Revista Reformador de Agosto de 2003

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A FEB E O ESPERANTO

Babel Européia Affonso Soares

ranscrevemos abaixo uma matéria publicada na edição de 21/11/02 do conceituado jornal “O Estado de São Paulo”, segundo a qual não há mais como alimentar qualquer dúvida sobre a magnitude dos prejuízos com que o problema lingüístico mundial vai entravando o progresso da Humanidade e cuja solução definitiva já se encontra entre nós desde 1887, quando surgiu o Esperanto. Eis o texto, na íntegra:

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“BABEL EUROPÉIA” CONTRATARÁ 166 INTÉRPRETES PARA CADA IDIOMA Com as 28 línguas que serão usadas na União Européia, em 2007, cabines ficarão superlotadas GILLES LAPOUGE Correspondente PARIS – O Parlamento Europeu, com sede em Estrasburgo, na França, realizou anteontem uma sessão estranha. Estrasburgo convidou representantes dos dez países que deverão entrar na União Européia em 2004, com os países que deverão entrar em 2007. Nenhum comentário. Houve 26

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pouco interesse. Com exceção desta preocupação considerável: como se fará a comunicação entre os integrantes em Bruxelas, onde fica o “executivo” da UE, ou em Estrasburgo, quando a União contar com 25 (ou 28) membros que falarão 21 (ou 28) línguas diferentes? Uma solução simples teria sido a de optar por duas ou três línguas: as que são entendidas pelo maior número de membros. Escândalo! Isso seria introduzir hierarquias entre os europeus. Haveria os “grandes” – os ingleses, os franceses e, talvez, os alemães; nações superiores, dominantes – e os pequenos: gregos, tchecos, poloneses; que seriam obrigados a “viver de empréstimos” lingüísticos, a expressarem-se em uma língua estrangeira. Isso seria, significaria, o fim da Europa. Portanto, a regra é que cada um pode expressar-se na própria língua. Dito assim, parece ser uma coisa sensata. Mas, se atentarmos para os efeitos desta regra, o que encontraremos? Uma mixórdia, um “quebra-cabeças”, um grande embrulho! Vejamos as coisas como matemáticos. Numa Europa com 12 membros, como acontece atualmente (com 9 línguas), as combinações lingüísticas (um francês falando para um inglês, um alemão, e assim por diante) são 72. Numa Europa com 25 membros (21 línguas) já aumentamos para 420

combinações. E, em 2007, quando a Europa tiver 28 membros (24 línguas), as combinações lingüísticas se elevarão a 552. Em termos concretos, quais são as conseqüências? As cabines de intérpretes estarão superlotadas, cheias até à boca. Serão necessários 20 intérpretes por cabine para cada reunião. Bruxelas já prevê a contratação de 110 tradutores e 40 intérpretes para cada língua, que virão juntar-se aos 2000 funcionários já em exercício. Em Estrasburgo, será preciso recrutar 166 pessoas para cada língua. E não há apenas a palavra. Há também o texto escrito. Novo drama! Apenas a “conquista comunitária”, isto é, a soma dos textos legislativos, conta com 80.000 páginas, às quais se juntam os documentos preparatórios. É uma biblioteca colossal, traduzida para mais de 20 idiomas. Em resumo, a Europa vai tornar-se uma espécie de biblioteca enorme e tentacular. A administração desta “biblioteca de Babel” irá pesar no orçamento da UE. Desagradável, mas, afinal, a UE já desperdiça tantos bilhões... O mais preocupante é a previsível lentidão de todos os processos, de toda ação. A União Européia, já lerda e pesada, corre o risco de tornar-se uma espécie de grude, de cola pegajosa. A futura UE, mais ou menos Reformador/Agosto 2003


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