Minas Faz Ciência 54

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“Uma narrativa transmedia pode nascer numa História em Quadrinhos e expandirse a um videojogo, ao cinema, a um romance (ou vice-versa). Por sua vez, participa ativamente dessa expansão parte importante dos consumidores, os quais terminam por converterse em “prosumidores”: consumidores e produtores textuais ao mesmo tempo”

às atuais possibilidades de “alongamento” das “histórias” que contamos, a partir, principalmente, de um cânone, mas – sempre – por meio das novas tecnologias. Em suas aulas, porém, o senhor cita o caso da Bíblia, documento que, ao longo do tempo, transmutou-se numa série (infinita, ao que parece) de narrativas. Neste sentido, pergunto-lhe: seria realmente possível dizer que o livro sagrado dos cristãos seja uma espécie de experiência milenar de narrativa transmedia? A tecnologia – e, principalmente, a presença da internet – não seria vital à definição de tal processo? O relato cristão cumpre os critérios

ção transmedia deveria abarcar diferentes meios e linguagens. Não é à-toa que muitos intelectuais defendam os chamados polialfabetismos: não basta saber ler e escrever! É preciso aprender a expressar-se em outras linguagens como a audiovisual! Ademais, uma educação transmedia deveria recuperar os conteúdos gerados pelos estudantes e utilizá-los nos processos de ensino-aprendizagem. A educação transmedia deveria ser mais polifônica e participativa.

para ser considerado uma narrativa transmedia: é uma história que se contou por meio de diferentes meios ao longo da história (livro, iconografia popular, vitrais das igrejas etc). Além disso, aparecerão novos personagens (santos, mártires etc.) e os usuários darão suas contribuições (ex-votos, relatos de milagres e aparições etc.). Agora, as redes digitais permitem que as narrativas transmedia se expandam a muitos outros espaços de comunicação, como páginas web, redes sociais, mas, sobretudo, são um lugar privilegiado para que os usuários compartilhem e distribuam seus conteúdos. Sites como YouTube ou Fanfiction.net são espaços fundamentais para que os usuários se expressem e expandam seus relatos preferidos. O senhor também investiga o uso de recursos transmedia como iniciativa auxiliar aos processos pedagógicos e educacionais. Neste sentido, poderia, por favor, comentar resultados de suas pesquisas na área? Arrisco-me, inclusive, a lhe perguntar de modo direto: de que modo enxerga o futuro da educação no mundo? A educação segue sendo, em grande parte, monomidiática. A escola, em muitos lugares, segue girando em torno do livro: é uma educação livro-cêntrica. Por outro

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lado, as produções textuais dos alunos servem apenas para avaliá-los, e não se reutilizam dentro do sistema. Uma educa-

MINAS FAZ CIÊNCIA • JUN/JUL/AGO 2013

Ainda em relação aos processos educacionais, seria possível afirmar que as novas tecnologias tendem a facilitar o processo de aprendizado e/ou de aprimoramento linguístico e intelectual de crianças e adolescentes? De que modo, hoje, tais recursos (plataformas, dispositivos, serviços etc.) influenciam – do ponto de vista cognitivo, principalmente – a forma como estudantes “consomem” e/ou “absorvem” conteúdo simbólico? Cada momento da história da humanidade tem sua própria tecnologia educativa: a tabuleta de cera, a ardósia, o livro. Hoje, estamos na era das telas interativas e das redes digitais. Isto, evidentemente, muda os atores que participam do processo de ensino-aprendizagem (não é o mesmo numa geração que cresceu lendo livros e outra que cresceu com a Wikipedia e The Sims) e afeta as dinâmicas educativas. As instituições educativas, como sempre, tardam em adaptar-se a estas transformações. A atitude natural da escola é rechaçar as novas tecnologias. Até que consiga domesticá-las e incorporá-las ao dispositivo educativo. Nisso estamos. Que dados quantitativos, acerca do uso de novas tecnologias, o senhor ressal-


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