A lógica dos devassos: no circo da pedofilia e da crueldade

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pais e entre pais e filhos, compreende-se a origem da tragédia e a importância de reatualizar de imediato os conceitos sobre a «maldade materna» e sobre a «maldade paterna».27 Compreende-se porque Clitemnestra pode ser considerada, de uma vez por todas, o arquétipo de todas as nossas mães e de todas as nossas mulheres,28 e porque Urano pode ser considerado o arquétipo de todos os nossos pais e de todos os nossos homens. Se a psicanálise tem demonstrado que levamos dentro de nós, ao lado da imagem de uma mãe boa, outra terrorrífica, que mata, destrói e come o filho... outros estudos também especulam com a possibilidade do pai assassino ser essencial à paternidade.29

27 Géza Róheim afirmava sem receio de que não havia instinto paterno e que o ódio inconsciente do pai pelos filhos é sempre muito grande. “O pai vê nos filhos um rival no amor de sua esposa e um representante de sua própria culpabilidade edipiana...” Citado por Hays, p.30. 28 Os poetas, apesar da frivolidade de sempre e da repetitiva simbiose com a mãe, de vez em quando deixam escapar algumas denuncias: “As mães sem coração rogavam pragas aos filhos bons. E eu, roído pelos medos, batia com o pentágono dos dedos sobre um fundo hipotético de chagas...” (Augusto dos Anjos) 29 Enquanto relia esta página, os jornais divulgavam a Operação Hamlet, coordenada pela polícia da Dinamarca, que prendeu nos USA e na Europa uma rede de pais pedófilos que trocavam entre si e que disponibilizavam na internet fotos eróticas de seus próprios filhos de 02 a 14 anos. De Luca menciona o Faraó Queops que, por necessidade de dinheiro, colocou sua filha num mercado prostitutivo. A menina exigia de cada cliente uma pedra, com as quais foi construída mais tarde a pirâmide que leva o nome desse déspota.


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