Como entender a pintura moderna

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COMO ENTENDER A PINTURA MODERNA

Essa concepçãQ teve logo duas conseqüências importantes . A pei. meira, como acontecera ao Expressionismo, fora a deliberada c sistemática recusa das regras tradicionais de pintura, as quais, afinal de contas, esta"am sendo seguidas ainda com maior ou menor obediência pelos impressionistas e alguns expressionistas. A compoJ/ção, isto é, a organização e distribuição das linhas e cores para obtenção de determinados efeitos rítmicos de conjunto; a perspectiva ciCl1títictl, para comunicar a ilusão de espaço, profundidade ou distância; o daro-cullro, para a ilusão de volume, assim como a cor local, a <or Cílçacterística das diferentes matérias, pedra, madeira, pelt:, esses. e outros recursos tradicionais, reveladores de interpretação intelectual e não instintiva do mundo, foram deliberadamente recusados, para que o artista · pudesse exprimir sensações elementares de formas e cores. Definindo essa nova concepção, Maurice Vlaminck dizia que a freqüência dos museus .bastarda a personalidade do pintor . Aliás, Vlaminck foi o mais típico fovista. Mesmo fi sicamente, por sua constituição taurina e mde, temperamento sangiiíneo, ascendência de marinheiros holandeses e prática do ciclismo profissional. Era dotado dl' extraordinária vitalidade, embora. tivesse exercido também o dclicado c mesureiro ofício de professor de piano . Em poucas frases, definiu a concepção {a vista . Queria fossem sud cores verdadeiros gritos. "Jamais pensei na arte - escreveu - ' na. arte clássica, na arte italiana, naquela dos gregos. Queria incendiar a Escola de Belas Artes com os meus azuis e vermelhos e desejava traduzir os meus sentimentos com os meus pin céis, sem me prcQcupar com o que tinha pintado. Não penso em arle, quero apenas demonstrar como gosto de uma coisa ou detesto wna ordem estabelecida. Quando tenho cores nas mãos, pouco me importa a pintura dos outros - a vida e eu, eu e a vida . Em arte, cada geração deve recomeçar tudo . É preciso mais coragem para obedecer a seus instintos do que para morrer herói num campo de batalha. O que não poderia fazer com a sociedade, atirando uma bomba de dinamite, que me condu zi ria à guio lhotina, tentei reali za r na arte, na pintura, empregando cores puras, que saíam do tubo . Satisfiz, assim, minha vontade de destruir e desobedecer, para recriar um mundo sensível, vivo e livre." Em 1901, descobria V:lIl Gogh. Mais tarde escrevia : - "Naquele dia, quis mais bem ;t Viln Gogh do que a meu pai ."

Esse instintivismo, conduzindo ao abandono dos princípios técnicos tradicionais na pintura, inclusive e sobrerudo o aprendizado nas acade. mias oficiais, conduziu também - eis a segunda conse'1üência {ovista ;10 interesse e estudo das artes tocadas do mesmo elementarismo, como as dos selvagens primitivos, negros, crianças, autodidatas e arcaicos.

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