trazidas. Eis a vantagem de um lance teatral natural e verdadeiro em uma cena eloqüente, ele realiza bruscamente o que a cena faz esperar; mas sua ilusão é muito mais difícil de produzir; um incidente falso, mal representado, a destrói. Os acentos são melhor
imitados
que
os movimentos,
mas os
movimentos
impressionam mais violentamente. Eis o fundamento de uma lei para a qual não creio haver exceção, é a de solucionar por uma ação e não por um relato, sob pena de ser frio. Pois bem, nada tendes a objetar-me? Eu vos ouço; procedeis a um relato em sociedade; vossas entranhas se comovem, vossa voz se entrecorta, chorais. Vós sentistes, dizeis, e sentistes mui vivamente. Convenho; mas vos preparastes para isso? Não. Faláveis em versos? Não. Entretanto, arrastastes, espantastes, tocastes, produzistes grande efeito. É verdade. Mas transportai ao teatro vosso tom familiar, vossa expressão simples, vosso porte doméstico, vosso gesto natural e vereis quão pobre e fraco sereis. Em vão derramareis lágrimas, sereis ridículo, as pessoas rirão. Não será uma tragédia, mas uma farsa trágica que representareis. Credes que as cenas de Corneille, de Racine, de Voltaire e mesmo de
Shakespeare
possam
ser
recitadas
com
vossa
voz
de
conversação e com o tom que adotais ao canto de vossa lareira? Não mais do que a história do canto de vossa lareira com a ênfase e a abertura de boca do teatro. SEGUNDO — É porque talvez Racine e Corneille, por grandes homens que fossem, nunca fizeram nada que valha. PRIMEIRO — Que blasfêmia! Quem ousaria proferi-la? Quem ousaria aplaudi-la? As coisas familiares de Corneille não podem sequer ser ditas em tom familiar. Mas uma experiência que, por certo, repetistes cem vezes, é que no fim de vosso relato, no meio da perturbação e da emoção