Currículo e Interdisciplinaridade

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O SENTIDO DO CURRÍCULO, PÓS-REFLEXÕES ANTERIORES

formalmente uma perspectiva a ser seguida, determinando três dimensões orientadoras para organizar o curso, delineando preocupações a serem levadas em consideração por todos que iriam tornar o currículo vivo, isso não se constituiu em regra a ser seguida por todos os professores. Os acontecimentos reais não trilharam necessariamente por aquelas orientações. Fazenda (2002a, p. 19-20) afirma que a realidade é poliparadigmática101, “pois nela persistem crenças, valores, ideias, modos diferentes de organizar a vida, ao lado de uma racionalidade que a explicita”. Fazenda (2002a) avança um pouco mais quando abre uma brecha para compreender algumas das razões pelas quais elaboradores e orientadores de currículos creem que é possível determinar uma única perspectiva de atuação, ao se colocar o projeto curricular em prática. De acordo com a autora pré-citada, os projetos de cursos de formação de professores são construídos com base em paradigmas formais e externos àqueles que vão de fato dar vida ao que foi projetado. São articuladas proposições que apenas determinam e levam em consideração o que deve ser feito, emparelhado com o como fazer e para que fazer a fim de efetivamente atingir o que foi vislumbrado. São raras as vezes em que tais curriculistas de projetos de cursos de formação de professores acrescentam a preocupação com os sujeitos implementadores do currículo vivo e o lugar em que estão situados. As crenças, os valores, os saberes, as dificuldades, os modos de ser, dos sujeitos que colocam o currículo em ação, são o que de fato vão fazer o currículo real, embora poucas vezes sejam objetos de preocupação dos proponentes dos projetos curriculares. Toda realidade é ambígua e está sempre além do que a nossa capacidade de discernimento consegue perceber; no entanto, quando admitimos a ambiguidade como parte de uma prática, passamos a ter consciência de que as certezas são provisórias e que, assim sendo, nos faz olhar para as convicções com mais cautela, com desconfiança. Essa postura abre um leque de possibilidades que não admite um pensar restrito diante da complexidade dos fenômenos educativos que se vivencia. Serão vistas sempre alternativas a serem testadas, que não permitem escolhas únicas e isoladas, caracterizando um fazer mais inclusivo e interativo, em que não existe a opção a ser trilhada, mas uma diversidade que se apresenta no movimento do caminhar. 101

Morin entende paradigma como “o conjunto das relações fundamentais de associação e/ou de oposição entre um número restrito de noções-chave, relações essas que vão comandar-controlar todos os pensamentos, todos os discursos, todas as teorias” (MORIN, Edgar, p. 258). Se para Fazenda a realidade é poliparadigmática, há uma clara intenção de potencializar e ampliar sentidos e noções para compreender a realidade. (Op. cit., p. 19).

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