Revista Energia 38

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vida

Boa

Por João Baptista Andrade

P

Comida e Sensualidade

ode algo tão prosaico e cotidiano como o ato de alimentar-se ser sensual? Ah, pode. E como pode. Não vou discorrer aqui sobre as diferentes orientações e/ ou preferências sexuais de cada um, que certamente decorrem dos atos sensuais que as precedem. Essa parte eu deixo para os que proclamam todas essas bazófias sobre o que representa ser hetero, homo, bissexual ou (por que não?) trissexual. Ou ainda quaisquer outras classificações que a sociedade e a tal da mídia debatem a cada dia. Muito menos eu pretendo discutir o que é ou deixa de ser sensual para cada um. A acreditar-se naquilo que nos trazem os meios de informação, tem gosto para tudo. E eu digo tudo mesmo! A lista de práticas, fetiches ou preferências (só a lista...) dá um compêndio gigantesco, muito além daquelas poucas linhas que a editora (sempre ela) me permite utilizar para apresentar os meus pensares tolos. Não. O assunto de hoje não é sexo, mas sim, sedução. Para quem não percebe a diferença, basta olhar um pato e um ganso. Nada de comparável, a não ser pelo jeitão, como se diz lá em casa. Cada refeição tem lá o seu propósito, além daquele precípuo que é o de alimentar-se. Um almoço dominical com a família, um encontro de amigos, uma reunião para degustar queijos e vinhos, uma feijoada das boas, um churrasco ou um almoço de negócios (ugh!). Todos esses repastos podem ser maravilhosos, mas não existe nada que se compare a um jantar romântico. Nada mesmo. Um casal jantando e se apreciando de uma maneira qua-

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se divina é algo que só entende quem passou pela experiência transcendental. Eu sou aficionado pelas mulheres. Não apenas no sentido sexual porque no meu caso (perdão aos que discordam), eu sou monogâmico. Mas mulher é tudo de bom. Só de aparecer no recinto elas já transformam tudo. Acho que é aquela leveza característica, as maneiras mais doces, sei lá! Mas quando tem mulher por perto tudo fica mais interessante e engraçado (no sentido de cheio de Graças). E o leitor que escolha a categoria que mais lhe aprouver: avoengas, matriarcais, debutantes, hippies, modelos, deslumbradas, angelicais e por aí afora. Mas isso não mudaria a minha ideia em nada. Um casal jantando junto, porque quer estar ali, forma uma entidade única no universo. Quase uma singularidade einsteiniana. Eu gosto de madames. Isso não é um estereótipo; é um epíteto. Imagino que ser madame deve dar a maior mão de obra. Como a perfeição pertence à esfera da divindade, ser madame deve requerer muito, muito, muito trabalho. Mas o melhor de tudo é que uma madame de verdade faz isso como se fosse nada. Nenhuma mulher nasce madame; ela vira. Nem me pergunte como a mágica acontece, mas as madames se deixam perceber através de gestos, posturas, falas e atitudes tão delicadas e tão simples (para quem olha de fora) que não dá para confundir. A primeira vez em que eu vi uma madame num chemisier de seda, do outro lado da mesa, eu deveria ter algo entre 18 e 20 anos. Até hoje não esqueço a imagem. Jantar comprido. Pratos complicados. Mas madame que é madame come foie gras ou mourrilles ou o que diabo aparecer com a mesma naturalidade com que eu como arroz com feijão. Sou muito grato por tudo o que aprendi naquela noite. Mais de 30 anos depois, sou capaz de reconhecer uma madame de verdade em menos de dois segundos. Não é a roupa ou o nível socioeconômico. Entre outras miríades de coisas, é a maneira tranquila e relaxada de comer e beber com delicadeza quase infinita. Um jantar sensual simplesmente não faz o menor sentido sem uma madame de verdade a nos acompanhar. E tem ainda o jeito que ela olha para você... É como se você fosse um galã de novela, um milionário, alguém muito poderoso e, ao mesmo tempo, um menino... Impossível descrever. Em tempo: a morena mencionada na coluna anterior aceitou o meu convite público tomando champanhe, comendo ostras com molho de raiz forte e escargots no Freddy. Portanto, devo agradecer aos eventuais leitores que torceram por mim e pela madame. Até a próxima.


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