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O fact-checking pode ser usado por qualquer pessoa. Verificar a verdade das informações proporciona, por exemplo, que casos de bullying sejam evitados. O setor não está relacionado apenas aos jornalistas sensatos, que buscam passar as informações corretas para a população.

especialmente quanto às suas fontes”, explica. O caso foi solucionado com a prisão dos acusados e a localização do corpo. Sobre fake news, doutor Marcelo ressalta que quem divulgar notícias falsas corre o risco de sofrer prejuízos. “A divulgação falsa que envolver a honra das pessoas pode acarretar em responsabilização penal e civil”, conclui.

POLÍCIA X FAKE NEWS As fake news atrapalham, na maioria das vezes, importantes áreas de trabalho. Uma delas é a das Polícias Civil e Militar. Notícias falsas geram desconforto e preocupação, além de dificultar as investigações que os policiais realizam para melhorar a segurança da população. Diversos casos já aconteceram no Brasil e em nossa região, como por exemplo, quando a polícia passou por dificuldades para tentar solucionar um crime bárbaro que aconteceu em outubro desse ano. Para desviar-se das notícias falsas, o delegado de Polícia Titular da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) e da Delegacia de Investigações sobre Entorpecentes (DISE), Marcelo Tomaz Góes, 43, possui uma equipe que checa todas as informações e denúncias que chegam até a Polícia Civil. “Todas as informações são checadas, especialmente quanto à fonte de divulgação das mesmas. Feito isso, elas são analisadas em consonância com os elementos já obtidos no processo de investigação, e assim são descartadas ou não”, comenta. Apesar das fake news, o delegado acredita que a internet e os veículos de comunicação, bem como as redes sociais, ajudam no processo de divulgação dos trabalhos e interação dos policiais com a população. “Em que pesem os problemas com as falsas informações sobre fatos apurados criminalmente, a interação facilita o recebimento de denúncias anônimas e informações relevantes”, pontua.

CUIDADOS NA ÁREA DA INFORMAÇÃO Lilian Grasiela Silva, 36, formou-se em jornalismo em 2008. Há 12 anos trabalhando na área, atualmente a jornalista está no Jornal da Cidade de Bauru e já se deparou com muitas notícias falsas, principalmente depois da popularização da internet e da democratização do acesso às redes sociais.

ESPECULAÇÕES Em outubro desse ano, o crime envolvendo o professor Adevaldo Colonize chocou toda a nossa região. O doutor Marcelo foi o responsável por desvendar o que aconteceu e prender os acusados. Apesar de todo o esforço dos policiais civis, informações falsas misturaram-se com as investigações. Na época, o delegado alertou a imprensa que tais notícias que estavam circulando nas redes sociais eram falsas, e que a Polícia Civil continuava investigando o caso. “Com relação à motivação do crime, à localização do corpo e à própria prisão de um dos coautores, todas as informações tiveram que ser verificadas pelas equipes de investigação,

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“A divulgação falsa que envolver a honra das pessoas pode acarretar em responsabilização penal e civil”

“Todo mundo se acha um pouco jornalista” As informações se espalham de uma maneira rápida justamente em virtude da internet. As fake news, englobadas nesse meio, atrapalham também o serviço dos veículos de comunicação. “O que percebemos é que as falsas notícias tendem a ser produzidas, em sua grande maioria, com o objetivo de favorecer ou desqualificar algum grupo, ou mesmo, em alguns casos, de forma até involuntária, visando a simplesmente chamar a atenção”, explica a jornalista. Como repórter da seção Regional do Jornal da Cidade de Bauru, Lilian acredita que a principal dica para desvencilhar-se das notícias falsas é checar as informações com autoridades e especialistas da área, além de exigir documentos. “É sempre bom desconfiar de tudo o que chega sem fonte ou quando o autor da informação exige sigilo. Em alguns casos, como denúncias graves, o sigilo evita que a fonte sofra represálias por parte dos envolvidos. Mas, em muitos casos, pessoas se escondem atrás do sigilo para atribuir ao jornal a responsabilidade por uma informação inverídica”. UM CASO DE NOTÍCIA FALSA Durante um plantão de fim de semana, a redação do Jornal da Cidade de Bauru recebeu a informação sobre cinco pessoas mortas em uma Praça de Bauru e sofreu atraso no cumprimento de outras pautas. “Corremos atrás para checar com a Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, SAMU e a Polícia Civil e, no fim, descobrimos que se tratava de uma publicação falsa”, conta a jornalista. Em muitos casos, as fake news resultam em problemas sérios.

Há dois anos, em Bauru, a publicação de uma matéria do Jornal da Cidade de Bauru sobre informações falsas circulando no Whats App ajudou a esclarecer o fato e evitar uma ocorrência grave. “Na ocasião, universitários peruanos que estavam na cidade participando de um projeto social foram descritos como supostos sequestradores de crianças e o boato gerou pânico entre os moradores. Com a matéria, a situação foi esclarecida e evitou que o grupo fosse alvo de algum tipo de violência”, finaliza Lilian. BOATO No final de novembro do ano passado, um alarme falso divulgado nas mídias sociais causou correria de eleitores aos cartórios em busca do cadastramento biométrico. Na época, a mensagem afirmava que os cidadãos que não aderissem ao sistema de identificação pelas impressões digitais pagaria multa de R$ 150. De acordo com o chefe de cartório Gustavo Henrique Dantas de Miranda, 40, a falsa informação gerou uma procura maior pelo serviço. Após o boato, o cartório de Jaú fez aproximadamente três mil títulos de eleitor. “Na prática não houve transtornos. Achamos até bom porque conseguimos aumentar o número de atendimentos. Embora a biometria ainda não seja obrigatória, em breve ela será”, explica. Através da internet, o boato se espalhou rápido. “Quando eu vi a notícia na minha rede social, no mesmo dia as pessoas já estavam procurando o cartório. Fomos pegos de surpresa, mas conseguimos atender a demanda”. Apesar de o boato ter gerado correria dos cidadãos ao órgão público, o chefe do cartório alerta sobre a importância da biometria. “Pedimos ao eleitor que compareça ao cartório munido de documentos e comprovante de endereço para regularizar a situação. A biometria não é obrigatória para a eleição desse ano, nem gera multa ainda, mas em breve será cobrada”, orienta. Ainda falando sobre boatos, no dia 18 de janeiro um homem de 41 anos atropelou 18 pessoas no calçadão de Copacabana. Na época, um bebê de apenas 8 meses também foi atropelado e morreu. Apesar da gravidade, Antônio de Almeida Anaquim responderá em liberdade. No dia seguinte ao acidente, notícias falsas começaram a circular nas redes sociais. Uma delas é que o atropelador seria funcionário da Rede Globo ou da GloboNews. O veículo de comunicação negou o fato e o próprio autor afirmou ao delegado Gabriel Ferrando, da 12ª DP (Copabacana), que nunca trabalhou na empresa.

MENTIRAS NAS ELEIÇÕES O Tribunal Superior Eleitoral irá fazer um manual de comportamento para os eleitores com o objetivo de combater as fake news. Em dezembro último, o TSE fez a primeira reunião do Conselho Consultivo sobre Internet e Eleições, formado por integrantes da própria corte, do Exército e da Agência Brasileira de Inteligência para criar mecanismos de combate às notícias falsas. Em campanha de 40 dias que serão as eleições desse ano, diversas mentiras poderão ser veiculadas na internet. No final de 2017, o presidente do TSE, ministro Gilmar Mendes, disse que o principal desafio será esse: detectar e retirar as fake news de circulação. “O nosso temor é que a gente tenha problemas sérios com divulgação de fatos inverídicos. Até você constatar se é uma fake news ou não, é um desafio”, afirma. Então, leitor, fique atento a qualquer notícia que possa afetar suas escolhas de voto. Seja sempre questionador e busque encontrar informações que comprovem o fato. A EUROPA EM ALERTA As notícias falsas estão sob os olhares atentos dos europeus, que iniciaram este ano anunciando medidas para tentar conter a circulação das fake news. No primeiro dia de 2018, na Alemanha, entrou em vigor uma nova legislação obrigando redes sociais com mais de 2 milhões de membros a removerem em até 24 horas conteúdos apontados por usuários como impróprios. O presidente da França também anunciou que adotará medidas para combater a disseminação de conteúdo enganoso durante o período eleitoral. A ideia é obrigar provedores de internet a fornecerem informações para que seja possível avançar rapidamente em processos judiciais contra os responsáveis por espalhar histórias falsas na rede. E NO BRASIL? Notícias falsas são espalhadas rapidamente, especialmente em época de eleições. Quem não leu diversas delas? “O filho do ex-presidente Lula é o dono do frigorifico JBS”; “O juiz Sérgio Moro é filiado ao PSDB”; “O presidente Temer quer acabar com o Bolsa Família”. Segundo reportagem publicada no jornal “O Estado de São Paulo” no último dia 8 de janeiro, o debate sobre notícias falsas ainda está em andamento. Um grupo de trabalho com representantes da Polícia Federal e Ministério Público Federal deve ser formado para formatar medidas que possam ser aplicadas nas eleições presidenciais de 2018. Para Demétrio Magnoli, colunista da Folha de São Paulo, a regra é simples: “Na dúvida sobre a veracidade de algo noticiado, verifique se apareceu na imprensa profissional”. Sobre a publicação, o jornalista Mauro Donato, do Diário do Centro do Mundo, questiona: “Quando se fica sabendo que no último exame do Enem apenas 53 estudantes alcançaram a nota máxima em redação, enquanto 309.157 tiraram zero (um a cada vinte), começa-se a entender melhor onde está a raiz da árvore podre. Tudo, absolutamente tudo, passa pela educação (ou a falta dela)”.  Revista Energia 47


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