje, devido às tecnologias de 3D, 4D e de Intensidade Modulada de Feixes (IMRT). A radioterapia estereotáxica, por exemplo, permite irradiar, precisamente, um tumor no pulmão e no fígado, mesmo com os movimentos respiratórios do paciente. Já a radiocirurgia é empregada para administrar altas doses de irradiação, por exemplo, em tumores cerebrais.

MINAS FAZ CIÊNCIA • DEZ 2016/JAN/FEV 2017

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