"Bachelard", de Vincent Bontems

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Introdução

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Não é desvalorizador que tal pensamento, antes de tudo estudioso, seja considerado como “escolar” — com a condição de jamais ser confundido com uma reflexão escolástica. As considerações de ordem pedagógica na obra de Bachelard estão intimamente ligadas com sua percepção do valor da novidade, sejam movimentos literários ou teorias científicas, e com seu cuidado em defendê-los contra as assimilações abusivas às formas fixas ou retrógradas. Assim, a cientificidade consiste, aos seus olhos, muito mais no esforço para se livrar de antigas concepções em proveito de outras mais justas que numa organização lógica e coerente do saber. Bachelard presta mais atenção à transmissão do saber que à sua fundação, dado que o sentido de um conceito nunca é tão claro como quando ele se retifica: É aí que é escrita a história dinâmica do pensamento. É no instante em que um conceito muda de sentido que ele tem mais sentido, é então que se torna, verdadeiramente, um acontecimento da conceptua­lização.16

Isso vale em todos os níveis, tanto para o pesquisador que amplia os horizontes da ciência quanto para o aluno que nela dá seus primeiros passos: o espírito científico progride sempre por uma retificação de seus conhecimentos que permitem sua extensão. O espírito só compreen­de também sua progressão, nos dois casos, a posteriori. O estudo do progresso deve ser ao mesmo tempo psicológico e filosófico. A análise bachelardiana é uma dinâmica: ela compreende as imagens e os conceitos se­guin­do-os através de suas trans­formações. 16. G. Bachelard, Le Nouvel Esprit scientifique, Paris, PUF, 1983, p. 56. [Ed. bras.: O novo espírito científico, trad. Juvenal Hahne Júnior, Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1985.]

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