O CEREBRO COM FOCO E DISCIPLINA - RENATO ALVES

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Aliás, foi isso que os uniu: ambos gostam de receber elogios e também se elogiam com sinceridade. A aprovação social os incentiva a comprar mais e mais. Eduardo tem uma coleção de mais de cinquenta relógios, organizados em cinco belas caixas pretas revestidas de couro. Toda manhã ele faz questão de abri-las, uma a uma, sobre a cama. É um doce ritual diário, que suga seu tempo e sua energia. Eduardo também faz parte de um grupo de amigos colecionadores de relógios. É uma tribo que alimenta o ego em conversas animadas sobre marcas, detalhes e lançamentos. Tem sempre alguém no grupo mostrando um novo modelo, sempre alguma novidade superelogiada que leva os amigos a também investirem mais em suas coleções. Assim, escolhas erradas começam, agora, a criar um estilo de vida difícil de sustentar, afinal, quem tem um bom relógio, também tem uma boa pulseira. Quem tem uma boa pulseira também tem um bom colar. Quem tem um bom colar não pode se vestir de qualquer jeito e por isso escolhe ter um bom par de sapatos, uma calça da moda, uma roupa de grife, um corpo perfeito, um rosto juvenil etc. Cada aquisição gera uma nova necessidade. Nosso personagem faz parte de uma sociedade de consumo que paga por aquilo que deveria ter de graça, ou seja, paz mental. Uma sociedade que capricha na embalagem e se esquece de valorizar o conteúdo. Eduardo se tornou uma das pessoas que vinculam sensações de prazer àquilo que possuem, não àquilo que são. Uma dependência psicológica que faz com que as pessoas se sintam cada dia mais pressionadas e infelizes. São pessoas que não conseguem mais perceber que o vazio preenchido talvez por um elogio traz um enorme sacrifício, grande endividamento e ambiente mental caótico repleto de distração. O que apresento neste livro é o autocontrole. É o seu poder de lucidez aplicado todas as vezes que deve tomar uma decisão. Questione-se: quais critérios usa para fazer suas escolhas? Por exemplo, é histórico ouvirmos os homens reclamando que as mulheres demoram demais para se arrumar, ao contrário deles, que sempre foram mais objetivos ao se vestir, deixando de lado a vaidade e apelando para a praticidade: uma calça, uma camisa, uma olhada no espelho e pronto. Em cinco minutos um homem costumava estar pronto para ser padrinho de casamento, e as mulheres sempre ficavam com o ônus do atraso para a festa. No entanto, no início da década de 1980, estilistas como Calvin Klein elevaram a objeto de desejo o status da moda masculina, que até então era formada por roupas funcionais. Assim, campanhas publicitárias começaram a propagar a ideia de que os homens também deveriam se vestir bem. Resultado: hoje vivemos uma explosão da vaidade masculina que vai do cuidado com as peças íntimas até os sofisticados tratamentos estéticos. Essa nova realidade tem igualado os papéis do homem e da mulher


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