Revista Ellenismos 24 - ARTE E MERCADO

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aprisionadas no grande Hospital Geral. E que ouvidos malditos testemunharam a cantilena desterrada do lager Alagadiço? Não viram o derreter dos corpos desesperados na aurora nuclear de Bophal; as crianças bombardeadas, suas partes pelos ares, na árida tarde Palestina; a multidão de mendigos encostados à marquise das cidades-miséria; o palavrório desmembrado dos nóias expulsos da Crackolândia paulista. E quem para dançar a derradeira dança dos índios suicidados pela tanatopolítica progressista do zepelim-brasil?

MANIFESTO DA POESIA IMPOSSÍVEL

Ilustração de Karina Freitas [http://karinafreitas.tumblr.com/]

1. para jota medeiros * à margem da língua – nódoas se projetam como pontos de contato com o obscuro da palavra*realocar sonoridades/re-enunciar discursos/minorizar poéticas*poesia que bóia no caldo fervente de uma gestação sem desfecho – NAORIGEM era a DIÁSPORA, tudo desmembramento e transe – da palavra convulsiva que se despedaça*o desejo de imortalidade, que leva o poeta a querer duplicar-se no poema, é, também, desejo de grandeza – procura-se a palavra que se fixe na história, que faça do acontecimento poético um monumento – mas a grande arte com seus monumentos teve de soterrar geografias inteiras, est/éticas subterrâneas, poieses impossíveis*palavra-crise porque palavra*o inescrito - a literatura dos silêncios – poesia-lágrima-na-chuva – e quantos poemas não deambulam inauditos às vagas da literatura*já fomos imortais, fantasmas de nós mesmos, cabisbaixos, nas estantes*eu vi também os hospitais e museus – em hiroshima – e as bibliotecas repletas de números – em hiroshima – mas alguma coisa terrivelmente bela se perdeu*


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