1. JOÃO FACÃO, 2024
Pintura acrílica sobre porcelana fria, pedraria e cerâmica. 21 x 22cm
2. OBJETO HEREDITÁRIO 1, 2022
Pedras, pedraria, cerâmica e mármore. 30 x 12cm
3. BREJO, 2021
Tear de miçanga e cerâmica. 24 x 15cm
4. OCA, 2024
Bordado sobre tela. 92 x112cm
5. CRISTALEIRA HEREDITÁRIA, 2023
Colagem sobre papel com pintura acrílica. 32,5 x 22,5cm
6. UM MILAGRITO, 2021
Tear de miçanga, pedraria, pedras, milagrito, tecido e madeira. 34 x 22cm
7. ALDRAVA, 2023
Pedraria bordada sobre tecido e franja de miçangas.
33 x 25cm
8. 31 QUILÔMETROS, 2024
Ferro, papel machê, tinta acrílica, pigmento marroquino e pedraria.
250 x 58 x 33cm
SOBRE AFOGADOS DO INGAZEIRO
CÓDIGO POSTAL 56800-000
Destinatário: São Paulo, Brasil
Remetente: Bogotá, Colombia
Não tenhas nada nas mãos Nem uma memória na alma, Que trono te querem dar Que Átropos não te tire?
— PESSOA
Átropos, uma das três mulheres tecelãs, junto a Cloto e Láquesis, reside no poema grego das Moiras: as deusas dos fios, portadoras da trama. Tecem para medir o comprimento da vida; tecem para compor o padrão das fibras sobre o destino e tecem para cortar de uma vez o fôlego.
Átropos, Cloto e Láquesis poderiam ser sua avó, sua mãe e você e esse resultado, em artesanato e criado com o calor da palavra, de uma constelação para prender a memória familiar que foi apagada. Essa é a obra: criações cozidas, tecidas em miçanga, a semente indígena para unir contas entre etnias.
Seu avô nasceu em Afogados da Ingazeira, em Pernambuco, cuja pronúncia sua avó mudou por adaptações do legado oral, então dizia Ingazeiro. Pelo menos ali estava no seu registro de nascimento, apesar dos dados imprecisos que essa geração levava em seus bolsos.
Depois de se deslocarem por diferentes cidades no interior de São Paulo, sua mãe ia buscar barro no rio quando o pai dela saia para as plantações de algodão ou para o trabalho temporário. E essa matéria prima era levada para sua avó para um forno que ela montava no quintal para fazer tigelas de cerâmica, vendê-las e alimentar-se.
Além dessa recordação, herdou uma tigela. A mesma que provocou um inventário de cerâmica, a cristaleira hereditária forjada em miniatura. Essa colagem de peças construídas com miçangas da Colômbia e Brasil é também a cena da sua mãe pelo rio e sua avó no forno feito matéria, a cocção que cobrou um lugar na vitrine imaginada.
E existe outro quadro que regressa à sua infância: um banco junto a uma árvore com sementes e sem frutos sobre um solo árido terracota. E esse você pintou à frio, o secou ao ar e pelas suas andanças, o tom e a temperatura da terra cozida é com pigmentos marroquinos.
A arte do tingimento ou pintura em objetos e roupas, a propósito, possui o conhecimento oculto da composição, a mistura delicada entre brilho e matiz, mas também o dom de plasmar o relato que gritam ou ocultam. Assim
como os pigmentos de Marrocos; no Egito e Sri Lanka, desde séculos, receberam madeira brasileira em portos árabes para tingir os novelos de vermelho. Nossa selva.
As sementes ou miçangas indígenas se converteram, desde séculos, em peças checas que a República homônima replicou a partir de cristais de vidro fundidos a altas temperaturas que a Europa usava como moeda de troca.
Que mapas afetivos existem no tecido de seda Tailandesa bordada que foi usada por indígenas mexicanas para o vestuário? Que mapas afetivos existem onde os padrões geométricos de diversas culturas comunicam como fractais os legados espirituais entre culturas? Isso se deixa ver com a cortina de caracol ou figueira, com um suporte de papel machê e milhares de grãos férteis, as miçangas, atados pela sua mãe que teceu o que suas mãos sabem em mais de dois metros de comprimento. O vórtice da paciência.
Como muitas famílias de lugares colonizados, essa exposição é uma tentativa de documentar o que não está documentado e honrar o que o caminho te trouxe. Atando e desatando, aprendestes a transitar e costurar entre vozes generosas, como a mulher na praça central de Letícia, a cidade do Trapézio Amazônico.
Por isso essa obra é também um porto das suas andanças geográficas e afetivas e um lugar pessoal de experiência. Inspirada em filosofias de raízes africanas, você faz com que predomine a linguagem de Cosme e Damião em azul e rosa. Ambos evocam uma linguagem que se desvanece: um abecedário poderoso que captura a inocência; a eterna contra corrente e cura anímica para zarpar a cada porto.
Enquanto as vogais desbotam no jogo americano da sua infância ( X de um precioso xilofone; A de arcoiris; B de barco ; C de cada ; D de Dado…),escrevo isso para que pelo menos nós não nos esqueçamos de que o fervor pelo ancestral levou você a replicar a memória do seu passado. Que o seu gesto de resistência te levou a padrões de bordados Palestinos no mesmo tecido.Que o que está aqui, neste espaço, é artesanato suficiente para perceber você como uma Moira da vida. Tudo isso, amiga, são as urdiduras do seu trânsito e isso é muito mais que sua oferenda de cura.
Por isso, Senta-te ao sol. Abdica E seja a rainha de ti própria.
MANUELA SALDARRIAGA H. Jornalista colombiana
A NOSSA HISTÓRIA É FUNDANTE
A NOSSA
GENEALOGIA É SAGRADA
CARTA ORIGINAL:
SOBRE AFOGADOS DO INGAZEIRO
CÓDIGO POSTAL 56800-000
Destinatário: São Paulo, Brasil
Remitente: Bogotá, Colombia
No tengas nada en las manos ni una memoria en el alma ¿Qué trono te quieren dar que Átropos no te quite?
— PESSOA
Átropos, una de las tres damas tejedoras, junto a Cloto y Láquesis, reside en el poema griego de las Moiras: las diosas de los hilos, portadoras de la trama. Tejen para medir la longitud de la vida; tejen para componer el patrón de fibras sobre el destino y tejen para cortar de un tajo el aliento.
Átropos, Cloto y Láquesis podrían ser tu abuela, tu madre y tú y este el resultado, en artesanía y creado al calor de la palabra, de una constelación para prender la memoria familiar que ha sido apagada. Eso es esta obra: creaciones cocidas, tejidas y en chaquira, la semilla indígena para unir cuentas entre etnias.
Tu abuelo nació en Afogados da Ingazeira, en Pernambuco, cuya pronunciación cambiaba tu abuela por las adaptaciones del legado oral, entonces decía Ingazeiro. Al menos así estaba en su registro de nacimiento, pese a los datos imprecisos que esa generación llevaba en sus bolsillos.
Tras desplazarse al interior de diferentes ciudades de Sao Paulo, tu madre iba por barro al río cuando su padre salía a las plantaciones de algodón o la temporaria. Y esa materia prima la llevaba tu abuela a un horno que montaba en el patio para hacer cuencos de cerámica, venderlos y alimentarse.
Además de ese recuerdo, heredaste un cuenco. El mismo que provocó un inventario de alfarera, la cristalera hereditaria forjada en miniatura. Ese collage de piezas construidas con chaquiras de Colombia y Brasil es también la escena de tu madre en el río y de tu abuela en el fogón hecha materia, la cocción que cobró lugar en una vitrina imaginada.
Y hay otro cuadro que regresa de tu infancia: una banca junto a un árbol con semillas y sin frutos sobre un suelo árido terracota. Y ese lo estampaste al frío, lo secaste al aire y por tus andanzas, el tono y temperatura de la tierra cocida es con pigmentos marroquíes.
El arte del teñido o tintorería en los objetos y prendas, a propósito, posee el oculto conocimiento de la composición, la mezcla delicada entre el brillo o matiz, pero tam-
bién el don de plasmar el relato que gritan u ocultan. Así como los polvos de Marruecos; en Egipto y Sri Lanka, desde hace siglos, recibían en puertos árabes madera brasilera para teñir las madejas de rojo. Nuestra selva.
Las semillas o chaquiras indígenas se convirtieron, desde hace siglos, en piezas checas que la República homónima replicó a partir de cristales de vidrio fundidos a altas temperaturas y Europa usaba como moneda de cambio.
¿Qué mapas afectivos hay en que la tela de seda Tailandesa bordada haya sido usada para vestuario por indígenas mexicanas? ¿Qué mapas afectivos hay en que los patrones geométricos de diversas culturas comuniquen como fractales los legados espirituales entre culturas? Eso lo deja ver la cortina de caracol o higuera, con un soporte de papel maché y miles de granos fértiles, las chaquiras, aunados por tu madre que tejieron lo que sus manos saben en más de dos metros de longitud. El vórtice de la paciencia.
Como muchas familias de lugares colonizados, esta instalación es un intento por documentar lo que no está documentado y honrar lo que el camino te ha traído. Anudando y desanudando, aprendiste a transitar y coser entre voces generosas, como la mujer en la plaza de mercado de Leticia, la ciudad del Trapecio Amazónico.
Por eso esta obra es también un puerto de tus andanzas geográficas y afectivas y un lugar personal de experiencia. Inspirada en filosofías de raíces africanas, haces que predomine el lenguaje de cosme y damião en el azul y rosa. Ambos evocan un lenguaje que se desvanece: un abecé poderoso que recoge la inocencia; la eterna contracorriente y cura anímica para zarpar de cada puerto.
Mientras las vocales se destiñen en el “Jogo americano” de tu niñez (X de un precioso xilófono; A de arcoiris; B de barco; C de casa; D de Dado…), escribo eso para que al menos a nosotras no se nos olvide que el fervor por lo ancestral te llevó a replicar la memoria de tu pasado. Que en tu gesto de resistencia llevaste patrones de costura de Palestina en el mismo lienzo. Que lo que está aquí, en este espacio, es artesanía suficiente para percibirte como una Moira de la vida. Todo esto, amiga, son las urdimbres de tus tránsitos y esto es mucho más que tu ofrenda de sanación.
Por eso, Siéntate al sol. Abdica y sé reina de ti misma
MANUELA SALDARRIAGA H.
NUESTRA HISTORIA ES FUNDANTE NUESTRA GENEALOGÍA ES SAGRADA
21 x 22cm
1. JOÃO FACÃO, 2024
Pintura acrílica sobre porcelana fria, pedraria e cerâmica.
3. BREJO, 2021 Tear de miçanga e cerâmica. 24 x 15cm
2. OBJETO HEREDITÁRIO 1, 2022
Pedras, pedraria, cerâmica e mármore.
30 x 12cm
5. CRISTALEIRA HEREDITÁRIA, 2023
Colagem sobre papel com pintura acrílica.
32,5 x 22,5cm
4. OCA, 2024
Bordado sobre tela. 92 x112cm
7. ALDRAVA, 2023
Pedraria bordada sobre tecido e franja de miçangas.
33 x 25cm
6. UM MILAGRITO, 2021
Tear de miçanga, pedraria, pedras, milagrito, tecido e madeira.
34 x 22cm
250
8. 31 QUILÔMETROS, 2024
Ferro, papel machê, tinta acrílica, pigmento marroquino e pedraria.
x 58 x 33cm