Uma publicação do Sinepe/RS
Nº 102 / Ano XVIII / Fevereiro - Março 2014
A TRANSFORMAÇÃO QUE VEM DO LIXO Escolas são desafiadas a incentivar a prática do não desperdício e da reciclagem
SA L A DE AUL A
Literatura perde espaço no Enem
GESTÃO
Educação privada sob ameaça de inter venção
Profa. Marta Ubeda Miranda de Souza Mestra em Educação, Editora Positivo.
SISTEMA POSITIVO DE ENSINO. EDUCAÇÃO SE FAZ COM CONFIANÇA. Imagine mais de 300 profissionais, entre especialistas, mestres e doutores, dedicados ao desenvolvimento de nosso material didático. Imagine o conhecimento desses profissionais somado à prática de professores do Brasil inteiro. Com o Sistema Positivo de Ensino, as escolas participam da elaboração dos materiais didáticos e ainda contam com a experiência de um grupo com mais de 40 anos dedicados à educação. Confie você também.
Prof. Gilson Laender Filho Colégio Sant’Ana, Itaúna – MG, há 23 anos conveniado ao Sistema Positivo de Ensino.
Para mais informações: 0800 724 4241 convenio@positivo.com.br editorapositivo.com.br/sistemapositivo facebook.com/editorapositivo twitter.com/editorapositivo
EDUCAÇÃO SE FAZ COM CONFIANÇA.
ENTREVISTA
Rafael Lucchesi
Mudanças na educação trarão mais competitividade ao país Por Ca r i ne Fer na ndes
Educação em Revista - O senhor afirma que temos uma escola do século XIX, professores do século XX e alunos do século XXI. Explique essa afirmação. Rafael Lucchesi - Essa é uma metáfora que uso para explicar o quanto nosso processo educacional está distante da realidade vivida pelos estudantes, principalmente para aqueles que querem entrar mais rapidamente no mercado de trabalho.
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Fotos José Paulo Lacerda
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Brasil não vai conseguir avançar em produtividade e competitividade se continuar com o mesmo sistema educacional. Para mudar essa realidade é preciso investir na educação profissional e tornar mais atual o currículo da Educação Básica. Essa é a opinião do economista, diretor de Educação e Tecnologia da Confederação Nacional da Indústria e diretor-geral do Senai, Rafael Lucchesi. Para o especialista, a educação profissional é uma oportunidade de entrada no mercado de trabalho que o país ainda pouco explorou. “Menos de 7% dos jovens brasileiros optam pela educação profissional juntamente com a básica, enquanto nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a média é cinco vezes maior (35%)”, compara. Nesta entrevista concedida a Educação em Revista, Lucchesi fala sobre esse problema e traz exemplos de escolas brasileiras que estão transformando sua maneira de ensinar para atender às necessidades do mercado de trabalho. Confira:
Hoje, as escolas brasileiras formam os estudantes como se todos fossem para a educação superior. O fato é que menos de 20% dos jovens têm esse destino. Os outros, que compõem a grande maioria, chegam ao mercado de trabalho sem ter tido uma hora sequer de educação para o trabalho. Não é por acaso que os mais elevados índices de desemprego são registrados entre a população entre 18 e 24 anos. Esses jovens compõem o que os especialistas chamam de bônus demográfico. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de pessoas que compõem a população economicamente ativa é maior que a quantidade de pessoas que depende dela, o que deve mudar até 2025. Por isso, é necessário criar as condições para que os que compõem essa faixa etária
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Não podemos deixar que esses jovens façam parte de uma geração perdida”
possam contribuir na produção e na produtividade. Não podemos deixar que esses jovens façam parte de uma geração perdida. O caminho para eles se constrói pela educação.
Qual o impacto que esse sistema de ensino está trazendo para o mercado de trabalho, especialmente no segmento da indústria? O principal impacto disso é na produtividade. O Brasil não vai conseguir avançar em produtividade e competitividade se continuarmos com o mesmo sistema educacional de hoje. Temos de melhorar a qualidade do que já existe, mas é preciso repensar se o que oferecemos aos jovens vai garantir uma chance no mercado de trabalho. A produtividade do trabalho, medida pela relação entre o Produto Interno Bruto (PIB) e o pessoal ocupado, coloca o Brasil numa situação grave, se comparado a outros países. Fica em um nível três vezes menor que na Coreia do Sul; quatro vezes menor que na Alemanha; e cinco vezes menor que nos Estados Unidos. Isto é, para produzir o que um trabalhador americano produz, o Brasil precisa de cinco trabalhadores. Se não mudarmos esse quadro, teremos poucas chances de enfrentar a concorrência estrangeira, conquistar espaço nos mercados interno e externo e assim criar nossa poupança para o futuro, quando a população estará mais velha e menos gente vai estar produzindo. Quais são as principais carências na formação (na visão dos empresários) do jovem que entra no mercado de trabalho? A Confederação Nacional da Indústria (CNI) realizou em 2013 uma pesquisa com 1.761 empresas dos setores de extrativa e manufatura e identificou que 65% enfrentam problemas com a falta de trabalhador qualificado. A pesquisa revela que há dificuldade para encontrar profissionais qualificados para todas as áreas, desde operadores para a produção até o nível gerencial. Os empresários consultados destacam que a escassez é maior entre operadores e técnicos para a produção: 90% disseram ter problemas para encontrar operadores de produção e 80% para trabalhadores de nível técnico. Juntos, esses dois tipos de profissionais respondem por cerca de 70% dos
contratados na indústria. Esses números demonstram que a falta de trabalhador qualificado não é um problema simples para a indústria. Outros estudos realizados pela CNI buscam detalhar as razões dessa realidade. A questão está ligada a uma série de fatores, que vão desde o nível de escolaridade, a educação voltada para o trabalho até o aspecto comportamental no ambiente laboral. Entre as hipóteses, está a de que conhecimentos e habilidades obtidas pelos trabalhadores na educação formal não atendem ao que os empregadores desejam. Nos últimos anos, vimos que o percentual de trabalhadores da indústria com, pelo menos, o ensino médio completo aumentou, mas não detectamos diferenças na percepção da qualidade da mão de obra pelos empregadores. Entre 2007 e 2012, o percentual de trabalhadores da indústria com ensino médio completo passou de 43,1% para 53,4%. Outra possibilidade é a de que a carência de mão de obra qualificada decorra da falta de formação básica geral. Conscientes da necessidade de qualificar os trabalhadores para as tarefas da própria empresa, os empregadores oferecem esse tipo de treinamento, mas a baixa qualidade da educação básica impediria que as competências específicas se desenvolvessem.
O senhor vê alternativas para resolver o problema a curto e médio prazos? Uma nova situação só virá se o Brasil modificar urgentemente sua matriz educacional, valorizando também a educação profissional. Essa é uma oportunidade de entrada no mercado de trabalho que o país ainda pouco explorou. Menos de 7% dos jovens brasileiros optam pela educação profissional juntamente com a básica, enquanto nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a média é cinco vezes maior (35%). O senhor afirma que o sistema educacional atual é “destruidor dos jovens”. Por quê? Como havia dito anteriormente, o sistema educacional prepara os jovens como se todos fossem para a educação superior. A realidade, porém, é que isso não acontece. Não oferecer preparo adequado a eles para entrarem no mundo produtivo é relegar boa parte dos jovens brasileiros aos piores índices de empregabilidade. Cursar o ensino profissional é, por exemplo, o melhor passaporte para o primeiro emprego. O jovem pode iniciar mais cedo no mercado de trabalho, conhecer uma profissão de forma a ajudá-lo em sua escolha vocacional e seguir seus estudos
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na educação superior tecnológica, por exemplo, e caminhar até a pós-graduação.
escolas do Sesi de todo o Brasil já estão sendo capacitados. As mudanças chegarão, posteriormente, aos demais anos do ensino médio e, ainda, o ensino fundamental. O comprometimento do Sesi será em fazer com que os alunos sejam capazes de aprender novas habilidades e assimilar conceitos do dia a dia. A formação desses jovens será direcionada para torná-los capazes de avaliar situações e tomar decisões.
Qual é o modelo de escola ideal, na sua percepção? Existem modelos no Brasil que podem servir de inspiração? Assim como Senai, o Sistema Indústria tem um dos maiores sistemas de educação básica privado, que são as escolas do Sesi. São 663 unidades de educação básica e de educação de jovens e Para produzir adultos em todo o Sabemos que as país. Nós estamos o que um mudanças na educadesenvolvendo um trabalhador ção não são imedianovo modelo educatas. Qual deve ser o cional, que poderá americano primeiro passo para servir de base para que uma revolução outras experiências, produz, o Brasil realmente aconteça? inclusive para as precisa de cinco O foco inicial deve públicas. Mesmo ser a melhoria da educom uma educação trabalhadores” cação básica. Dados reconhecida por sua recentemente divulgaqualidade, o SESI dos pela Organização quer inovar para se para Cooperação e Desenvolvimento adaptar à nova realidade. Quem entra na Econômico (OCDE) sobre o Programa escola agora tem a idade das redes sociais. Internacional de Avaliação dos Quem sai da escola hoje tem a idade da Estudantes (Pisa) colocam o Brasil em internet. Nosso desafio é preparar para estado de alerta. Os alunos brasileium mercado que ainda não conhecemos. ros de 15 a 17 anos estão a quase cem Estamos implementando o programa Escola SESI para o Mundo do Trabalho, que pretende transformar a maneira de ensinar. As mudanças previstas pelo programa começam já em 2014. Os alunos do primeiro ano do ensino médio começarão o ano com um novo currículo escolar, que contemplará disciplinas de atualidades, projetos de aprendizagem, oficinas tecnológicas e ciências aplicadas. Elas serão trabalhadas dentro de cada uma das outras disciplinas tradicionais, como Língua Portuguesa, Matemática, História, Geografia Física e Química. A ideia é escolher um assunto da semana, por exemplo, e estudá-lo sob todas as óticas dessas disciplinas. Com a adoção do programa, as aulas ficarão mais práticas, para que o estudante entenda o porquê de estudar aqueles assuntos. Para isso, mais de 200 diretores e 1.800 professores das
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pontos de diferença da média dos países mais ricos. A média do Brasil na avaliação foi de 402 e a dos países da OCDE ficou em 494. Em cinco anos, quando estiverem no mercado de trabalho, esses estudantes terão mais dificuldade para absorver e trabalhar com novas tecnologias, o que impacta diretamente a produtividade e a competitividade do país. No ranking de matemática, o Brasil figura na 58ª posição entre 65 avaliados. Está melhor que Peru (65º), Indonésia (64º), Colômbia (63º), Catar (62º), Jordânia (61º), Tunísia (60º) e Argentina (59º). Já do ponto de vista da economia internacional, o Brasil compete, por exemplo, com China e Coreia, que figuram no topo da lista com médias, em matemática, superiores a 550, ou seja, mais de 160 pontos acima do Brasil. A realidade é que o estudante brasileiro precisa desenvolver maiores habilidades de raciocínio lógico e os trabalhadores devem ser preparados para aprender a aprender. Isso será fundamental para incluí-los num desenvolvimento econômico que seja sustentável. Superar esse desafio não é tarefa apenas do governo, mas das empresas, das famílias e de toda a sociedade.
C A PA
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Novas ideias para reciclar a escola
TENDÊNCIAS Ensino para desenvolver autonomia
Trabalho pedagógico sobre reciclagem deve resultar em mudança de comportamento
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DICA DE MESTRE Saiba como fazer os alunos gostarem mais da Física
LEGISLAÇÃO Inclusão educacional alunos com deficiência
EM DEBATE Educação Física nos anos iniciais do Ensino Fundamental
INTERDISCIPLINAR Você tem um projeto de vida ou vive no piloto automático?
PREMIADAS Conheça os cases de sucesso do Colégio Farroupilha e do IESA
ARTIGO CIENTÍFICO Identidade, Memória e Imaginário – Interdisciplinaridade cultural
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SALA DE AULA A literatura no Enem
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GESTÃO Educação privada sob ameaça de intervenção
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EDITORIAL
Hora de reciclar as ideias Há algum tempo as escolas trabalham o tema da reciclagem, desde os primeiros anos do Ensino Fundamental. Ele perpassa as disciplinas de Ciências e integra projetos interdisciplinares, estando sempre presente quando o assunto é meio ambiente. Mas será que esse trabalho é suficiente para uma mudança de comportamento dos estudantes e das famílias? Será que os professores possuem conhecimentos suficientes sobre o tema para repassar aos seus alunos? E os educadores também estão fazendo a sua parte, em suas casas, reciclando o lixo, escolhendo produtos cujas embalagens são retornáveis e consumindo de forma consciente? Foi pensando nesses questionamentos que elaboramos a reportagem de capa desta edição. Ao ouvir especialistas e educadores, procuramos apresentar o tema da reciclagem sob outros ângulos com o objetivo de reciclar nossas ideias e práticas. Também trazemos o exemplo da Cooperativa Mãos Verdes, que busca dar suporte às escolas no trabalho sobre o assunto. Não deixe de conferir o espaço online da Revista (no portal do SINEPE/ RS e no aplicativo da Educação em Revista), que traz vídeos e materiais de apoio para o professor trabalhar o assunto em sala de aula. A primeira edição de 2014 da Educação em Revista também traz novidades com duas novas seções. Em Dica de Mestre vamos mostrar cases de sucesso de professores, que com criatividade e inovação superaram velhos problemas de sala de aula. Abrimos a seção com a história da professora Marina, do Colégio João XXIII, que trouxe a música para falar de um assunto pouco atrativo aos jovens, as leis de Newton. Outra novidade é a volta da seção Artigo Científico. Temas importantes para a educação serão teorizados com profundidade e consistência. Ainda nesta edição, a seção Sala de Aula traz resultados de uma pesquisa que mostra o espaço cada vez menor que a Literatura e seus clássicos estão tendo no Enem. Em Gestão, mostramos os movimentos do governo para restringir a livre iniciativa do ensino privado, como a criação do Insaes e o Conae. Já em Tendências levamos o leitor para conhecer um projeto de ensino pioneiro no Rio de Janeiro, no qual professores ganham outro papel e não existem espaços tradicionais de sala de aula nem disciplinas. E para começar bem o ano, a seção Interdisciplinar convida você a pensar no seu projeto de vida. Como traçar planos a médio e longo prazos e fazer com que as ideias saiam do papel? Confira as dicas dos especialistas ouvidos na reportagem! Ótima leitura! Carine Fernandes Editora da Educação em Revista
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Expediente Edição: Carine Fernandes (MTB 15449) Produção: Carine Fernandes e Patrícia Gastmann (MTB 15.336) Reportagens: Ana Cristina Basei (MTB 15.493), Carine Fernandes, André Dornelles Pares, Manoela Andrade (MTB 13.648) e Vívian Gamba (MTB 9383) Capa: Colégio Marista Conceição / foto: Eriel Brixner Diagramação: Prya Estúdio de Comunicação Conselho Editorial: Prof. Osvino Toillier, Prof. Hilário Bassotto, Prof. Flávio D’Almeida Reis, Profª Mônica Timm de Carvalho, Profª Naime Pigatto, Prof. Ruy Carlos Ostermann, Prof. Pedro Luiz da Silveira Osório e Prof. Carlos Jahn.
DIRETORIA
Presidente: Bruno Eizerik 1º Vice-Presidente: Osvino Toillier 2º Vice-Presidente: Hilário Bassotto 1º Secretário: Oswaldo Dalpiaz 2º Secretário: Júlio César de Bem 1º Tesoureiro: João Olide Costenaro 2º Tesoureiro: Maria Helena Rodrigues Lobato Suplentes: 1º Suplente: Adelmo Germano Etges 2º Suplente: Nilton Kleber Nicolodi 3º Suplente: Flávio Romeu D’Almeida Reis 4º Suplente: Iron Augusto Müller 5º Suplente: Ruben Werner Goldmeyer 6º Suplente: Cláudia Chesini 7º Suplente: Marícia da Silva Ferri
CONSELHO FISCAL Titulares: Luiz Fernando Felicetti Adelia Dannus Valdir Ludwig
Suplentes: 1º Suplente: Isaura Paviani 2º Suplente: Valderesa Moro 3º Suplente: Maria Angelina Enzweiler Coordenador da Assessoria de Comunicação e Marketing: Prof. Osvino Toillier Assessora de Comunicação e Marketing: Luciana Moriguchi Jeckel Assessora de Imprensa: Carine Fernandes Assistentes de comunicação: Bruna Ricardo e Marcele Wolf Estagiário: Hermes Moura
Missão:
Representar e congregar as instituições do ensino privado na promoção de sua qualificação permanente, diferenciação e sustentabilidade.
Visão:
Ser referência como instituição no cenário educacional brasileiro, reconhecida pela eficiência na representação sindical e proposição de novos significados ao setor.
Valores: • Compromisso com o Associado • Ética e Transparência • Competência • Cultura da Inovação • Responsabilidade Socioambiental
FALE CONOSCO Redação Cartas, comentários, sugestões, matérias: educacaoemrevista@sinepe-rs.org.br Anúncios e assinaturas E-mail: comercial@sinepe-rs.org.br Fone: (51) 9330-6763 Informações Fones: (51) 3213-9090 | www.sinepe-rs.org.br ISSN: 1806-7123 Educação em Revista não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias assinadas, que expressam apenas o pensamento dos autores, não representando necessariamente a opinião da revista. Por motivos de espaço e clareza, as cartas e artigos poderão ser resumidos.
Quem defende a bandeira da educação torce com a gente pelo Brasil.
O ano avança com ares de festa e um clima de sonho que está se realizando. Brasileiros se unem em um grande movimento para celebrar o principal torneio do esporte mais popular do mundo. A emoção se instala em cada coração. A união de todos é essencial para receber bem quem vem de longe. Nossa seleção precisa de você para entrar em campo. Seja uma escola parceira da Rede Pitágoras. Amplie essa torcida.
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SALA DE AULA
A literatura no Enem
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Por A ndré Dor nelles Pa res
Exame Nacional do Ensino Médio, Enem, é polêmico desde sua criação, em 1998. Atualmente, uma das discussões que surgem da academia são os conteúdos requisitados – ou não requisitados – para a prova. Uma pesquisa elaborada na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS, vem apontando a desnecessidade de boa parte do que seriam os conteúdos programáticos da disciplina de literatura para se responder às questões da matéria no Exame. A pesquisa levou em conta as provas do Enem de 1998 a 2010 (incluindo a prova que vazou, em 2009) para descobrir que pouco mais de 10% das questões envolvem literatura. O problema não seria exatamente este. De acordo com os pesquisadores acadêmicos, adviria da constatação de que conteúdos ligados a clássicos da literatura nacional, como Guimarães Rosa, Nelson Rodrigues e Álvares de Azevedo, por exemplo, teriam aparecido somente uma vez cada, até hoje, em todas as provas. Segundo a pesquisa, 164 questões, de 1233 já elaboradas pelo Enem (de todos os conteúdos), envolveriam literatura. Destas 164, metade seria de literatura “estrito senso”. Por “estrito senso” os critérios da pesquisa entenderam literatura como qualquer manifestação (escrita) que envolvesse fruição estética. Neste grupo estão textos críticos, letras de canção, quadrinhos, além de textos literários tradicionais, contos, romances, poemas, etc. Para este bloco das 164 questões, a investigação aponta mais números. Perguntas envolvendo o escritor Carlos Drummond de Andrade aparecem 19 vezes – o que o torna o autor mais presente. Em seguida, Machado de Assis e Manuel Bandeira têm sete aparições cada. Outro
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Pelas provas do Enem, leitura de clássicos da literatura seria desnecessária
dado: entre os dez artistas que mais têm presença no Exame, há três quadrinistas: Quino (de “Mafalda”), com cinco vezes, e Jim Davis (de “Garfield”) e Bob Thaves (de “Frank e Ernest”), ambos com quatro. As histórias em quadrinhos somam 19% das 164 questões de literatura. Por sua vez, romance, conto e crônica, 26,7. Poesia e letra de canção, 42.
As conclusões da pesquisa Com base nos números encontrados e na avaliação do que pedem as questões ligadas à literatura no Enem, os pesquisadores concluem que, para responder a cerca de 80% delas, as aulas de literatura seriam dispensáveis. A conclusão se baseia na constatação de que grande parte das questões exigiria do estudante interpretação de texto,
sem pedir “relações históricas, entre outros períodos literários, contextos estéticos e traços de teoria literária”. O mais preocupante para os investigadores seria o fato de que dentro dos 10% das questões do Exame ligadas à literatura, apenas 17% destas teriam relação com competências relativas à matéria, levando-se em conta as matrizes do MEC. Para a área de “Linguagens, Códigos e suas Tecnologias”, dentro da qual se situa a literatura, a Matriz de Referência do Ministério de Educação aponta nove competências exigidas. No fim das contas, segundo os pesquisadores, o número de questões dentro de uma prova do Enem que exigiria o conhecimento de “conteúdos” da disciplina de literatura não chegaria a cinco. Para o professor Fábio Pinto, de Linguagem e Comunicação na ESPM e Literatura no Colégio Americano, é quase nenhuma a exigência de algum conhecimento específico sobre literatura. O que há é um predomínio da interpretação (o que exige leitura, mas não de obras literárias). “Não sou contra o Enem”, afirma, “mas a interdisciplinaridade que ele propõe deveria agregar, e não excluir conteúdos”. O professor Paulo Seben, do Pós-Graduação em Letras da UFRGS, lembra que se não se deve cristalizar o cânone, também não se pode fingir não haver uma longa tradição literária ocidental que precisa e merece ser preservada. “A História e a Sociologia da
Literatura extrapolam o limite da fruição preciso entender que “as disciplinas seriam dos textos e se tornam importantes instru- apenas os meios, e as competências, os fins”. mentos de análise do eu, do humano, da Contudo, o docente entende que em literasociedade e do mundo”. tura, por exemplo, haveria uma “derrapada” Em um par de textos publicados, o profes- da prova, ao dar mais ênfase a textos de sor Luis Augusto Fisher, jornal e história em quada UFRGS, e seu grupo drinhos do que a clássicos Para vêm afirmando que literários. O problema, no uma das consequências entanto, não seria o projeto responder a do Exame Nacional é do Exame, mas a maneira cerca de 80% como vêm sendo elaboraacabar alterando currículos do Ensino Médio, das as provas. das questões assim como os vestibuEntendido, entre espelares sempre o fizeram. cialistas, como aquele ligadas à Com a constatação da que desvia o foco do proliteratura desnecessidade da maioblema central do Ensino ria dos conteúdos espeMédio – a discussão de um no Enem, as cíficos da matéria para currículo pertinente às deaulas seriam o Enem, tudo aquilo que mandas contemporâneas –, seria próprio – e, portano Enem não nasceu com dispensáveis to, sua riqueza sobretudo esta ênfase. Ao recebê-la, em termos culturais – da acabou tornando-se indudisciplina de literatura estaria ameaçado, tor de currículos do Ensino Médio. Fato que dentro de um ponto de vista pragmático se pode notar quando escolas passam a incom vistas ao Exame. cluir entre seus conteúdos matérias como história afro-brasileira e indígena, por Dentro do Enem exemplo. Inclusão devido à nota do Exame Um dos criadores do Enem, o profes- ser critério de entrada na quase totalidade sor Nilson Machado, da Faculdade de das universidades do país. A UFRGS, uma Educação da USP, considera que a prova das últimas universidades públicas resischamou atenção aos conceitos de competên- tentes ao considerar o Enem para ingrescias e habilidades no cenário da educação so, já anuncia que o fará no próximo ano. nacional. Assim, não alteraria o currículo, Provavelmente aceitando as condições nas mas daria importância ao contexto. Seria quais a literatura é exigida.
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GESTÃO
Educação privada sob ameaça de intervenção
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Por Vív ian Gamba
ensino privado está prestes a sofrer mais uma interferência do governo federal com a criação do Instituto Nacional de Supervisão e Avaliação do Ensino Superior (Insaes). O projeto de Lei 4.372/2012 está em trâmite no Congresso Nacional, e o Ministério da Educação (MEC) justifica que a nova autarquia aprimorará e tornará o sistema mais eficiente, mas essa medida está sendo vista pelas entidades representativas das instituições de ensino como mais uma forma de o governo controlar a livre iniciativa do ensino privado. “Apesar de o setor necessitar de agilidade para o encaminhamento dos seus processos, da forma como foi apresentado no projeto de lei, não aprovamos nem apoiamos. O instituto fere a autonomia constitucional das instituições de ensino, cria taxas extras apenas para o setor privado e insere o ensino básico nos temas do instituto”, declara a presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares, Amábile Pacios. Ela acredita que o MEC está buscando “minimizar o prejuízo de sua burocracia”. “Porém, poderia tornar os seus processos mais eficientes ampliando o corpo técnico”, aponta. O secretário da Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior do MEC, Jorge Messias, afirma que o Insaes será a entidade responsável pelas atividades referentes a avaliação e supervisão das instituições de educação superior no sistema federal de ensino, e pela certificação das entidades beneficentes que atuem na área de educação superior e básica. “O objetivo do Ministério é exercer, em melhores condições técnicas e de forma ainda mais qualificada, a atividade de avaliação e supervisão da educação superior no Brasil,
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Insaes poderá descredenciar instituições, desativar cursos e até aplicar multas
de modo a proporcionar a estabilidade necessária à evolução e expansão do sistema, a assegurar confiança dos alunos e do próprio setor regulado e a atingir objetivos nacionais de excelência da educação superior.” O integrante da diretoria do SINEPE/ RS e conselheiro no Conselho Estadual de Educação (CEED), Ruben Werner Goldmeyer, diz que as tentativas de intervenção no ensino privado são históricas. “Voltemos nossos olhos ao passado. No Rio Grande do Sul, em especial, a partir da colonização, quando o Estado não cumpria seu papel de dispor escolas às comunidades de escolas, essas se organizavam e mantinham as suas – foi o surgimento das escolas de livre iniciativa. Percebemse já a partir dos lobbys da Constituinte, na década de 80, movimentos organizados, impulsionados ou não por partidos políticos, almejando uma ‘escola pública,
gratuita e única’. A Constituição brasileira consagra e refere uma escola pública e gratuita a todos os cidadãos brasileiros, mas aberta à iniciativa privada e não única”, afirma o representante, que também é Diretor Geral do Instituto de Educação Ivoti. Ele acredita que esse “movimento ideológico por uma escola única” continua por meio de “ações muito concretas, como a substituição do Conselho Federal de Educação pelo Conselho Nacional de Educação, a organização de conselhos estaduais e municipais menos representativos e democráticos – no RS isto continua sendo exceção – e uma ação clara atual do MEC no sentido de implantar no país um ‘Sistema Único de Educação’, sem deixar claro, por ora, o que isto vai significar”. A baixa representatividade do ensino privado na Conferência Nacional de Educação (Conae) é outro ponto em discussão. “Desde
representativas tiveram uma redução sigé o de induzir e assegurar a qualidade nificativa na participação. Outras entidades de instituições e cursos. “Considerando têm muito maior representatividade, verifio dever de Estado, que incumbe ao cando-se claramente que tudo está organiMinistério da Educação, de tutelar a eduzado dentro de uma ‘esfera democrática de cação superior segundo os preceitos constidecisão’. Os processos democráticos acontucionais e legais de garantia da qualidade tecem dentro da prerrogativa de sempre deda educação superior ofertada, uma vez cidir ‘democraticamente’ o planejado pelos identificados resultados insatisfatórios nos gestores. Parece-nos que indicadores de qualidade este é um desafio intransde cursos e Instituições As entidades ferível para as lideranças: de Educação Superior, como manter um espaço o MEC deve adotar as ainda não para aquelas escolas que providências necessárias marcaram presença neste para induzir a melhoria perceberam país antes que o Estado das condições de oferta a intenção brasileiro reconhecesse nessas instituições via necessidade de escolas sando à proteção dos clara do MEC para o povo brasileiro.” estudantes.” Segundo ele, O Insaes, por exemplo, o controle “forte e critede unificar o poderá aplicar punições rioso é essencial nessa sistema”, como descredenciamento atividade vital para o institucional, desativação desenvolvimento do país. Ruben Goldmeyer de cursos, redução de Qualidade exige parâmevagas, inabilitação dos tros transparentes e rigodirigentes para cargos de rosos, requer aferição e, gestão em instituições de educação supenaturalmente, controle. Não há excessos rior de até dez anos e multas. Questionado por parte do Estado, quando se trata de atisobre o suposto excesso de controle por vidade de interesse absoluto da sociedade parte do governo, Messias disse que o brasileira e se insere no plano da estratégia principal objetivo da atividade regulatória nacional de desenvolvimento.” Etges diz que são várias as situações que preocupam as entidades representativas do ensino privado em relação a esse movimento do governo, entre elas a questão da sustentabilidade das instituições de ensino, a garantia constitucional da livre iniciativa e a garantia da autonomia administrativa e pedagógica dos estabelecimentos de ensino. “Algumas questões que foram debatidas e aprovadas nas etapas estaduais vão de encontro a essas questões e pretendem impingir à iniciativa privada questões típicas da administração e da gestão pública. Tais questões não garantem a autonomia das instituições, o que poderá gerar impasses e ilegalidades.” O dirigente do SINEPE/RS defende a união de forças entre o público e o privado para buscarmos efetivamente alcançar, em todos os níveis, a qualidade e a excelência no ensino e na aprendizagem. “Enquanto não superarmos essa dicotomia, infelizmente, todos perdem, especialmente Conae teve baixa representatividade do ensino privado os destinatários, nossos estudantes.”
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Cristhine Genro/Secretaria Estadual de Educação
o momento em que comecei a participar das reuniões do Fórum Estadual de Educação (FEE/RS), questionei a representatividade do ensino privado. Entendo que, pela pluralidade de situações que vivemos, a ideia é abranger o maior número possível de pessoas e entidades. Mesmo assim, dada a longa história do ensino privado, o papel que sempre exerceu e exerce e a abrangência que tem no número de matrículas em todo o Brasil, deveria haver participação maior”, alega o integrante da diretoria do SINEPE/RS Adelmo Etges. Para ele, o objetivo principal da Conae é o ensino público, e o ensino privado foi convidado a participar. “Somente com a realização das etapas municipais e estaduais é que alguns itens relacionados ao ensino privado foram levantados, mas quase sempre com viés de aplicar os mesmos preceitos de organização e estrutura da escola pública para a escola privada, o que é tido como inconstitucional.” Etges afirma que a atuação no ensino é livre para a iniciativa privada. “Não pode haver ingerência de um sobre o outro. Cada um tem sua dinâmica, forma de se organizar, se estruturar e se adequar às leis do país.” Para Goldmeyer, as entidades ainda não perceberam a “intenção clara do MEC de unificar o sistema”. “As entidades
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DICA DE MESTRE
Música para as Leis de Newton Sem dúvida nenhuma a Física está entre as disciplinas que, estatisticamente, apresentam maior número de alunos com dificuldades durante o processo de aprendizagem. É assim desde o meu tempo de estudante do Ensino Médio, na época 2º grau. O tempo passou, ingressei na graduação no Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), me formei, e os índices continuam os mesmos. Pensando nisso, desde que concluí a Faculdade e passei a dar aulas, em 2013, meu objetivo é tornar os conhecimentos da matéria mais contextualizados, propondo atividades nas quais os alunos realmente interajam com os conceitos trabalhados. Desse desejo surgiu o projeto Física Music Awards (FMA.). Realizado com a 2ª série do Ensino Médio do Colégio João XXIII, o FMA, como ficou conhecido, desafiou a gurizada a transformar as Leis de Newton em música. Inspirado em uma atividade criada pelo colega Luciano Denardin, na época em que eu ainda era estudante, o projeto foi desenvolvido durante o 3º trimestre de 2013 em dois momentos. Primeiro, os alunos divididos em grupos elaboraram as letras das músicas. As canções deveriam, além de apresentar a teoria, explicar e exemplificar cada um dos três pilares da Mecânica Clássica. Foi um momento de aprendizagem muito rico, porque desenvolver uma letra de música sobre conteúdos de Física é um desafio imenso. Exige do estudante intimidade com aquilo que está sendo produzido, não havendo espaço
Sua escola também tem professores como a Marina, que resolveram velhos problemas com ideias criativas e inovadoras? Escreva para nós e participe dessa seção: educacaoemrevista@sinepe-rs.org.br
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Marina tornou a Física mais interessante para seus alunos
para reproduções de frase. É preciso criar. A elaboração do videoclipe foi a segunda etapa do trabalho. Mais do que ilustrar a canção, o videoclipe deveria complementá-la. Imagens e vídeos da internet, e, principalmente, a atuação dos alunos em frente às câmeras estavam entre os principais objetivos dessa etapa. Para finalizar, os vídeos foram assistidos em conjunto, quando todos os grupos tiveram a oportunidade de compartilhar reflexões e expor impressões sobre o projeto. Ouvindo-os, compreendi que o FMA proporcionou um momento de aprendizagem diferente do tradicional. Em sala de aula, durante atividades relacionadas ao conteúdo, percebi que o objetivo do FMA foi alcançado, porque os estudantes, finalmente, conseguiram unir teoria e prática. Além de lembrar das peculiaridades e características de cada uma das leis, os alunos entenderam que um corpo pode se movimentar sem que exista uma força resultante atuando sobre ele, pois a força está vinculada à aceleração e não à velocidade diretamente. Essa compreensão é o
início de mudança conceitual em relação à Física que nós, professores da disciplina, tanto queremos. Muitas vezes, foi possível ouvi-los cantando, inclusive, em momentos que antecederam as avaliações. Se para esses alunos a Física carregava um estigma de ciência complicada e, muitas vezes, pouco humana, acredito que, por meio dessa atividade, eles perceberam que estudar Física não se resume a decorar fórmulas e trabalhar com números e exercícios. Estudar Física é um desafio à reflexão sobre o mundo que nos cerca, buscando entendê-lo e descrevê-lo cada vez melhor. Em 2014, o projeto será mantido e, quem sabe, outros conteúdos ganharão novas maneiras de ser estudados. Marina Valenzuela
Professora de Física do Ensino Médio do Colégio João XXIII de Porto Alegre
Assista aos videoclipes produzidos pelos alunos
INTERNACIONAL
Mão e contramão: sobre mundos e universidades O contraste entre o Hotel Russell, situado à margem inferior da praça homônima, localizada no centro da cidade, e o edifício da administração central da Universidade de Londres, a Casa do Senado, impressiona. Ainda mais quando se toma conhecimento de que o primeiro foi construído em 1898 e o segundo entre 1932 e 1937. Mesmo para a velocidade de hoje, não é trivial que trinta e poucos anos tenha tido efeito tão profundo numa cultura. O estilo “chá com leite” do requintado prédio com detalhes em terracota, inspirado em domicílios reais, nada tem a ver com a arquitetura Art Deco do austero maciço em concreto erigido à margem superior da praça e que durante a segunda guerra serviu de abrigo ao ministério da informação do Reino Unido. Poucos anos e metros separam as duas imponentes edificações; já os mundos nos quais surgiram são irreconciliáveis. Cruzo, diariamente, essa praça e com ela atravesso dois outros mundos que não estão sequer ali, em pedra e cal, mas que caminham comigo e sobem até o Instituto de Filosofia, um dos vários institutos de pesquisa da Escola de Estudo Avançado da Universidade de Londres, que também tem abrigo na Casa do Senado. Refiro-me aos mundos acadêmicos brasileiro e britânico. Um no qual trabalho e o outro no qual estou de passagem, numa missão de pesquisa por alguns poucos meses. Não há universidade gratuita na Inglaterra, embora haja universidades públicas. No primeiro dia em que fui ao Instituto, no início de dezembro passado, deparei-me com um protesto estudantil que pedia a revisão do aumento das taxas cobradas pela universidade e melhoria no pagamento do pessoal de nível inferior: atendentes e faxineiros. Como parte dos protestos, os estudantes ocuparam a
reitoria. Sim, a Casa do Senado! Aturdido com o inusitado, um colega britânico inquietava-se que eu tivesse chegado justamente em meio àquela movimentação, certamente improvável na minha instituição. Nossos mundos tinham acabado de se cruzar, pois eu saíra da Unisinos com a reitoria invadida. Semelhanças, contudo, por vezes iludem. O sistema britânico de educação superior tem estado sob pressão desde a eclosão da crise financeira em 2008. Há muito dinheiro público envolvido nas instituições, e o governo, tangido a fazer substantivos cortes de gastos, tem exigido delas mais eficiência, maior produtividade e compromisso com a empregabilidade de seus futuros ex-alunos. Isso mesmo, capacidade da instituição de melhorar a vida daqueles que pagam para nelas estudarem. Coisa que é medida e levada em conta na distribuição dos recursos públicos para essas instituições pagas. Parecem ir na direção correta. O pragmatismo da exigência não destoa, pelo menos qualitativamente, do espírito reinante na administração das universidades. O sistema de ensino superior britânico tem algumas das melhores instituições acadêmicas do mundo e sabe que não pode sobreviver na competição acadêmica global se não souber administrar com sagacidade os recursos que têm para manter os melhores professores, atrair os melhores alunos e, claro, arrecadar ainda mais recursos. A preocupação com a excelência, acadêmica e de gestão, é, pois, quase obsessiva, mas o cuidado com os estudantes também. Cérebros não nascem prontos; nascem em qualquer lugar e fazem sempre a diferença. A autonomia de que gozam as instituições universitárias britânicas não discrepa daquela que suas melhores congêneres
Universidades são públicas, mas não gratuitas na Inglaterra
em outros países têm. Comparadas, entretanto, com a das nossas universidades, mesmo as particulares, estão em um universo paralelo. Enquanto tento costurar diferenças em meio a carros que circulam ao contrário, leio no noticiário brasileiro que a USP, nossa melhor, mais rica e mais autônoma universidade, gasta 100% de seus quase 4,5 bilhões de orçamento estatal com pessoal e custeio e não está sequer entre as 150 melhores do mundo. Será que estamos na contramão? Adriano Naves de Brito
Professor de filosofia na Unisinos e decano da Escola de Humanidades. Está como professor visitante no Instituto de Filosofia da Escola de Estudo Avançado da Universidade de Londres.
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Jair de Souza Design e Grupo do Rio
TENDÊNCIAS
Aulas ocorrem em grandes salões e alunos são reunidos em grupos, as chamadas famílias
Ensino para desenvolver autonomia
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Por A na Cr ist i na Basei
o estimular que seus alunos fossem autodidatas e apostar na autonomia intelectual de cada um, o Colégio Fontán, instituição privada em Bogotá, na Colômbia, aprimorou um sistema que hoje faz parte de um seleto grupo de escolas mais inovadoras do mundo pesquisado pela Microsoft. Inspirada nesta iniciativa, e em outras como a School of One, a Quest to Learn, ambas de Nova York (EUA), e a Escola da Ponte, de Portugal, a cidade do Rio de Janeiro busca implementar grandes mudanças. E é neste início de 2014 que o projeto recente mais especial começou o seu ano letivo de consolidação. O Ginásio Experimental de Novas Tecnologias Educacionais – Gente – já está recebendo 240 alunos, dos 7º, 8º e 9º anos, para ter aulas sem separação de turmas e salas, nada
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de quadros, lousas ou mesas particulares, baseadas na apropriação tecnológica para um ensino personalizado e transdisciplinar, além de avaliações por competências. Tudo acontece dentro de famílias e times, orientados por “professores mentores”. Gente O projeto Gente começou a ser realizado em 2013, na Escola Municipal André Urani, da Rocinha. “São três premissas fundamentais: o aluno no centro do processo de ensino, como o seu protagonista; um professor que deixa de ser o detentor único do conhecimento, para atuar muito mais como facilitador e motivador; e foco na personalização da aprendizagem por meio do uso das novas tecnologias como as principais ferramentas”, explica o subsecretário de Novas Tecnologias
Educacionais do Rio de Janeiro, Rafael Parente. Para sua implementação, a iniciativa custou R$ 3,5 milhões; a prefeitura fez parceria com 16 empresas privadas e o Ministério da Educação. No primeiro ano, desenvolveu-se com 180 crianças, entre 12 e 14 anos, e 16 professores. E obteve melhorias nas notas de português, matemática e ciências na comparação com as outras instituições da rede, pois as avaliações são iguais. Na prática, os estudantes têm seus itinerários informativos – diagnóstico que indica o que é preciso aprender – e metas por semana. Eles estudam em grandes salões, reunidos em grupos de seis pessoas, as famílias, mas basicamente sozinhos. Cada um com o seu conversível – espécie de tablet – controla a própria formação. Apenas orientados pelo professor quando sentem necessidade, vão se instruindo sobre as
matérias tradicionalmente conhecidas na plataforma chamada Educopédia. “Podem estudar mesmo fora do ambiente escolar, e escolhem quando estão prontos para serem avaliados, e, assim, avançar em cada tema”, conta Parente, Doutor em Educação. As provas, também via sistema online, são feitas sob a supervisão da escola. Cada docente fica responsável por até três famílias, isto é, 18 estudantes – um time. Somente há aula expositiva, com professor especialista, durante os reforços, uma vez por semana. “O professor mentor precisa conhecer e atuar de forma bem abrangente. Mas o fundamental é estimular o aluno a aprender com autonomia, caminhar com as próprias pernas. Ele é como o arquiteto que garante a personalização do processo de aprendizagem e que nenhum aluno seja deixado para trás.” Pedagogia centrada na relação O doutor em Psicologia Escolar pela Universidade de São Paulo, Fernando Becker, considera muito positivo o estímulo
à pedagogia ativa que projetos como este colocam em prática, pois avalia que o objetivo de um estudante na sala de aula não é ouvir, mas fazer. “No entanto, não creio que modelos muito focados na tecnologia, em ensino por instrumentos, e uma instituição excessivamente centrada no aluno sejam os ideais”, afirma o professor, Titular de Psicologia da Educação na UFRGS. Para ele, as metodologias clássicas, em que o professor é o centro, com certeza já estão ultrapassadas. Por que não aprender com os outros colegas e os professores aquilo que o aluno, comprovadamente, ainda não sabe? “Simplesmente inverter papéis, colocando a criança como protagonista, acaba desautorizando o docente e o próprio ensino”, reflete. Becker também avalia que a educação por projeto necessita ser eminentemente interdisciplinar. “Qual a serventia de continuarmos repassando as matérias formais de sempre? Normalmente, são disciplinas que caducam e não cumprem uma função efetiva na vida. Precisamos saber conectar conteúdos que sirvam para
enfrentar problemas, criar soluções, aprimorar habilidades e inovar, e não acumular teorias”, orienta. Segundo o especialista, quem desenvolve essas competências é o próprio sujeito, mas a escola tem o objetivo educacional de criar situações para que ele entre nesse processo por meio de uma prática orientada teoricamente. O aluno só avançará em suas capacidades ao fazer e ao saber como e por que o faz. “E a função de aliar conteúdos e práticas é responsabilidade do professor. O docente é quem pode garantir que isso se concretize. Nossos investimentos no Brasil, nesse sentido, precisam se voltar muito a eles. É bastante complexo criar novas metodologias que atendam a esta visão, mas, certamente, não se constrói um novo projeto educacional sem ‘construir’ novos professores”, aponta.
Vídeo traz detalhes de como funciona o projeto Gente
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OPINIÃO
Fator diferencial na vida e no trabalho: a gestão das emoções A entrada neste novo ano de 2014 ressentimentos; pessoas que têm tendência convida-nos a refletir sobre um tema que a fazer críticas depreciativas, colocando tem sido decisivo, diria, em alguns casos, em demérito o trabalho dos outros; que se determinante na vida de muitas pessoas, envolvem em maledicências e atitudes vinquer pelas doenças que vêm acumulando, gativas; que só enxergam um lado ruim nas coisas e nas pessoas... Só de olhar para a fiem razão do stress, quer pelas perdas de sionomia, é possível logo diagnosticar esse oportunidades de crescimento no ambiente de trabalho: o gerenciamento das emoções. tipo de pessoa que não aprendeu a gerenciar suas emoções, a educar seus sentimentos e Daniel Golemann, no livro “Inteligência que envenena qualquer ambiente ou relação. emocional – A Teoria que Redefine o que É Ser Inteligente”, traz contribuições rele- Não esqueçamos do velho provérbio que anuncia: “Os olhos são as janelas da alma” vantes para melhorar a nossa qualidade de vida e o nosso desempenho profissional, e da passagem bíblica que sublinha: “A boca fala do que o corapois as instituições ção está cheio”. estão a exigir, cada Precisa-se de Todos desejam cervez mais, altas performances em termos de pessoas que sejam car-se e conviver com pessoas que passem habilidades sociais, de automotivadas, uma energia boa, moequilíbrio emocional, tivadora, pessoas que gerenciamento intesuficientemente, nos sejam inspiradoligente das emoções, como postura de vida, para assumirem a ras! Mario Quintana aconselhou-nos sobre até mais do que um responsabilidade como fazer para ser quociente intelectual assim: “ O segredo elevado. E tudo por de se melhorar a não é correr atrás das quê? Porque as empreborboletas... É cuidar sas precisam cuidar cada dia” do jardim para que das pessoas que gerenelas venham até você!”. ciam os processos, em Mas não são só as pessoas que estão sendo vista do alcance de resultados. mais seletivas nas suas relações interpesPara cuidar das pessoas é preciso soais; as empresas, igualmente, estão buscuidar do clima organizacional. E não tem nada que contamine tão negativa- cando e selecionando, para integrar seus quadros de colaboradores permanentes, mente um ambiente de trabalho do que pessoas mal-humoradas, desmotivadas, pessoas diferenciadas. Precisa-se de pessoas que sejam mais com baixo nível de tolerância, que vivem cooperativas, entusiasmadas, interessabuscando causas para só reclamar; que das em aprender a fazer diferente, inovar, elevam o tom de voz quando discordam de alguém ou de alguma ideia, provocan- inventar, reinventar-se, pessoas comprometidas, que se envolvam, efetivamente, do discussões vazias, gerando conflitos e
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com o seu crescimento pessoal e da instituição para a qual trabalham. O psicoterapeuta José Angelo Gaiarsa sentencia: “Quem não se envolve não se desenvolve!”. Precisa-se de pessoas que promovam relações de paz, que busquem, contínua e cotidianamente, aprender a trabalhar e superar conflitos, não dissimulando-os, mas enfrentando-os, com diálogo conciliador, com atitude de humildade, buscando aprender lições e aperfeiçoar-se, sem ficar guardando mágoas ou cultivando atitudes vingativas ou de ressentimento. Precisa-se de pessoas que sejam automotivadas, suficientemente, para assumirem a responsabilidade de se melhorar a cada dia, a cada ano, sem precisarem ser provocadas para isso; enfim, precisa-se de pessoas que aprendam a autoadministrar-se para se desenvolverem como seres humanos e como profissionais, para serem felizes, realizadas, e que possam, também, fazer os outros felizes! Esse é, pois, nosso maior desafio para 2014 e para todos os anos de nossa vida, nesta efêmera passagem pelo planeta Terra. Temos uma missão por aqui! Que possamos cumpri-la com prazer e alegria de viver, de conviver e de trabalhar! Marisa Crivelaro da Silva
Graduada em Letras, pós-graduada em Psicopedagogia e Docência do Ensino Superior, MBA em Gestão Educacional, MBA em Comportamento Organizacional, Mestrado em Educação. Outros textos disponíveis em http://marisacrivelaro.blogspot.com.br/
LEGISLAÇÃO
Inclusão educacional alunos com deficiência A Revolução Francesa, sabidamente, inicialmente, da Lei nº 7.853/89 e, mais proclamou três grandes metas: liberdade, recentemente, da Convenção sobre os igualdade e fraternidade. As duas primeiDireitos das Pessoas com Deficiência, ras matizaram os confrontos e avanços firmada em Nova Iorque e aprovada sociais ocorridos ao longo dos séculos 19 pelo Brasil com status de emenda conse 20. A terceira, hoje mais bem compreentitucional. A Lei nº 7.853/89 criminadida sob o mote da solidariedade, aguarda lizou a recusa de matrícula no ensino mais desdobramentos e condução mais regular, mesmo em instituições privadas, articulada. Compatibilizar a implementaquando não haja justa causa. A referida “Preferível” não se confunde com obrição destas metas é um dos grandes desaConvenção preconiza inclusão ampla. gatório. Se o constituinte utilizou o advérfios do século atual. Mas, atenção: a Lei 7.853/89, ao mesmo bio ‘preferencialmente’ é porque desejou A inclusão social tornou-se, recentetempo que prevê tal inclusão, inclui as evitar a compulsoriedade, até mesmo em mente, um ponto de inflexão para estas chamadas escolas especiais no âmbito relação às escolas públicas. E assim o fez metas. É preciso incluir — o que implido ensino regular. Vale dizer: a inclusão porque as necessidades especiais, sendo ca os objetivos de igualar e fraternizar, não deverá, necessariamente, ocorrer nas múltiplas e diversificadas, não recomencontemplando, ainda, as especificidades chamadas classes comuns. Sempre que as dam tratamento uniforme. Além disso, o de cada um, sem, todavia, circunstâncias recomendem comprometer a liberdade. atendimento especializado, dever é do Poder Público e a “preferenciaÉ possível lidade” tem por endereço a rede regular. Mas não basta apenas o aluno com deficiência e desejável E a rede regular, já se viu, compreende, exigir inclusão, é preciso poderá ser direcionado para também, as escolas especiais. torná-la viável. Como escola especial e, a despeito trabalhar O mais importante, contudo, é vislumfazê-lo dentro dos recursos disso, continuará inserido brar caminhos de convergência. Que, existentes? Como alocar no ensino regular, o que numa de fato, existem. É possível e desejável as verbas orçamentárias poderá justificar eventual perspectiva trabalhar numa perspectiva inclusiva. necessárias para isso? recusa por parte de escola Parênteses: cerca de 2 em cada 3 alunos Como repartir os ônus que não seja especial. inclusiva” especiais matriculados no RS são atensociais da inclusão? Como Quanto à Convenção, é didos na rede privada. Mas é preciso, fazer a ponderação entre preciso registrar que ela também, atentar para os direitos e conestes vetores? A quem cabe o ônus fundanão só admite que os países signatários veniências dos outros alunos. Afinal, mental dessa compatibilização: ao Estado a implementem “em conformidade com nem sempre a plena inclusão, nas classes (Poder Público) ou à sociedade? seus sistemas jurídico e administrativo” comuns, favorece o aluno com deficiênDentro do cenário mais amplo da in- (art. 33, 2) como também ressalva o que clusão e das políticas públicas que lhe denomina de “adaptação razoável”, que, cia, e, em muitos casos, compromete o são afetas, o tema das pessoas com defipor sua vez, expressamente contém veda- ensino dos alunos “não especiais”. De um modo geral, todos os que adenciência tem atraído crescente discussão, ção de “ônus desproporcional e indevido” tram no difícil terreno das mazelas operasobretudo no que tange à participação (art. 2º). Se ela deve ser ajustada ao sistecionais ficam propensos a evitar radicadas escolas privadas. Há quem diga que ma jurídico interno do país signatário, sua lismos — principalmente os radicalismos esta participação é compulsória. Há quem compreensão terá de considerar a norma de gabinete — mesmo quando estes queidiga o contrário. E há os que simplesmencontida no artigo 208 da CF/88, no qual ram apresentar-se, à primeira vista, como te defendem uma atuação circunscrita se estipula que “O dever do Estado com “politicamente corretos”. Enfim, o tema às possibilidades de cada estabelecia educação será efetivado mediante a garequer bom senso. mento, sem mesmo entrar no tema da rantia de: (...) III – atendimento educaciocompulsoriedade. nal especial aos portadores de deficiência, Quem estende a inclusão ampla e compreferencialmente na rede regular de Jorge Lutz Müller pulsória ao ensino privado socorria-se, ensino” (sublinhamos). Coordenador da assessoria jurídica do SINEPE/RS
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EM DEBATE
Educação Física nos anos iniciais do Ensino Fundamental Eduardo Merino*
A Educação Física escolar sempre teve papel importante da educação física é prerrogativa dos profissionais habilitados ao na formação integral dos indivíduos, estando presente nos exercício profissional, formados em Educação Física. Em 2010, a Resolução CNE/CEB 07/2010, no art. 31, estabecurrículos escolares há bastante tempo. Podemos observar inclusive uma valorização maior deste componente curricular leceu que o professor referência da turma, do 1º ao 5º ano do na medida em que as pesquisas científicas vêm apontando a ensino fundamental, poderia atuar no componente curricular importância da prática das atividades físico-desportivas no educação física. O Conselho Federal de Educação Física ajuidesenvolvimento psicomotor, cognitivo, afetivo, do caráter e zou ação contra a União e teve sentença favorável no sentido de garantir o professor especializado, respaldado na Lei 9696/98. promoção da saúde. O docente da educação física é um profissional da saúde que O PL 103/2012, do senador Ivo Cassol, propõe que somenatua pedagogicamente com competência para te profissionais formados em educação avaliar e prescrever qual a melhor atividade física possam ministrar os conteúdos da O docente da para os alunos e seu desenvolvimento físico e educação física na educação básica. O mental, dentro de parâmetros saudáveis. Por projeto é importante, pois visa garantir educação física é meio da avaliação de cada aluno é possível um atendimento especializado que busca detectar problemas aliados a motricidade, a qualidade das aulas de educação física, um profissional aspectos funcionais e doenças como a obesitrazendo alguns elementos para discusda saúde que atua dade, entre outros, promovendo a saúde dos são do tema. Primeiro, o ponto de vista Vale destacar os dados epidemiológilegal que estabelece dispositivos de gapedagogicamente” alunos. cos que colocam o aumento de sedentarismo rantia da educação física na escola, e seentre crianças e o Rio Grande do Sul como gundo, os aspectos da competência e forcampeão na obesidade infantil. Do ponto de mação profissional. A discussão é sobre quem deve ser o dinamizador das atividades de educação física vista pedagógico possuem conhecimentos sobre os elementos da cultura corporal e do movimento humano proporcionando nas séries iniciais, o professor referência ou o especializado. Basicamente duas leis tratam do tema. A Lei 9394/96, que vivências corporais, dentro de uma perspectiva humanista que estabelece as Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira busca a formação cidadã. É farta a literatura científica que (LDB), e a Lei 9696/98, que regulamenta a profissão da alerta para a importância das atividades físicas no desenvolEducação Física, que não são conflitantes entre si, na verdade vimento infantil. Nas séries iniciais, as crianças precisam de se complementam dentro do ordenamento legal brasileiro. A lei estímulo e orientação para desenvolver as habilidades motoras 9694/96 caracterizou a educação física como componente cur- fundamentais, como correr, saltar, equilibrar-se, ter noção de ricular da educação básica, integrada à proposta pedagógica da tempo e espaço, além da socialização. Para uma educação de qualidade é fundamental a presença escola. A Lei 10.328/2001 alterou o artigo 26 da LDB, tornando a educação física componente curricular obrigatório da educação do professor de educação física nas séries iniciais. básica. A Lei 9696/98 estabeleceu que o exercício das atividades * Professor universitário e presidente do Conselho Regional de Educação Física
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Flavio Dutra – Secom/UFRGS
As atividades de educação física nos anos iniciais do ensino fundamental devem ser ministradas apenas por profissionais da área. A determinação está no Projeto de Lei 103/2012, do senador Ivo Cassol (PP-RO) e divide opiniões. De um lado, os profissionais da área aprovam a ideia por entender que o educador físico está mais bem capacitado para o desenvolvimento físico das crianças. Já outros defendem a flexibilização, considerando as diferentes realidades das escolas brasileiras. Educação em Revista convidou dois especialistas, com opiniões diferentes, para debater o tema, confira:
Paulo Celso Costa Gonçalves *
A sociedade brasileira fez a opção de atribuir à União o papel de Educação Física do 1º ao 5º ano do ensino fundamental sejam de definir diretrizes e estabelecer normas nacionais da educa- ministradas por professor licenciado nessa disciplina. Ela apenas ção. Se por um lado isto possui valor que é inegável, por outro, atribui às escolas a possibilidade de opção entre uma ou outra coloca problemas de difícil solução. Um dos mais complexos é o forma de organização administrativa e pedagógica. A norma de definir regras que possam ser operacionalizadas nas diferen- permite a adequação a circunstâncias como a falta do profissional licenciado ou a dificuldade de compor jornates condições que são observadas no extenso das com professor licenciado. território nacional. Como estabelecer o que A norma não Mas além dessa interpretação sustentada na vai valer tanto na escola que está situada numa experiência real da gestão de escolas e sistemas região metropolitana quanto noutra de uma peimpede que de ensino, há uma outra que envolve um complequena cidade do interior, ou ainda em outra que xo problema pedagógico. Em março de 2013, o funciona no meio da selva amazônica? as aulas de CNE se manifestou especificamente sobre essa O Brasil é feito de diversidade e de muita deEducação questão, por meio do Parecer nº 7 da Câmara de sigualdade. Enquanto há escolas que dispõem Educação Básica. Nesse documento, apontou-se de salas de aulas equipadas com modernos reFísica sejam que a Educação Física, nos primeiros anos do cursos tecnológicos, em algumas a iluminação ensino fundamental, assim como na educação elétrica só recentemente se tornou realidade. ministradas infantil, não deve ser oferecida na forma de uma Como, então, definir normas que valem para por professor disciplina. Ao contrário, ela deve estar inserida todos? Esse é um dos desafios que enfrentam o no contexto de uma proposta pedagógica abranPoder Legislativo, o Ministério da Educação e licenciado gente que contemple a formação das crianças o Conselho Nacional de Educação (CNE). de um modo integral. Seguindo a tradição da No que se refere ao currículo da Educação nessa educação escolar brasileira, o CNE prescreve Básica, a Lei de Diretrizes e Bases da disciplina” que a prática educativa para as crianças deve ser Educação Nacional (LDB) estabeleceu alguns caracterizada pela integração. Assim, o grande componentes curriculares que são obrigatórios desafio para os professores dos primeiros anos nesse nível da educação escolar. É o caso da Educação Física. Para a operacionalização da Educação Básica do ensino fundamental, sejam eles licenciados em Pedagogia na etapa do Ensino Fundamental, o CNE, por meio da Resolução ou em Educação Física, será sempre o de impedir a fragmentanº 7 de 2010, da Câmara de Educação Básica, estabeleceu, dentre ção que caracteriza o ensino organizado por disciplinas. Esse outros aspectos, que nos primeiros anos do ensino fundamental é um desafio que, evidentemente, deve ser assumido, também, “os componentes curriculares Educação Física e Artes poderão pelos responsáveis pela formação desses profissionais, seja ela estar a cargo do professor de referência da turma, ou de profes- a inicial ou a continuada, pois preparar o professor para esse contexto é essencial. sores licenciados nos respectivos componentes”. É importante destacar que essa norma não impede que as aulas * Professor da Universidade Federal de Uberlândia
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Novas ideias para reciclar a escola
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Por Vív ian Gamba
abordagem de questões ambientais, entre elas a conscientização sobre o processo de reciclagem do lixo, já faz parte da rotina da maioria das escolas, mas novos caminhos vêm sendo traçados no que diz respeito ao acesso à informação por parte dos professores – fundamental para que essa cultura tome novas dimensões. Para a especialista em Educação Ambiental e presidente do Instituto Venturi Para Estudos Ambientais, Arlinda Cezar, o trabalho de Educação Ambiental nas escolas é “vital para avançar na qualidade da educação e de vida do país”. No entanto, ainda que a lei preveja o tema (de forma transversal) nos currículos escolares, ela afirma que o grande desafio continua sendo a capacitação dos professores em Educação Ambiental Formal, “para que possam conduzir a efetiva construção de uma cidadania crítica e responsável, capaz de responder aos complexos desafios da realidade contemporânea”. O caminho é longo e talvez por isso muitas organizações ambientais estão usando uma via expressa para chegar às instituições de ensino e acelerar esse processo. Afinal, é a vida do planeta que está em jogo. Um exemplo é a Cooperativa Mãos Verdes, de Porto Alegre, que trabalha com gestão em projetos socioambientais. Numa parceria com a Braskem, indústria petroquímica, lançou o projeto Caminhos da Reciclagem, com o objetivo de proporcionar a professores o conhecimento de toda a cadeia de reciclagem para que eles, é claro, passem essa informação adiante. “A participação dos professores é fundamental. Eles são mobilizadores sociais, transmissores, são multiplicadores do conhecimento. Então, num primeiro momento, esse trabalho é focado neles”, afirma a coordenadora do projeto, Jacqueline Virti. A cooperativa espera que, a partir desse trabalho, os educadores possam ajudar a transformar os
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Lixo é transformado em obra de arte no Colégio Marista Conceição de Passo Fundo
consumidores em cidadãos que contribuam com o processo de reciclagem. Caminhos da Reciclagem Jacqueline explica que o foco do projeto é o plástico, hoje a alavanca econômica nos galpões de reciclagem. O Relações Institucionais Braskem Daniel Fleischer diz que o trabalho busca salientar a imagem positiva do plástico – visto muitas vezes como vilão – para a vida e para a sociedade, a partir do momento em que se “agrega conhecimento por meio da vivência na cadeia da indústria do plástico e da reciclagem, além de mostrar de forma clara e transparente o processo de produção e a existência da reciclagem como algo que gera renda e inclusão social”. Segundo ele, muitos colegas trabalhadores da cadeia petroquímica e do plástico “envolvidos na criação de soluções inovadoras” ficam surpresos com algumas visões e colocações acerca do material. “Nos fez perceber a necessidade de oferecer informações mais
completas”, argumenta Fleischer. Uma experiência vivida pela petroquímica em 2012, quando receberam no Polo Petroquímico de Triunfo estudantes e professores de diferentes lugares do país por meio da organização não governamental Akatu, mostrou que o roteiro estabelecido – de conhecer as unidades produtivas, galpões de reciclagem e o produto final – contribuiu positivamente para a mudança de imagem dos integrantes da ONG e dos professores presentes. “Adaptamos o roteiro e incluímos mais informações voltadas para coordenadores e professores de escolas particulares de Porto Alegre”, conta Fleischer. Essa foi a semente do Caminhos da Reciclagem. O projeto propõe aos professores um roteiro de um dia, com início na indústria petroquímica, onde é mostrado o que a empresa faz, a história dos plásticos, as unidades produtivas e o Centro de Tecnologia e Inovação, além da estação ambiental do Polo Petroquímico. A programação segue
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Precisamos encontrar uma forma de compor interesses em prol da competitividade da indústria”,
Elisabeth Urban
com uma visita ao galpão de triagem de Dois Irmãos, modelo no Rio Grande do Sul, segundo Fleischer. “Lá é possível ver o trabalho numa cooperativa de catadores, que fazem não só a triagem, mas o beneficiamento do plástico, que é lavado, moído e fica pronto para ser comercializado pela indústria”, esclarece Jacqueline.
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Então o grupo segue para um cliente da petroquímica que produz peças com resinas termoplásticas. “É possível ver que a transformação industrial dos plásticos não gera quaisquer agressões ao meio ambiente, nem geração de efluentes líquidos, sólidos, ou poluição ambiental, pois é um processo que usa somente temperatura e pressão para transformar resinas em utilidades plásticas como conhecemos das mais diversas formas”, assegura Fleischer. Ele explica que esse cliente produz ripas de madeira plástica a partir da reciclagem de plásticos pós-consumo. “O que era lixo vira móvel. Muitos deles em uso e em plena harmonia com a natureza, como no Jardim Lutzenberger da Casa de Cultura Mario Quintana.” Conforme Jacqueline, nessa última visita os professores são convidados a engajar suas escolas na cultura da reciclagem, num projeto em que após acumularem uma determinada quantidade de lixo recebem em troca objetos feitos com material reciclado, como mesas, lixeiras e bancos de praça. A ideia da cooperativa é que mais instituições participem do projeto em 2014. “Queremos dar elementos para as escolas, respeitando seu projeto pedagógico, para que consigam, de acordo com o seu perfil e criatividade, desenvolver melhor o tema no local onde atuam.” Geração de renda De acordo com a coordenadora do projeto Caminhos da Reciclagem, atualmente existem 18 galpões de reciclagem conveniados com a prefeitura de Porto Alegre, que geram renda para mais de 500 pessoas. Se considerado o peso, 10% do lixo da Capital é destinado às unidades de triagem. Parece pouco,
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Queremos destacar que a não separação do lixo em casa impede a geração de renda”,
Jacqueline Virti
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Caminhos da Reciclagem mostra aos professores o processo de transformação do plástico
mas porque a comparação é feita em termos de peso, não de volume, que é bastante grande, pondera Jacqueline. O material seco é separado em 36 itens diferentes (vários tipos de plástico, papel, metal e vidro). No final da triagem, alguns produtos, chamados de rejeito, são enviados para o mesmo aterro do lixo orgânico, em Minas do Leão. Jacqueline esclarece que o rejeito pode ser um material cuja comercialização não existe (ainda), como o isopor, ou produtos separados de forma incorreta. “Queremos destacar que a não separação do lixo em casa impede a geração de renda. Estamos trabalhando também as dimensões de solidariedade e inclusão social. Se você quiser ajudar alguém, separe seu lixo. Quanto mais as pessoas souberem disso, mais vai diminuir o rejeito, pode até zerar.” A presidente do Centro de Educação Ambiental (CEA) e Presidente da Associação de Catadores do Rio Grande do Sul, Marli Aires Medeiros, que trabalha no galpão da Vila Pinto, na Capital, afirma que Porto Alegre tem um sistema de coleta seletiva que funciona muito bem, mas “as pessoas não têm consciência ambiental e social”. Ela explica que um percentual desse rejeito pode ser facilmente evitado, quando se tomam medidas como comer o iogurte
até o final antes de colocar o pote no lixo, ou tirar o resto de leite da caixinha. “Não é preciso lavar, porque o material é lavado antes de ir para reciclagem, mas derramar uma caixa de leite na triagem, por exemplo, pode estragar um fardo inteiro de lixo.” O cuidado, conforme Marli, vem do hábito e independe de posição social. “Temos muitas pessoas analfabetas com consciência ambiental tão apurada que não conseguem passar por um material sem pegar e colocar no lugar certo. Mas a falta de consciência é geral, inclusive no Primeiro Mundo.” Conscientização Para Arlinda, tão importante quanto conhecer os problemas ambientais e saber das suas consequências é conhecer a origem desses problemas. “Em outras palavras, não se desenvolve uma consciência cidadã sem informação, esse é o primeiro passo. A partir daí o exercício dos bons hábitos de cuidar dos nossos ‘restos’ é quem determina o comportamento ético e responsável.” A especialista acredita que a introdução da dimensão ambiental no sistema educativo exige novo modelo de professor: “A formação é a chave da mudança que se propõe, tanto pelos novos papéis que os professores devem desempenhar na sua escola como
pela necessidade de que sejam os agentes transformadores de sua própria prática”. Jacqueline diz que de alguma maneira as instituições de ensino já desenvolvem a educação ambiental, com diferentes projetos, e o Caminhos da Reciclagem pode ser um complemento desse trabalho. “Ao participar, o professor não só ouve e vê, mas tem acesso a arquivos de materiais que podem ser usados, como jogos, vídeos. Um conjunto de coisas que eles podem utilizar como ferramenta no trabalho que desenvolvem na escola.” Arlinda afirma que, via de regra, os professores não estão conscientizados a respeito da educação ambiental. “Aqueles que avançaram em geral estão relacionados com disciplinas específicas – biologia, química, artes – e executam ações de fim de tubo, tais como a separação do lixo. Eles entendem a importância da incorporação de critérios socioambientais, ecológicos, éticos, nos objetivos didáticos da educação, mas não compreendem as emergências e a complexidade das inter-relações entre os diversos subsistemas que compõem a realidade. Para um professor de matemática, planificar uma unidade didática de Educação Ambiental ainda é um exercício a ser aprendido.” Mudança A presidente do Instituto Venturi define a crise ambiental no mundo como “a crise do não pensamento”. “Não estamos pensando as nossas ações no dia a dia. Ser um consumidor consciente implica mudanças nas escolhas cotidianas, seja comprar um produto que tenha sido feito com menos recursos naturais ou com material reciclado, seja escolher uma marca de empresas que se preocupa com a sustentabilidade do planeta.” Para ela, o consumidor consciente é antes de tudo um cidadão ético e busca o equilíbrio entre a sua satisfação pessoal, o uso racional dos recursos naturais, um meio ambiente saudável e o bem-estar da sociedade. A diretora pedagógica da Escola de Educação Básica Feevale, Lovani Volmer, afirma que a falta de consciência é uma questão cultural e concorda com Arlinda no que diz respeito aos hábitos. “Muitas pessoas têm a informação e não têm o hábito
“
horta coletiva e a Sucatoteca, de separar o lixo. Não Via de regra, onde as crianças reutilizam basta ter o conhecimenos professores material para fazer brinto. Tem que fazer parte quedos. “São iniciativas da rotina.” Para ela, as não estão múltiplas ligadas à questão crianças exercem influambiental, que inclui preência positiva na famíconscientizados servação, sustentabilidade, lia. “Se elas perceberem a respeito contato com a natureza.” que o pai e a mãe estão gastando muita água, da educação Exemplo vão pedir para desligar.” Lovani disse que, no geral, Lovani acredita que ambiental” não há resistência das famíestá se formando uma Arlinda Cezar lias quando os projetos são geração de adultos mais apresentados. “Na teoria, tudo conscientes, que “aplifunciona. A maior dificuldade é a prática. A carão mais os seus conhecimentos”. resistência aparece nas desculpas, como não A Escola de Educação Básica Feevale deter tempo de fazer um lanche saudável... Na senvolve uma série de projetos voltados para verdade, seria preciso um pouco mais de vona conscientização ambiental. Inicialmente, tade, acreditar que é possível fazer diferente. foram implantadas oficinas no contraturno A importância do engajamento da família é das aulas. “Mas vimos que não bastava esses exatamente isso. A criança não pode viver alunos terem acesso a essa formação, mas uma realidade aqui e outra em casa.” que deveria se estender para toda a escola “A resistência é inerente ao ser humano”, de uma forma curricular. Então, desde 2012, aponta Arlinda. “Mexer na nossa zona de todos os alunos da educação fundamental conforto é sempre uma tarefa incômoda. É têm educação ambiental”, diz Lovani. como fazer dieta.” No entanto, ela acredita, Entre as ações, minisseminários com as como Lovani, que alunos bem-educados são famílias, discutindo a relação cotidiana dos sempre exemplos para os pais. “Há um certo filhos com o consumo; proposta aos pais respeito por parte deles aos bons hábitos dos para preparar lanches em vez de enviar emfilhos trazidos da escola.” balagens prontas; trabalho conjunto numa
Ensino fundamental tem aulas de educação ambiental na Escola de Educação Básica da Feevale
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monitores, aparelhos de dvd, videocassete, de luz, água. Temos que acreditar. Se cada celulares, impressoras, mouses, teclados um fizer sua parte, é possível.” computadores e notebooks. Segundo o A chave, para Arlinda, é consumir grupo, a ideia era “convencer o espectador melhor e também conhecer a origem do de que se desapegar de alguns eletrônicos, que se está comprando. “Se as empresas garantindo a destinação correta a eles, que produzem e comercializam são éticas seria uma atitude benéfica e consciente em e adotam práticas sustentáveis. O que relação ao meio ambiente, além de garantir significa dizer que elas não usam mão espaço para novas coisas”. de obra escrava, são justas com os seus Um representante da empresa responsátrabalhadores, não poluem, não despervel pela destinação dos resíduos arrecadiçam recursos naturais, têm métodos de dados falou sobre as razões de um eletrôprodução alinhados com a responsabilinico se tornar lixo – o equipamento não dade social e ambiental.” Ela reforça que funciona mais, o custo de manutenção é ensinar implica conhecer. “A capacitação muito alto e o surgimento de novas tecnode recursos humanos para a Educação logias –, sobre as opções Ambiental que pretende de destinação e sobre os engajar toda comunidade Antes de prejuízos ao meio ambienescolar é condição sine te decorridos do descarte qua non. Uma escola precomprar é inadequado de eletrônicos, parada saberá engajar as como a contaminação do famílias da sua comuninecessário lençol freático e do solo, dade, iniciar um processo pensar nos além da contaminação dos que vise compartilhar rios. O resultado dessa 3R’s – reduzir, responsabilidades.” conscientização foi surA pauta desta reportagem reutilizar preendente: 2,76 toneladas foi construída em reunião reaem equipamentos.
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Alunos do Instituto de Educação de Ivoti incentivam a doação de lixo eletrônico
Um dos pontos em que houve visível melhora, segundo a diretora pedagógica da Feevale, foi o aproveitamento do material escolar, que era usualmente descartado no final de cada ano. “Percebemos que cada vez mais as crianças estão conseguindo aproveitar o material.” O material que seria descartado também teve nova utilidade no Colégio Marista Conceição de Passo Fundo. Os alunos criam obras de arte com materiais alternativos – aquilo que iria virar lixo é transformado em arte. A ideia foi colocar todas as inquietações que surgiram com a temática no fazer artístico com materiais retornáveis, ligando a fotografia à conscientização ecológica e à problemática do lixo. A iniciativa conquistou o Prêmio Construindo a Nação, na categoria Destaque Social. Desapego Alunos do 3° ano do Curso Técnico em Comunicação Visual do Instituto de Educação de Ivoti desenvolveram a campanha “Desapegue!”, que, por meio de chamadas de vídeo no Facebook e no site da instituição, chamou a comunidade escolar a doar lixo eletrônico, como cabos, calculadoras, telefones, estabilizadores,
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e reciclar”,
lizada na Delegacia Regional Centro e contou com a colaNovas práticas boração dos seguintes proArlinda Cezar fissionais: Amilcar Bernard “Temos que adotar (Colégio Coração de Maria); novas práticas de consuAndréa Vieira e Lirio Demarco mo”, declara Arlinda. ( Colégio Marista Santa Maria); “Conter o desperdício é o primeiro ponto.” A Anna Maria Kirchhof (Colégio Riachuelo); Célia da Veiga e Helena Roede (Colégio Franciscano especialista ensina que antes de comprar é Sant’Anna); Clair Buzatti e Cláudia Reis (Colégio necessário pensar nos 3Rs – reduzir, reutiAntônio Alves Ramos); Elisandra Walter e lizar e reciclar. Algumas dicas: reduzir as Marinês Favaretto (Escola Medianeira); Jaqueline embalagens, substituir as sacolas de lojas Garske (Colégio Santa Catarina); e Simone Botoloffo (Colégio Nossa Senhora de Fátima). por sacolas duráveis, levar vasilhas plásti-
cas para compras de padaria e frios nos supermercados, reutilizar embalagens como caixas de sorvetes, biscoitos, manteiga e requeijão para guardar sobras na geladeira e reciclar a maior quantidade possível de resíduos, comprando os produtos e embalagens de acordo com o grau de reciclabilidade. “E é claro, desenvolver a prática de separar os resíduos na fonte de forma correta (orgânicos, recicláveis e rejeitos).” Lovani afirma que o papel da escola é mostrar que dá certo. “Temos que ter a informação e colocá-la em prática. Não basta saber como separar o lixo, mas fazer disso uma rotina. Evitar consumo desnecessário
• Conheça o Edukatu, uma rede de aprendizagem que mobiliza alunos e professores para o consumo consciente • Veja o Recycle Game, um jogo educativo sobre o descarte correto do plástico • Acesse também o Guia de Boas Práticas da Reciclagem e os vídeos educativos sobre o Ciclo de Vida, Reciclagem e sobre a Estação Ambiental da Braskem
MEMÓRIA
Colégio Franciscano completa 100 anos Surgindo como resposta a um anseio da comunidade de Cruz Alta, de ter um colégio religioso para atender à demanda educacional da cidade e região, as Irmãs Franciscanas, já em atividade em Santa Maria, fundaram em 10 de março de 1914 o Colégio Franciscano Santíssima Trindade. Em um modesto prédio adquirido pela Congregação, no dia 15 de abril iniciaram-se as aulas, que devido à chuva torrencial que caía naquele dia contou com a presença de apenas nove alunas, número que passou para 40 até o final daquele ano. O colégio tinha por finalidade ministrar o ensino elementar de sete anos, mas logo se desenvolveram também aulas de música e pintura, trabalhos manuais, línguas estrangeiras. O objetivo era buscar a formação integral das alunas, sempre embasada no cultivo da religiosidade e do espírito franciscano. Em 1915, o número de alunas cresceu para cem e, devido a insistentes pedidos, houve um aumento nas acomodações para receber pensionistas. Em 1930, foi fundado o Curso Complementar para formação de professores primários. O programa formou 342 mestras
Fachada da escola em 1979
Instituição conta com amplo espaço na área infantil
até a substituição pelo Curso Normal. Em 1939, oficializou-se o Curso Ginasial. Durante esse período de 100 anos, o colégio desenvolveu-se, cresceu, modificou-se fisicamente, acompanhou diversas mudanças vividas pela sociedade e consolidou-se com sua proposta franciscana de educar. Contando com a presença constante das Irmãs, que conservam o mesmo vigor e responsabilidade das suas pioneiras. Atualmente, o colégio, pertencente à Rede de
Escolas mantidas pela Sociedade Caritativa e Literária São Francisco de Assis – Zona Norte – SCALIFRA-ZN, conta com mais de 900 alunos, distribuídos na Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio. Somam-se para enriquecer a sua missão ambientes como: praças infantis; bibliotecas; ginásios de esportes; salão multimídia; laboratórios de Informática, Ciências, Matemática e Alfabetização; parque franciscano; salas especializadas como espaço ludopedagógico, sala de estimulação psicomotora, sala da lousa educacional interativa, entre outras. Atividades como música, dança e esportes também são valorizadas pela escola. Destaca-se o Centro de Dança Santíssima Trindade, fundado há 17 anos, que conta com um número expressivo de bailarinas e já conquistou diversas premiações no Estado. A Capela edificada no centro do Colégio é outro destaque, simbolizando a imagem da espiritualidade na proposta franciscana de educar – o “coração do Colégio”. Hoje, Cruz Alta comemora a presença do Santíssima Trindade. A pequena e modesta casa há 100 anos abriu suas portas e, hoje, o gigante da rua Pinheiro Machado ergue-se majestoso, abrigando as crianças e os jovens a fim de ampliar-lhes os horizontes.
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INTERDISCIPLINAR
É fundamental estabelecer o que se quer alcançar e o que faz sentido
Você tem um projeto de vida ou vive no piloto automático?
N
Por Manoela A ndrade
o final ou início de cada ano, as empresas costumam realizar reuniões de planejamento e avaliação com as suas equipes. É hora de rever os objetivos da organização, os gastos e as principais mudanças e projetos. Mas e na vida pessoal, costumamos parar e repensar o que realmente queremos? Traçamos metas e resultados ou simplesmente vamos vivendo um dia após o outro? É claro que fazer aquela famosa listinha no último dia do ano com as resoluções ajuda, mas será que isso pode ser visto como um planejamento de vida? “Há pessoas que elaboram projetos de vida mais estruturados, outras não. De qualquer forma, é preciso construir as possibilidades
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de futuro, estabelecer aonde se quer chegar e promover esforços para isto”, destaca o professor Vanderlei Langoni de Souza. A máster coach e especialista em desenvolvimento pessoal e profissional Juliana Garcia enfatiza que ter um projeto de vida é importante para aproveitar as melhores oportunidades e surpresas que possam surgir ao longo do caminho. “É fundamental saber o que você quer alcançar e o que faz sentido para você”, diz. Desmotivada na carreira, Letícia Porto Almeida recorreu a um profissional para planejar a sua vida. Quando nasceu a sua primeira filha, a professora largou a multinacional em que trabalhava por não estar completamente realizada. Com
a maternidade, ela conta, as prioridades mudaram, entre elas o desejo de voltar a lecionar na Educação Infantil, mesmo com uma redução salarial significativa. “As mudanças em minha vida sempre guiaram a minha profissão, e tudo acontecia muito inesperadamente, desde muito nova. Comecei a sentir falta de um planejamento mais sólido, a longo prazo, visando a uma guinada definitiva profissionalmente”, lembra. Após seis meses de encontros com uma coach, onde traçava metas a serem cumpridas, Letícia vê o tempo de outra maneira. “Ao planejar a curto, médio e longo prazos aprendemos a ser mais realistas com quais tarefas realmente podemos cumprir com
mais responsabilidade. Além disso, aprendi a ser mais focada, pois era uma característica que me atrapalhava muito ao tentar planejar sozinha. Sempre que começava um projeto, logo desistia e perdia o foco”, afirma. O ato de desistir e perder o foco, muitas vezes, faz parte da vida agitada que levamos. Ligamos o “piloto automático” e logo nos esquecemos do que, de fato, é importante. “Vivemos em uma época de grande multiplicidade, onde as pessoas sentem que necessitam dar conta e atender a todas as possibilidades que o mundo moderno disponibiliza. Mas isso também pode aprisionar e levar as pessoas a não refletirem ou não perceberem o que no final conta como poupança para a felicidade”, pondera Vanderlei. O ideal, segundo Juliana, é não consumir dentro de uma lógica criada pelo outro, com modelos de realização e felicidade pré-fabricados. “Muito se fala em produtividade, mas pouco se questiona: quero ser produtivo em quê? O que eu quero realizar? O projeto de vida orienta a sua produtividade, mostra a sua motivação”, salienta. Por onde começar? Há diversas formas de se iniciar um planejamento de vida. A psicóloga clínica
Devemos estabelecer metas de vida constantemente
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e passar a gostar de e especialista em neuO que importa exercício físico. “É funropsicologia Leslie Ponzi damental persistência e Holmer lembra que denão é o ato dedicação para mantervemos estabelecer metas mos os nossos objetivos de vida constantemente, de planejar e metas”, ensina Leslie. sejam elas profissionais, simplesmente, Além disso, é preciso pessoais, relacionais ou tempo para colocar os de saúde. Ela chama a mas de planos em prática, ou atenção para o fato de que muitas pessoas esidentificar o que seja, desligar o “piloto automático” e realmente tabelecem planos muito realmente almeja refletir aonde se quer ousados, não levando chegar. Caso não se em conta a sua realidade. e se organizar consiga sozinho, o pla“Quando os objetivos são para isso”, nejamento de vida pode muito altos e, consequenser feito com um profistemente, a pessoa não Juliana Garcia sional, que auxiliará na consegue alcançá-los, há compreensão do que é a frustração e a desmotiimportante naquele momento. vação, o que prejudica na busca de novos Muitas pessoas recorrem ao coaching, planos para conquistar suas metas”, explica. um processo de desenvolvimento humano Por isso, primeiramente devemos separar baseado na ampliação de habilidades e os objetivos de curto, médio e longo prazos. competências para enxergar melhor a Quer começar a praticar alguma atividade realidade de cada um e alcançar os objetifísica? Evite fazer um plano anual e frevos. “O que importa não é o ato de planejar quentar o local cinco vezes na semana logo simplesmente, mas de identificar o que no início. Estabeleça uma rotina menor realmente almeja e se organizar para isso”, e um plano mensal, por exemplo. Assim, explica Juliana. “O coaching é um processo aumentam as chances de se cumprir a meta de aprendizado, pois visa principalmente à transformação da pessoa, ajudando-a a incorporar novas competências, bem como ampliar o seu espaço de poder pessoal tendo em vista aumentar as suas possibilidades futuras”, complementa Vanderlei. Existem, ainda, vários métodos que podem ser utilizados para elaborar objetivos para a vida. Alguns preferem anotar no computador, com o auxílio de uma planilha; outros já acham que escrever e fixar na geladeira é o melhor caminho. “O importante é que o planejamento estabeleça um rumo, um norte para as pessoas, mas sempre pautado pela flexibilidade, pois vivemos em um ambiente que muda rapidamente”, aconselha o professor. Quer iniciar seu projeto de vida? Então confira as seis dicas da especialista em desenvolvimento pessoal e profissional Juliana Garcia
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ENSINO PR I VA DO
São João Batista inova com chamada eletrônica Desde o ano passado, os estudantes do Colégio São João Batista, de Caxias do Sul, estão passando por uma experiência que traz mais segurança aos pais: o sistema de controle eletrônico de presença escolar, em que, por meio de SMS, os pais ficam sabendo, na hora, se o filho não está em sala de aula. A iniciativa é aplicada nas turmas do Ensino Fundamental II (6º ao 9º ano) e do Ensino Médio. Batizado de Webmagister, o software – que nada mais é do que uma versão digital do tradicional caderno de chamada – é inédito no País na forma como é aplicado. A empresa responsável pelo projeto utilizou uma plataforma de desenvolvimento voltada para aplicações em computação em nuvem (Windows Azure), que dá segurança total à aplicação contra invasões de sistema por externos e proteção contra perdas de arquivos com sistema de armazenamento geograficamente redundante dos dados. Mais do que uma chamada informatizada para o controle da escola, o sistema transmite segurança e, consequentemente, tranquilidade aos pais e/ou responsáveis. De acordo com a coordenadora pedagógica do 6º ano do Ensino Médio do colégio, Marasílvia Zambiasi, a ideia não só está sendo aprovada pelos pais como também pelos próprios alunos. “O nosso maior problema não era a ausência do aluno, e sim, a questão dos atrasos. Logo nos primeiros dias de funcionamento do sistema, começamos a receber respostas positivas. Por funcionar em tempo real, o mesmo proporciona maior segurança”, afirma.
Escola Fátima tem projeto de proficiência em língua inglesa A Escola Fátima, de Sapucaia do Sul, dará continuidade em 2014 ao projeto de proficiência em língua inglesa, em parceria com a Editora Oxford. O propósito das aulas é intensificar o contato com a língua inglesa, por meio de atividades que abrangem as habilidades de leitura, escrita, audição e conversação. O projeto contempla todas as turmas, desde a Educação Infantil, com maior participação dos alunos do 6º ano do Ensino Fundamental e do 1º ano do Ensino Médio. A escola tem investido em carga horária e o material didático foi modificado tendo em vista a continuidade do processo.
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Iniciativa é aplicada no Fundamental II e Ensino Médio
Confira o vídeo explicativo de como funciona o sistema
Dengue em pauta no São Judas Tadeu Os altos índices de ocorrência da dengue no início de 2013 levaram os professores do Colégio São Judas Tadeu, de Porto Alegre, a propor à turma de 3º ano um projeto que visa à conscientização da comunidade acerca da importância da manutenção da saúde ambiental, social e física como formas de prevenção. Os alunos fizeram uma completa pesquisa e também saíram a campo para entrevistar profissionais nos hospitais da região e visitar casas em busca de criatórios. Os trabalhos foram apresentados com dados estatísticos e gráficos, vídeos foram criados com a participação dos membros do grupo. O projeto terá continuidade neste ano, pois os alunos puderam não somente conscientizar-se acerca deste grave problema de saúde pública, mas também levar informaProjeto prevê visitas em casas e entrevistas com profissionais de hospitais da região ções para seus lares.
Camerata Ivoti faz quinta turnê pela Europa Contando com um repertório de músicas variado, levando fragmentos da cultura gaúcha e brasileira na bagagem, os músicos que integram a Camerata Ivoti realizaram sua quinta turnê pela Europa. O grupo, formado por 20 músicos, com idades entre 13 e 18 anos, passou por cidades como Lisboa, Berlim, Frankfurt e Paris, num roteiro de 32 dias. Eles ficaram hospedados em casas de famílias nos locais visitados. Em Paris, o concerto ocorreu no Anfiteatro da Universidade de Paris-Sorbonne, no qual os integrantes apresentaram peças como La Mercedita e Milonga Para As Missões, típicas da região Sul do Brasil, para o público parisiense. Para o coordenador da Camerata, Irving Feldens, a turnê é uma recompensa aos alunos, pelo estudo e dedicação à música. “Além disto, a ideia não é vir para a Europa apenas oferecer nossos concertos, pois como somos hospedaUma das apresentações do grupo ocorreu em Paris dos por famílias esta é também uma oportunicom. As apresentações também ganharam visibilidade na imprensa dade de intercâmbio cultural. Os alunos participam da rotina das nacional e internacional. Foram veiculadas matérias na RBSTV (uma localidades que visitamos”, destaca. equipe acompanhou 10 dias da viagem) e na filial da ARD (Erste As mães dos músicos postaram fotos e informações sobre as apredeutsche Fernsehen), principal emissora de TV da Alemanha. sentações no blog: http://familiascorujasdacamerataivoti.wordpress.
La Salle Business School investe em metodologia diferenciada
Formação é inspirada em modelos já consolidados em universidades lassalistas da Europa
Inspirados nos modelos já consolidados em universidades lassalistas da Europa, os cursos da La Salle Business School do Unilasalle Canoas estão com inscrições abertas. São oito cursos de MBA que nasceram com uma proposta inovadora na formação de líderes, priorizando o desenvolvimento de competências gerenciais técnicas e interpessoais. Parte da carga horária de todos os planos dos cursos é dedicada ao desenvolvimento de habilidades interpessoais. Outro diferencial da proposta são estudos de casos, trabalhos em grupo, pesquisa aplicada e resolução de problemas. O aluno de pós-graduação do Unilasalle também terá a oportunidade de participar de viagens de estudo ao exterior, programadas com universidades de diferentes partes do mundo, com atuação alinhada aos objetivos de seu curso.
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ENSINO PR I VA DO
Bruno Todeschini/Divulgação
Geofísica é nova opção na PUCRS
Formação estudará a Terra e sua estrutura, condições físicas e história evolutiva
Retorno diferente no Concórdia A novidade preparada pelo Colégio Concórdia de Porto Alegre para esta volta às aulas foi recepcionar seus alunos e familiares, no dia 24 de fevereiro, com o símbolo do conhecimento e fruto da árvore de sabedoria: a maçã. Já na entrada, mais de 500 alunos receberam maçãs de seus educadores em uma embalagem especial que ilustrava os contos e fábulas da infância relembrando momentos inesquecíveis vividos no colégio. Para o diretor do Concórdia, Sérgio Lutz, a ação, além de ser pedagogicamente positiva já que incentiva a alimentação saudável e natural, também é lúdica pois brinca com o imaginário e a criatividade dos estudantes.
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A PUCRS passou a oferecer, a partir do Vestibular de Verão 2014, o bacharelado em Física com a linha de formação em Geofísica, que estudará a Terra englobando todos os fenômenos relacionados a estrutura, condições físicas e história evolutiva do planeta. A área é dividida em diversos campos, como sismologia, geomagnetismo, oceanologia, paleomagnetismo, vulcanologia, climatologia e meteorologia. As aulas começaram no 1º semestre de 2014, com duração de quatro anos, e os encontros ocorrem nos turnos vespertino e noturno. A ideia é proporcionar a interação com empresas no ramo de petróleo e gás. É a primeira linha de formação na área oferecida em uma universidade privada no País.
Marista São Francisco comemora centenário O Colégio Marista São Francisco, de Rio Grande, completou, no dia 20 de janeiro, 100 anos de fundação na cidade do Rio Grande. Este ano também é marcado pelos 30 anos de atuação do Diretor da escola, Ir. Jorge Fernandes Corrêa. A Superintendente da Rede Marista, Rogério Anele data foi comemorada entrega homenagem ao diretor, Ir. Jorge em missa realizada na Igreja Sagrada Família, no Cassino, seguida de jantar no Galeto Caxias. Estudantes, educadores, ex-alunos e comunidade em geral estiveram presentes neste momento de confraternização. A cerimônia contou com a presença do vice-presidente do SINEPE/RS, Osvino Toillier. Durante o ano, uma série de atividades marcarão o centenário. No dia 21 de março ocorrerá o lançamento do documentário sobre os 100 anos da instituição. Em junho, no dia 11, haverá a encenação do grupo de teatro Rosey in Cena, sobre a vida de Champagnat e a chegada dos Irmãos Maristas na cidade de Rio Grande. Em 4 de outubro serão inaugurados o Marco do Centenário e a cápsula do tempo. Em 23 de dezembro, a programação do centenário será encerrada com o Ágape Natalino. Acompanhe a programação completa no site da instituição: colegiomarista.org.br/saofrancisco
Estudantes da IENH fazem intercâmbio para a Europa
Em 20 dias, alunos conheceram Paris, Londres e Edimburgo
Embarcaram no dia 14 de janeiro, em um intercâmbio para a Europa, estudantes do Ensino Médio da Unidade Fundação Evangélica, de Novo Hamburgo. Acompanhados pela professora de Língua Inglesa da IENH, os alunos Tanani Diehl Bruna Reis, Gabriele Koch Zornita, Guilherme Thiesen, Rafael Freitas, Liliana Wolf, Marília Masera Lopez, Marina Kraemer, Júlia Souza Schumacher e Lydia Romann retornaram dia 6 de fevereiro. Além de conhecer Paris, Londres e Edimburgo, os estudantes tiveram a oportunidade de se inserir na cultura dos locais visitados, conhecer e fazer amigos e, principalmente, aperfeiçoar a língua inglesa.
Educação Financeira no Santa Inês Em uma sociedade globalizada e consumista, a Educação Financeira baseada em valores morais é uma maneira de formar sujeitos capazes de diferenciar o “eu quero” do “eu preciso” e de utilizar conhecimentos da área para fazer do mundo um lugar melhor. No Colégio Santa Inês, de Porto Alegre, a Educação Financeira foi inserida na grade curricular do 6° ano do Ensino Fundamental até o 3° ano do Ensino Médio, e as turmas do 1° ao 5° ano trabalharão o assunto por meio de temas transversais. A disciplina tem como objetivo propor discussões e práticas contextualizadas sobre as inquietações consumistas típicas de cada faixa etária. Além disso, a prática em sala de aula deverá orientar a responsabilidade social e a ética quanto ao ganho e ao uso do dinheiro.
Cultura e aprendizagem nas cidades canadenses
Alunos do Sinodal no Canadá Alunos do Colégio Sinodal, das unidades São Leopoldo e Portão, aproveitaram o período de férias para estudar. Eles partiram para o intercâmbio no Canadá em janeiro, onde estudaram na GEOS Language Academy, em Ottawa, durante um mês. Os estudantes participaram de aulas de inglês na escola e conheceram cidades como Toronto, Quebec, Montreal e Ottawa, além de terem tempo livre para participar de eventos culturais e de integração. As atividades de intercâmbio são tradicionais no colégio, e segundo o diretor-geral Ivan Renner, a internacionalização dos estudantes contribui para a formação. “Eles têm acesso à qualidade de ensino em instituições reconhecidas, segurança e conforto nos locais onde estão instalados, além de uma gama de atividades culturais”, afirmou o diretor.
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PREMIADAS
IESA e Susepe constroem Fábrica de Sabão Ecológico Em 2012 uma parceria entre o Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo (IESA) e a Superintendência de Assuntos Penitenciários (Susepe) resultou no projeto de implantação de uma fábrica de sabão junto ao Instituto Penal de Santo Ângelo. A Fábrica de Sabão Ecológico, que deve ser inaugurada nos próximos dias, já conquistou reconhecimento. No ano passado a iniciativa recebeu o troféu Ouro no 8º Prêmio Responsabilidade Social. A professora e coordenadora do projeto, Leila Batista, explica que a iniciativa envolve os alunos de Administração do IESA, na organização do plano de negócios; os apenados, que produzem o sabão; e a própria comunidade, que doa seu óleo de cozinha usado, evitando o descarte incorreto. Para que a fábrica saísse do papel, parcerias foram formadas e eventos beneficentes realizados. Agora, com o mezanino e o reboco praticamente concluídos, a equipe está na última fase da obra, que compreende a pintura do prédio. A inauguração oficial do espaço está programada para acontecer em março. “Neste período em que o projeto foi realizado, a fábrica produziu cerca de duas mil barras de sabão por
Inauguração da fábrica está prevista para março
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Apenados reutilizam o óleo de cozinha para produção do sabão
mês, ou seja, apenas 10% de sua capacidade. Com o prédio concluído e os equipamentos já instalados, os apenados estarão trabalhando com 100% da capacidade, na produção de 20 mil barras de sabão por mês”, destaca a gestora do projeto na Susepe, Débora Pedroso. O sabão produzido em Santo Ângelo tem abastecido dez casas prisionais da 3ª Região Penitenciária. Mas a ideia é ir além. A proposta conquistou a região metropolitana e, em breve, a Fábrica de Sabão estará abastecendo 30 mil presos em todas as casas prisionais do Estado. Para cada três dias trabalhados, os apenados recebem a redução de um dia de pena. “Ver a fábrica concluída, depois de dois anos de trabalho, é satisfatório tanto para os parceiros como para os alunos, que auxiliaram em todo o processo. Melhor ainda é saber que o projeto foi reconhecido em nível de Estado, fortalecendo a equipe de trabalho e trazendo ânimo a novas iniciativas”, destaca o diretor do IESA, professor Júlio César Lindemann. Com a Fábrica de Sabão concluída,
também se inicia uma nova etapa para os acadêmicos de Administração. De acordo com a professora Leila Batista, os estudantes estarão envolvidos, a partir de agora, na seleção e treinamento dos funcionários. Fluxo de caixa e aperfeiçoamento do plano de negócios também farão parte das tarefas executadas pelos alunos. “Todos os professores do curso foram convidados para fazer parte da iniciativa, contribuindo conforme a disciplina que trabalham”, completa a educadora. E como a produção irá aumentar, a disponibilidade do óleo, matéria-prima, terá que ser ampliada. Para isso, serão realizadas campanhas na cidade de Santo Ângelo, que conscientizem o cidadão para coleta e doação do óleo de cozinha usado. “O Departamento Municipal de Meio Ambiente (Demam) já é um grande parceiro do IESA e da Susepe. Há pontos de coleta, disponibilizados pela equipe deste setor, que hoje facilitam o recolhimento do material. Mas nosso objetivo é ampliar esse trabalho, com o oferecimento de novos pontos de coleta”, frisa Leila.
Cidadania e educação são pilares do Farroupilha O aumento da concorrência no mercado de educação local contribuiu para que o Colégio Farroupilha repensasse os seus caminhos e abrisse mão, em 2012, das tradicionais campanhas publicitárias para construir o seu posicionamento de mercado com outro viés. O desafio seria criar um posicionamento sólido e que, ao mesmo tempo, fortalecesse a proposta de valor da marca e o seu propósito na sociedade. Os resultados desse trabalho de comunicação ousado e focado no posicionamento de mercado, chamado Movimento #daescolapravida, tem reflexos dentro e fora da escola. Se em 2012 a unidade principal do Farroupilha enfrentava uma perda no seu total de alunos, hoje é notável o permanente crescimento dessa que é considerada uma das mais tradicionais instituições de ensino do Rio Grande do Sul. Há lista de espera formada por famílias que atualmente desejam matricular os seus filhos nas principais séries da instituição. O sucesso das ações fez com que o
Colégio Farroupilha conquistasse o primeiro lugar nas categorias Comunicação Institucional e Gestão de Comunicação e Relacionamento do 11º Prêmio Destaque em Comunicação. Ancorados em uma pesquisa de mercado, realizada pela Reali Hub for Inovation, foram ouvidas famílias e estudantes do Ensino Médio do Colégio Farroupilha e de outras instituições privadas que integram o grupo estratégico da instituição. Para os entrevistados, a escola não era vista apenas como um local de boa formação teórica, mas como um lugar que deveria estimular o diálogo, a cidadania e o compromisso social, oportunizando ao aluno uma ampla visão de mundo. Diante desse cenário nasceu o trabalho de reposicionamento da marca chamado Movimento #daescolapravida. Foram definidas as estratégias, centradas em três grandes eixos: ações online, ações de relacionamento e ações de publicidade e mudanças de atitude. As mensagens priorizavam a importância da adoção de
Imagem captada do videomanifesto do Movimento #daescolapravida, lançado pelo Colégio Farroupilha
atitudes e de pequenos gestos educativos para o desenvolvimento da sociedade. Um videomanifesto da marca foi lançado com uma série de imagens captadas pelos próprios alunos, demonstrando que a boa educação forma pessoas inteligentes, bacanas, transformadoras, criativas, interessantes, inovadoras e líderes. Fanpages e blogs que, do ponto de vista conceitual, conversavam com o manifesto, foram selecionados. Intervenções em parques, praças e shoppings da capital gaúcha foram realizadas pelos estudantes. Um vídeo com a síntese das ações pensadas e implantadas pelos alunos foi postado no canal específico do Movimento #daescolapravida no YouTube. Conteúdos foram publicados nos perfis do Colégio Farroupilha e nas redes sociais. Em função da coerência do discurso, o Movimento ganhou projeção nacional, com matéria veiculada no programa Cidades e Soluções da Globo News; no Jornal Hoje, da Rede Globo, no Site Terra e na revista Vida Simples, além de mais de 50 matérias publicadas em jornais locais. Os resultados alcançados fizeram com que o Movimento #daescolapravida fosse elevado, em março de 2013, ao nível de projeto pedagógico. Em 2014, o Movimento #daescolapravida ganhará a adesão e a colaboração de outros coletivos urbanos parceiros para trabalhar com alunos de diferentes séries e anos. A parceria com o grupo coletivo Shoot the Shit ganhará reforço com o trabalho dos seguintes Coletivos Urbanos: Curativos Urbanos (de São Paulo), Rastro de Amor (de Porto Alegre); Projeto Vizinhança e Smile Flame. Além disso, o Movimento será ampliado para três escolas da rede pública do município de Porto Alegre.
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ARTIGO CIENTÍFICO
Identidade, Memória e Imaginário – Interdisciplinaridade cultural Márcia Regina Santos de Souza*
RESUMO Este trabalho dedica-se a apresentar conceitos fundamentais acerca das manifestações culturais humanas e mostrar que o processo cultural é um ato social cercado por teias de significados analisados sob o olhar interpretativo da ciência. Portanto, estudar identidade, memória e representação é levar em consideração o caráter plural dos processos culturais. Palavras-chave: Cultura. Identidade. Memória
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Para dar início às reflexões deste ensaio, é preciso, antes de abordar questões acerca de identidade, memória e representação, que conversemos sobre o conceito de cultura, que engloba manifestações individuais e coletivas, locais e universais e que são todas de fundamental importância para que se entenda o movimento da sociedade em que se vive. Para compreender o que o ser humano faz, é necessário entender uma ação dentre várias outras e localizá-la para
que possa ser caracterizada. No estudo da cultura, a tarefa essencial da construção teórica não é codificar regularidades abstratas, mas tornar possíveis descrições minuciosas, não generalizar através dos casos, mas generalizar dentro deles. Para Alfredo Bosi (1992), a cultura pode ser conceituada sob vários ângulos. Dessa forma, teríamos que escolher uma perspectiva para abordar. No entanto, o mais significativo aqui é abordá-la do ponto de vista múltiplo das
manifestações humanas, ou seja, não existe uma cultura homogênea, principalmente quando se trata da brasileira. Aliás, “a admissão do seu caráter plural é um passo decisivo para compreendê-la como um ‘efeito de sentido’, resultado de um processo de múltiplas interações e oposições no tempo e no espaço”, (BOSI, 2010, p.7), argumenta o crítico. Nesse sentido, Roque Laraia (1986) reforça a ideia de que a natureza de todos os homens é idêntica e a cultura praticada por eles é o que os separa, os torna estranhos uns aos outros. Enquanto na cultura europeia temos a prática de nudismo nas praias, no Oriente Médio, as mulheres vão à praia com seus corpos completamente cobertos; a carne da vaca é proibida aos hindus, enquanto a de porco é vetada aos mulçumanos; para os ciganos da Califórnia, a obesidade é referência de virilidade entre os homens. Os três estudiosos aqui apresentados se assemelham quando afirmam que a cultura é multifacetada e que a posição humana diante das manifestações culturais será sempre contextual. E é nas questões de contextualização que se inserem os conceitos de memória, identidade e representação. São noções ligadas ao contexto porque assumem significados dependendo da situação em que se apresentam. São marcados por objetos, passagens, pessoas, narrativas. Não é raro ouvir as pessoas mencionarem frases como “Tive meu primeiro filho no dia em que as torres gêmeas foram atacadas”, “Casei duas semanas depois da morte do presidente tal”, “Quando viajávamos pra praia, costumávamos comprar abacaxis na banca do Zé, em Tramandaí”. Enunciados como esses comprovam a necessidade que se tem de contextualizar a memória. Quando se trata de identidade, também se recorre a marcas para determinar quem somos, de onde viemos: “Taquari, minha cidade natal, é terra da laranja”; “Meu pai é português, minha mãe, turca”; “Minha família é tradicional na história política de Taquari”. Toda vez que visito minha cidade, passo em frente à escola
em que estudei na minha adolescência e narro para os meus filhos uma série de histórias que vivi ali. São narradas, geralmente, com muito entusiasmo, provavelmente, muito mais intensas do que realmente aconteceram, mas o importante é o que essa instituição representa para o indivíduo. E, nesse caso, representação e memória se unem para dar forma a uma história que precisa ser passada para outra geração, que não faz parte desse contexto, que são os filhos. Sobre o entusiasmo, o afeto e a lembrança, ARISTÓTELES (1986) diz:
pelo sujeito ou refutada. Aceita ou refutada, Hobsbawm (1998) chama a atenção para a tentativa de restabelecer um passado perdido, o que não garante sucesso completo, afinal não se estão restaurando apenas prédios, monumentos, mas a moral, os costumes, os comportamentos. Não é raro ouvirmos frases como: “No meu tempo, meu pai só olhava e já entendíamos o recado”. Ou então: “Fazíamos novenas e nossas crianças eram bem mais educadas; hoje só ficam em frente ao computador.” Esses enunciados exemplificam a questão da contextualização, ou seja, são memórias que certamente “A memória, então, não é nem sensanão cabem mais em uma situação pósção nem julgamento, mas é um estado -moderna, pois outras atribuições de ou qualidade (afeição, afeto) de um valor foram dadas a essas ações. deles, quando o tempo já passou. [...] Toda memória, então, implica a passaSobre as questões identitárias, Denys gem do tempo. Portanto só as criaturas Cuche (1999) afirma que a cultura pode vivas que são conscientes do tempo existir sem consciência da identidade, podem lembrar, e elas fazem isso com no entanto, a identidade necessita de aquela parte que é consciente do tempo. vinculação, por conseguinte, consciente, (ARISTÓTELES, 1986, p. 291) baseada em oposições simbólicas, ou seja, permite que o indivíduo se localize Para intensificar as palavras de e seja localizado em um sistema social. Aristóteles, cabe aqui, então, conceituar Na medida em que resulta de uma memória. Segundo João Carlos Tedesco, construção social, a identidade faz parte “Memória é essencialmente um ato de da complexidade do social, portanto evocação, isto é, o ato de recuperar não é possível reduzir sua mentalmente a imagem, definição a um conceito portanto, é um ato de repreA escola é puro, pois não se estaria sentação do real que se dá levando em conta a heteroatravés de imagens mentais, o grande geneidade do grupo, nem pois o passado enquanto receptáculo mesmo o caráter flutuante tal não volta” (TEDESCO, da identidade. 2002, p. 24). Ele retorna dessa Por isso, para Cuche apenas na lembrança e essa (1999), é difícil de delimimemória vai transitar entre diversidade tar e definir a identidade elementos de fotografia, cultural” por causa do seu caráter objetos, associações, cheimultidimensional e dinâros, ruídos etc. mico. A identidade conhece Para Eric Hobsbawm variações, presta-se a reformulações e até (1998), todo ser humano tem consciência manipulações. Por isso, alguns autores do passado, o qual é definido pelo autor adotaram o conceito de “estratégia de idencomo o período que antecede imediatatidade”, ou seja, a identidade é vista como mente os eventos registrados na memória um meio de atingir um objetivo. Logo, a do indivíduo, em virtude de viver com identidade não é absoluta, mas relativa. pessoas mais velhas. Ser membro de Quando um indivíduo oculta sua identidauma comunidade humana é situar-se em de para fugir da discriminação, do exílio relação ao seu passado (ou da comunidaou do massacre, está, efetivamente, usando de) ainda que apenas para rejeitá-lo. A o recurso da estratégia de identidade ea identidade cultural pode, pois, ser aceita
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diversidade colabora para que uma coHistória está repleta de exemplos. munidade fixe sua identidade e ao mesmo Ao se fazerem esses enlaces entre tempo se movimente a partir da cultura cultura, memória e identidade, é crucial do outro. falar sobre imaginário. Segundo Michel A escola é o grande receptáculo dessa Maffesoli (2001), no sentido antropodiversidade cultural e como tal assume lógico, a cultura contém uma parte de um papel decisivo, porque precisa se imaginário, mas ela não se reduz ao imaorganizar para estimular a convivência ginário. Da mesma forma, se pensarmos entre as inúmeras manifestações cultufilosoficamente, o imaginário não se rais religiosas, gastronômicas, de origem, reduz à cultura. Ou seja, quando um povo festivas, políticas, entre tantos outros descreve a sua cultura, sempre haverá grupos culturais que podem ser evidenalgo de imaginário, afinal, o imagináciados na rotina escolar. Como enfatiza rio, ainda segundo o autor, “é uma força Geertz (1989), a cultura social de ordem espirinão é um poder, pelo contual, uma construção Quando chega trário, é flexível, e a todo mental, que se mantém momento o indivíduo ambígua, perceptível, à escola, o está acrescentando aos mas não quantificável” seus princípios culturais (MAFFESOLI, 2001, indivíduo outros tantos. Acreditap. 75). Ao recontar traz inúmeras se, portanto, que este um fato, os indivíduos ser um norteador recorrerão aos recurrepresentações deve do trabalho da escola, já sos do imaginário para que se lida com um púestabelecer representaculturais” blico caracterizado pela ções nem sempre fieis. curiosidade, pelo desejo Não há como objetivar de experimentar, pela efervescência, pela o fato narrado, afinal, ao fazer o camicoragem de mudança e por tantas outras nho entre o presente e o passado, o indidescrições que se podem fazer dos alunos. víduo estabelece relações que dependem Nesse sentido, a escola deve fomentar e do contexto em que ele se encontra e do não impor planos de ação prontos que grau emocional do momento. Por outro poderiam ser feitos pelos alunos, pois lado, aqui é importante salientar a quessaberão certamente construí-los de matão do preconceito cultural à medida que neira mais diversificada do que o grupo se discriminam manifestações culturais de professores. locais por se desconhecer o valor identiPode-se citar aqui o exemplo das tário dessas manifestações. atividades de leitura, que, normalEssas questões, no caso desse ensaio, mente, ficam a cargo dos professores são muito importantes porque sugerem de Português e Literatura. Se a escola uma teia extensa de ligações: memória experimentar montar projetos de leitura individual, memória coletiva, identidade, a partir de pequenos projetos criados contexto social, imagem, imaginário e pelos alunos, provavelmente, aparecerão cultura. São processos que se entrelaçam ideias muito interessantes, e o melhor, na busca por guardar e preservar algo e os professores saberão de verdade o que não há como distribuí-los em compartiseus alunos querem ler. Dessa forma, mentos. Olhar um grupo de pessoas, uma não se comete o erro de ignorar o que obra, uma atividade humana qualquer, culturalmente o aluno deseja e como ele obrigatoriamente, é olhar esses aspectos acredita que o conhecimento individual conjuntamente, portanto, de forma intere coletivo pode ser efetivado. disciplinar e democrática. Acredita-se que o mais importante A unanimidade dos teóricos da cultunão é determinar comportamentos ponra está exatamente na diversidade das tuais de como a escola deve ou não se manifestações culturais e como essa
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manifestar diante da diversidade cultural e o que essa diversidade representa dentro do currículo escolar. O mais importante é que as pessoas que estão na linha de frente de uma escola, entre elas, professores, coordenadores e gestores, tenham clareza do conceito de cultura e construam uma linha de trabalho que contemple as questões de memória, identidade e representação, fortalecendo os vínculos entre o conteúdo programado para um ano letivo e as manifestações culturais dos alunos, especialmente, constituindo-se em uma aprendizagem diversificada. Dessa maneira, alunos, pais e comunidade perceberão que a escola compreende que a construção da identidade escolar passa por um processo social e que para construir a coletividade, passa-se pela individualidade. Nesse sentido, quando a família procura a escola para matricular o filho, a pergunta que primeiramente deve ser feita não é “O que você espera desta instituição?”, mas “O que você espera acrescentar a essa instituição?” Afinal, quando chega à escola, o indivíduo traz inúmeras representações culturais e quer encontrar no espaço escolar outros tantos espaços onde construirá inúmeras narrativas de vida. *Especialista em Estudos de Linguagem, Língua e Literatura (Feevale); Mestre em Processos e Manifestações Culturais (Feevale); Professora de Língua Portuguesa no Colégio Cenecista Felipe Tiago Gomes, NH. BIBLIOGRAFIA BOSI, Alfredo. Dialética da colonização. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. BOSI, Alfredo. Cultura Brasileira – temas e situações. São Paulo: Editora Ática, 2010. CUCHE, Denys. A noção de cultura nas Ciências Sociais. Tradução de Viviane Ribeiro. Edusc: Editora da Universidade Sagrado Coração, Bauru (SP), 1999. GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Cap.1. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1989.. HOBSBAWM, Eric. Sobre História. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 21º edição. Zahar: Rio de. Janeiro, 2007. MAFFESSOLI, Michel. O imaginário é uma realidade. Revista Famecos. n15. Porto Alegre, 2001. Entrevista concedida ao historiador Juremir Machado, em Paris, em março de 2001. TEDESCO, João Carlos (Org.). Usos de memórias (política, educação e identidade). Passo Fundo: UPF, 2002.
CULTUR A
A expressão humana por meio da dança
A
dança está presente desde os tempos mais remotos, como forma de o indivíduo se expressar por meio dos movimentos corporais. Esta manifestação artística é de grande importância na história da humanidade, pois nasce da necessidade do homem de exprimir suas emoções, histórias e culturas. Utilizada por todos os povos do planeta, a dança traz muitas propostas em suas técnicas e movimentações. A dança apresenta linguagens estéticas que influenciam e são influenciadas pelo
Novas técnicas trouxeram outras concepções a respeito do movimento
tempo e pelas civilizações, tornando-se histórias apresentados nas festas da nobreuma forma de expressão artística e culza. A partir do século XX, surgem outras tural. A arte está entrelaçada às diversas relevantes técnicas de dança, como a moáreas dentro da sociedade, se fazendo prederna e contemporânea, questionando parâsente dentro delas, assim como sendo inmetros da técnica clássica, preocupando-se fluenciada por elas. A educação, a religião, com questões sociais e políticas da época a política, a economia, e trazendo novas concepções entre outros fenômenos a respeito do movimento, do As obras sociais, formam uma corpo e das formas de dançar. dançadas rede de elementos que se A pós-modernidade trouxe inter-relacionam, assim novos diálogos entre as artes, trazem em como com a dança. A traçando outros caminhos de arte pode questionar a recriação e apreciação artística. seus passos alidade na qual se insere, Não existe uma única as histórias pode transmitir e desperdança, e sim, várias linguatar emoções, proporciogens dançantes que observado homem, nando percepções únicas mos no mundo. As danças aos seus espectadores. A questionam a folclóricas e populares, de dança, como forma de salão, dança jazz e de rua, realidade” arte, proporciona este dança do ventre, o sapateado, diálogo entre os bailarias danças circulares sagradas, nos, as coreografias, as as danças indígenas e africaperformances e o público que aprecia as nas, bem como as técnicas corporais, são obras dançantes. exemplos de danças que nos contemplam As primeiras evidências de que o homem em suas mais belas formas de expressão e dançou estão nos desenhos e pinturas enriqueza cultural. contrados em cavernas nos tempos primitiAs obras dançadas trazem em seus vos. O homem utilizava seus movimentos passos as histórias do homem, questiopara agradar, celebrar e agradecer aos nam a realidade, despertam sentimentos, deuses e também pedir por suas necessiestimulam a criatividade, proporcionam dades. Com os rituais, o homem buscava experiências únicas para quem as aprecia lidar com a natureza e interagir com o ou tem o prazer de vivenciá-las. A dança mundo ao seu redor. Fazia da dança um pode ser praticada por todas as faixas etámeio de expressar situações da sua vida. rias e quem a vivencia pode buscar nela Os povos das antigas civilizações do diferentes objetivos, tais como o lúdico, o Egito e Grécia também se manifestavam recreativo, o terapêutico e o profissional. por meio dos movimentos corporais danAtualmente a dança continua encantançados relacionando-os a motivos sagrados, do públicos pelo mundo, nas diferentes guerreiros ou civis. A dança era usada culturas, questionando e retratando muitas como forma de simbolizar e homenagear realidades e despertando emoções. A os deuses na Antiguidade. dança se mantém viva como arte nas suas Com o passar do tempo, a dança mais variadas formas de expressão. passou a ser apresentada para o público, Caroline Kummer tornando-se cênica. Com o surgimento do Especialista em Dança pela PUCRS, possui graduação em ballet nas cortes da Itália no século XV, a Educação Física pela UFRGS. Tem experiência na área da dança começou a ser prestigiada nos granDança atuando como pesquisadora, professora, coreógrafa e bailarina. des bailes reais, trazendo espetáculos com
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FIQUE POR DENTRO
Pesquisa: como pensam os estudantes brasileiros Uma pesquisa realizada pela Multifocus com duas mil crianças e adolescentes em todo o Brasil identificou que a relação emocional dos filhos com os pais, buscas feitas na internet e a influência exercida pela escola interferem no interesse das crianças pelos estudos, em suas futuras escolhas profissionais e até mesmo na formação de seus pensamentos críticos e valores morais. O estudo tinha como objetivo descobrir a maneira de ser, pensar e se comportar de alunos do ensino fundamental e médio. Segundo a pesquisa, os pais ainda são a principal fonte de informação para a média dos alunos, mas disputam espaço quase que na mesma proporção com a internet. O estudo também mostrou que os alunos têm um forte respeito pela propriedade material: atos como pegar o que é dos outros, pedir emprestado e não devolver, ou comer sem pagar são vistos como roubo e condenados pela grande maioria. E questões ligadas à cidadania são valores praticamente tão importantes quanto a propriedade – mais de 75% dos alunos desaprovam atitudes como jogar papel no chão ou furar filas.
Grandes educadores estão na rede Os brasileiros Paulo Freire, Cecília Meireles e Darcy Ribeiro, a italiana Maria Montessori, o espanhol Ortega y Gasset, o norte-americano John Dewey, o suíço Jean Piaget, o bielo-russo Lev Vigotski, o francês Henri Wallon e o alemão Friedrich Fröbel. Estes são apenas dez dos 60 pensadores abordados em obras da Coleção Educadores, concluída pelo MEC em 2010 e disponíveis para download gratuito no portal Domínio Público. Além dos livros, é possível baixar os manifestos “Pioneiros da Educação Nova” (1932) e “Educadores” (1959). O material está disponível no site www.dominiopublico.gov.br.
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Escola online cria curso gratuito sobre sustentabilidade A Descola, uma escola desconstruída, lança um curso gratuito que pretende ir além do usual quando se fala em sustentabilidade. Com duração de 51 minutos, o curso é dado através de videoaulas e pretende abordar conceitos como Triple Bottom Line (Tripé da Sustentabilidade), Economia Verde e também ensinar como ter uma vida mais sustentável. O curso é indicado a todas as pessoas independente de idade. É possível baixar um material de apoio incluindo dicas de filmes e livros relacionados ao tema, além de poder entrar em um grupo de discussão com quem participou do curso. A inscrição é feita pelo site www.descola.org
Brasil ocupa baixa posição em ranking do Pisa Apesar de ter conseguido uma evolução significativa nos itens avaliados pelo Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), o Brasil ainda está nas posições mais baixas do ranking. Entre os 65 países comparados, o Brasil perdeu quatro posições com relação à última divulgação, em 2009, ocupando o 58º lugar no ranking geral. No entanto, desde 2003, o país conseguiu os maiores ganhos no desempenho em matemática, saindo dos 356 pontos naquele ano e chegando aos 391 pontos em 2012, segundo os dados divulgados pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Genes influem mais nas notas que pais ou professores
73% dos brasileiros querem melhorias na educação
Segundo um estudo divulgado pela universidade King’s College de Londres, os genes influenciam mais as notas dos estudantes do ensino médio que os professores, os colégios ou a família. Os autores do estudo analisaram a importância da genética no sucesso escolar e, para isso, utilizaram como amostra as notas de mais de 11 mil exames de alunos de 16 anos que faziam o Certificado Geral de Educação Secundária (GCSE). Em disciplinas como inglês, matemática, ciências, os pesquisadores descobriram que os genes influem mais nas notas, 58%, enquanto em matérias de humanidades, como arte e música, os genes contam em 42%. A pesquisa esclarece que isto não implica que o ambiente que rodeia uma criança não é importante, pois influi nas notas em 36%, nem que o trabalho educacional dos colégios não conte.
A saúde e a educação são as áreas que mais precisam de melhorias para os brasileiros, segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Dos entrevistados no estudo, 88% querem melhoria na saúde e 73% em educação. O tema da violência foi citado como preocupação por 61%, e 60% querem mais oportunidades de trabalho. A pesquisa Sistema de Indicadores de Percepção Social (SIPS) foi realizada em agosto de 2013. Foram ouvidas 3.819 pessoas em mais de 200 cidades do País. Cada indivíduo escolheu seis prioridades para sua família dentre 16 opções listadas aleatoriamente.
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VITRINE
Biologia para estudantes O Guarita Park Hotel desenvolve desde 2011, o Projeto Biologia para estudantes. Localizado na praia de Torres, o hotel promove junto a alunos de toda rede de ensino o conceito de desenvolvimento sustentável e respeito ao meio ambiente. Focado na formação de cidadãos com consciência ambiental, o projeto alia a interação dos alunos com toda a diversidade ambiental da região com o conhecimento das melhores práticas em sustentabilidade desenvolvidas pelo hotel, como a adequada coleta e destinação de dejetos cloacais, além da captação da água da chuva para posterior utilização na manutenção de seus jardins e estrutura. Saiba mais: www.guaritaparkhotel.com.br e telefone: (51) 3664-5200.
Sistema Positivo de Ensino: tradição e credibilidade Mais de 300 profissionais, entre especialistas, mestres e doutores, fazem parte da equipe que desenvolve o material didático do Sistema Positivo de Ensino. Além disso, o Sistema, que atua há mais de 40 anos na área da educação, conta também com a participação de professores que compõem a rede no Brasil inteiro, agregando as vivências práticas e as culturas regionais à riqueza dos materiais. Para mais informações: 0800-724 -4241/ convenio@positivo.com.br ou pelos endereços: editorapositivo.com.br/sistemapositivo; facebook.com/editorapositivo; twitter.com/editorapositivo
Cidadãos preparados Visando dotar o aluno para um mundo em transformação e com novas demandas, a Oxford University Press lança este ano o Programa Múltiplo de Educação. O programa fornece às escolas as ferramentas necessárias para a preparação dos alunos para serem bem-sucedidos no ENEM, nos vestibulares, e para se tornarem cidadãos capazes de transformar informação em conhecimento, posicionarem-se criticamente e desenvolverem as habilidades necessárias para alcançar seus objetivos ao longo da vida. Isso se dá por meio de um trabalho que contempla a aquisição de repertório conceitual, o desenvolvimento de repertório cultural e o trabalho com valores da pessoa e competências do Século XXI. Saiba mais: www.oup.com.br
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Construções inteligentes A Siscobras apresenta ao mercado o FastFlex, solução para construção de espaços físicos para a área da educação que une alta tecnologia, conforto e rapidez na conclusão. Atendendo a rígidos critérios de qualidade e segurança e com respaldo científico das principais instituições do Estado, como Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Universidade de Caxias do Sul, a solução permite a adaptação dos módulos às dimensões do terreno. Com o FastFlex é possível também construir edificações com até três pisos, bem como alterar o local do módulo, conforme a necessidade. Mais informações em: www.fastflex. com.br e telefones: (51) 35631547 e 35637922.
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