Discurso e Resistência na Amazônia Acreana (1971-1981)

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conotação de uso diferente de outras regiões do Brasil, especialmente do centro-sul do Brasil, onde o rádio era usado pela elite com objetivos educacionais, de elevar e levar a cultura erudita das elites econômicas ao restante da população. Na Amazônia, o rádio se enveredou por um outro caminho, tornou-se um veículo de comunicação e de integração das populações mais distantes e de difícil acesso, onde, através do rádio, a população se comunica mais rapidamente, se socializa, sabia das notícias do seu país e do seu lugar (colocação, seringais, comunidades etc. onde vivem), de seus compadres e comadres, e, assim, se sentiam integrados à sociedade. Vale destacar, antes de darmos continuidade à distinção entre campo e cidade, segundo a definição de Raymond Willians: Na longa história das comunidades humanas, sempre esteve bem evidente esta ligação entre a terra da qual todos nós, direta ou indiretamente, extraímos nossa subsistência, e as realizações da sociedade humana. E uma dessas realizações é a cidade: a capital, a cidade grande, uma forma de civilização. Em torno das comunidades existentes, historicamente bastante variadas, cristalizaram-se e generalizaram-se atitudes emocionais poderosas. O campo passou a ser associado a uma forma natural de vida – de paz, inocência e virtudes simples. À cidade associou-se a idéia de centro de realizações – de saber, comunicações, luz. Também constelaram-se poderosas associações negativas: a cidade como lugar de barulho, mundanidade e ambição; o campo como lugar de atraso, ignorância e limitação (WILLIANS, 1989, p. 11).

Porém, é importante ressaltar que a definição de Willians está inserida no contexto europeu, onde o campo tinha um sentido bucólico, exaltando a natureza, as belezas de uma vida campestre. Trazendo tal definição para o contexto amazônico, o campo seria, na realidade, a zona rural, lugar que ganha um destaque mais econômico, espaço de produção, como, por exemplo, os seringais produtores de borracha, e a cidade é o lugar onde se gasta, espaço de diversão do patrão, onde se adquiriam produtos industrializados, como querosene, sal, tecidos, e outros produtos que davam status aos sujeitos amazônicos. Depois dessa elucidação da distinção entre campo e cidade no contexto amazônico, é interessante retomamos o caráter de socialização e de

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