Revista OUSH! Brasil - Capa Segurança Pública - Ano IV - Edição 12

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MÚSICA & ARTE

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98 anos de música Por Antonio Maria do Vale

Na contagem regressiva para seu centenário, Sociedade Musical Carlos Gomes comemora mais um aniversário festejando seu legado musical e de construção da cidadania em Marechal Deodoro. “Um ditado popular fala das oportunidades naturais para aqueles que nascem em Marechal Deodoro. Diz-se que, ao nascer um menino, é costume jogar uma bola de barro na parede para adivinhar o seu futuro. Se o barro cair, o recém-nascido será um futuro pescador; se o barro ficar colado, será um futuro músico. Ser músico ou pescador são, portanto, as oportunidades tradicionais para os nativos de Marechal Deodoro”. O trecho acima é do livro “Tradição e Modernidade: O perfil das bandas de pífano de Marechal Deodoro”, da escritora Regina Cajazeira, e resume folcloricamente a vocação intrínseca dos deodorenses. Hoje, a propensão natural transformou-se em história secular e são poucos os que ainda mantêm as duas aptidões como sonho a ser realizado. Nas últimas décadas, a indústria do turismo e a possibilidade de trabalhar em Maceió, facilitada após a duplicação da AL-101 Sul, se tornaram o viés mais desejado. Segundo Regina Cajazeira, Marechal Deodoro vive um momento dividido em razão da atuação ambígua do turismo na região: se modernizar para atender melhor seus visitantes e, ao mesmo tempo, manter suas tradições garantindo que seu patrimônio arquitetônico e cultural permaneça intacto e, principalmente, vivo. Uma das heranças a ser preservada é a musicalidade que a cidade possui. Berço de grandes artistas, como Nelson da Rabeca, e capital alagoana das bandas de pífano, Marechal Deodoro possui também grandes orquestras que sobrevivem diante de um cenário cada vez mais avesso a manutenção cultural. Fundada em 07 de

setembro de 1910, a Filarmônica Santa Cecília é a mais antiga de Alagoas. Criada pelo padre Berlamino Barbosa, a banda possui uma concorrente de peso, a Sociedade Musical Carlos Gomes, com quem trava uma disputa, se é assim que podemos chamar, saudável e secular. A ligação vem de longe já que, com 98 anos completados no último dia 14 de novembro, a Carlos Gomes tem o início de sua história ligado diretamente a Santa Cecília. Segundo relatos de moradores antigos, tudo começou quando parte dos membros da Filarmônica Santa Cecília discordaram do modo como os mandatários da orquestra a administravam. Insatisfeitos, 20 músicos decidiram se desligar da banda e fundaram a Sociedade Musical Independente que, em 1915, passara a se chamar Carlos Gomes. Homenageando o grande maestro e compositor brasileiro, autor da ópera O guarani, a orquestra mantém seu legado indiferente aos obstáculos criados pela modernidade, prestando um nobre serviço à comunidade deodorense. O aprendizado não se limita ao domínio instrumental, ele dissemina também conceitos disciplinares entre os alunos e músicos que integram a filarmônica. Nas primeiras décadas de existência a banda exercia um papel de ligação entre parte de seus músicos e o mercado de trabalho. Era comum o ingresso de integrantes da Sociedade na Polícia Militar de Alagoas e, respectivamente, na banda da PM, onde faziam carreira até a aposentadoria. Hoje, os motivos mudaram e, se não são por hobby, buscam manter ativa uma das manifestações

Uma revista com a cara do Nordeste


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