Mundo Contemporaneo Ediçao 1

Page 4

PORTUGAL

O PRESIDENTE OBSTINADO

O percurso político de Cavaco Silva até chegar à Presidência da República Portuguesa. Por ADRIANO NARCISO

A

níbal António Cavaco Silva completou no dia 9 deste mês o terceiro ano de mandato na função de Presidente da República. Caracteriza-se como um homem persistente e foi essa uma das razões que o tornaram no político que durante mais tempo encabeçou o governo, depois do 25 de Abril. É essa possivelmente uma das muitas razões que o tornaram durante esta sua passagem por Belém num Presidente muitas vezes criticado pela sua intervenção crítica junto do Executivo, vista por muitos como um atentado ao conceito de coabitação cooperante, ou pacífica, entre Governo e Presidente. Nasceu em 1939 em Boliqueime, concelho de Loulé, e rumou para Lisboa a fim de frequentar o curso de Finanças no Instituto de Ciências Económicas e Financeiras (actual ISEG), curso que terminou em 1964. Dois anos depois era professor na mesma instituição. No ano da revolução terminou o Doutoramento em Economia na Universidade de York, no Reino Unido. De regresso à capital portuguesa, desempenhou várias funções na Universidade Nova de Lisboa, na Universidade Católica e foi director do Departamento de Estudos Económicos no Banco de Portugal. Foi no Executivo conduzido por Francisco Sá Carneiro que o 4

economista se estreou na carreira política, em 1980, desempenhando o cargo de Ministro das Finanças e Plano. A duração deste cargo foi encurtada pela morte do PrimeiroMinistro e Cavaco Silva recusou continuar no segundo governo, liderado por Francisco Pinto Balsemão. Mas mesmo tendo sido uma passagem efémera, Cavaco alcançava já uma reputação de economista liberal. No dia 2 de Junho de 1985 foi eleito presidente do PSD durante o congresso da Figueira da Foz. No dia 6 de Novembro do mesmo ano, o PSD venceu as eleições legislativas, embora não tivesse tido uma vitória folgada, graças ao Partido Renovador Democrático (PRD), que alcançou durante essas legislativas alguma notoriedade, tendo o apoio de várias personalidades importantes da política nacional. Iniciou-se neste ano a década do cavaquismo, na qual Cavaco teve tempo para pôr em prática as ideias que não tinha podido concretizar plenamente durante a sua passagem pela pasta das Finanças. Ideais importados do Reino Unido, onde a ‘dama O novo Ferrari F-60 de ferro’ impressionava pelo

seu pragmatismo e polémica. Cavaco não foi excepção. Os cortes nos impostos e a liberalização económica, incluindo privatizações de empresas públicas, deram origem a um crescimento económico bastante significativo, facto que fez subir a popularidade do PrimeiroMinistro luso. Mas o governo, inibido por uma assembleia onde reinava a oposição, não tinha sustentabilidade para fazer valer as suas posições. Só podia contar com o apoio do CDS, ou seja, 22 votos que se juntavam aos do PSD e perfaziam 110, menos 16 que a maioria absoluta. Foi uma questão de tempo até três partidos aprovarem, em 1987, uma moção de censura ao governo e levarem à sua queda, forçando o Presidente


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.