FLORES DO MAL : TAKES PARISIENSES (iii) Ronald Augusto
Feito o sol, em nossa visão cosmonáutica, Baudelaire em “Le soleil”, também se posta no centro; neste micro-sistema − ou seja, o poema, máquina verbal por meio da qual exercita sua estranheza −, ele, então, se retrata a si mesmo, e na consecução do seu processo de composição. Ao acionar seus recursos de linguagem, ao otimizá-los às vezes num espasmo negativo, lançando mais além os marcos expressivos do gênero, Baudelaire também alarga as marginais de seu entourage, assim como penetra e queda nos cantos (“coins”) mais recuados e ignotos das vielas da capital parisiense, retida em seus versos “desde há muito tempo já sonhados”. O poeta olho-do-sol arroja seus punhais (palavras-raio) até as esquinas e os antros mais abjetos da cité; o exercício da escrita − em que não se despreza a dimensão de physis nela contida − se transforma numa “fantasque escrime” (“wordswordswords/ swords”, José Paulo Paes dixit). Benjamin fala a respeito do suor, do esforço, que Baudelaire considerava imprescindível associar ao trabalho de fatura do poema. Escritura-esgrima que, não obstante a exatidão