Revista Agro DBO - Ed 38 - Outubro/2012

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Artigo

Cana e ambiente Ao contrário do que se diz, a cana-de-açucar colabora com a mitigação do efeito estufa, superando os impactos ambientais negativos Decio Luiz Gazzoni*

A

agrricultura e alterações no ambiente são gêmeos siameses, convivendo desde que o homem de Neanderthal pela primeira vez plantou uma roça. A cana-de-açúcar apresenta interações positivas e negativas com o ambiente, sendo o consumo de água, o uso de fertilizantes e a participação da cultura na dinâmica dos gases de efeito estufa os principais aspectos. Por ser a matéria prima do etanol, um combustível amigável ao ambiente, a cana gera a expectativa de colaborar com a mitigação do efei-

plantada e do volume de água consumido, diminuindo os impactos ambientais. Dentro da usina, o consumo de água se reduziu de 5,6 m3 para 1,8 m3, por tonelada de cana processada, nas duas últimas décadas. Por lei, as novas plantas industriais que se instalarem em São Paulo podem consumir, no máximo, 1 m3 de água por tonelada de cana processada. Em linha com a lei, a indústria Dedini dispõe de tecnologia que permite o fluxo de água em circuito fechado, reduzindo a zero a necessidade de água adicional nas usinas! A cana-

A cana utiliza menos água que a soja ou o café, em relação ao volume de biomassa produzido.

* O auto é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja

to estufa, superando os seus impactos negativos sobre o ambiente. Com plantações concentradas em áreas com boa distribuição de chuvas, embora apresente alta resposta à irrigação, a técnica é pouco utilizada. Os resultados demonstram que a cana utiliza menos água que outros cultivos, como soja ou café, em relação ao volume de biomassa produzido por unidade de área. A alta resposta da cana à irrigação foi demonstrada pelo pesquisador Marcos Landell (IAC, Ribeirão Preto), que desenvolveu uma variedade com produtividade superior a 300 t/ha, cultivada em condições ideais de suprimento de água e nutrientes. A vantagem desta alta produtividade é reduzir a expansão da área

-de-açúcar consome apenas 13% do adubo utilizado no Brasil. Os fertilizantes nitrogenados são altamente solúveis, sendo lixiviados para as camadas sub-superficiais do solo. O excesso de fósforo provoca a eutrofização, que é a proliferação de algas na água. Assim mesmo, as avaliações disponíveis indicam que estes problemas são de baixa magnitude no Brasil, comparativamente aos EUA, Europa ou Japão. Subprodutos contaminantes, como a vinhaça, não podem ser jogados em rios e são reaproveitados como fertilizantes, sendo submetidos a limites de aplicação para evitar contaminação do solo. Em 2008, com produção semelhante de etanol no Brasil e nos EUA, a cana brasileira con-

sumiu 910 mil toneladas de adubo, muito abaixo dos 2,8 milhões de toneladas empregados na produção do milho norte-americano destinado à produção de etanol. Contribuindo para reduzir as emissões, a Embrapa desenvolveu a tecnologia de bactérias simbiônticas, fixadoras de nitrogênio, que podem diminuir em até 50% o uso de adubos nitrogenados minerais na cana. Os fertilizantes nitrogenados liberam óxido nitroso (N2O), que é 300 vezes mais potente que o CO2 na contribuição para o efeito estufa. O CO2, também compõe a avaliação ambiental da cana, pois há mais carbono na camada superficial do solo do planeta do que na atmosfera. Isso faz com que qualquer atividade de manejo do solo seja uma potencial liberadora de CO2. A estrutura da planta de cana concentra a parte seca e mais rica em carbono na porção inferior e na raiz do vegetal, o que mantém o CO2 sob o solo. A colheita da cana crua, sem queima, pode aumentar o teor de carbono na terra. A legislação do estado de São Paulo prevê a extinção da colheita com fogo até 2031. Além de manter a palha no campo, a cana crua não libera o CO2 por queima da palhada residual. Finalmente, os dois principais produtos da cana, a sacarose e o etanol, contêm somente carbono, hidrogênio e oxigênio, ou seja, boa parte dos minerais contidos nos fertilizantes pode ser reciclada, permanecendo no campo, reduzindo a contaminação ambiental. outubro 2012 – Agro DBO | 47


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