Trabalho e gênese do ser social na "Ontologia" de György Lukács

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Trabalho e Gênese do Ser Social na “Ontologia” de György Lukács ︱Ronaldo Vielmi Fortes

compreender o verdadeiro cerne estruturador do pensamento marxiano sob os auspícios da fundamentação lógico-epistemológica. O problema aqui provém da própria objetividade histórico-social predisposta, tanto cientificamente quanto filosoficamente, a repudiar toda indagação ontológica. Tanto os críticos de Marx como diversos pensadores de orientação marxista, seguidores políticos etc., sob a égide e predomínio de uma perspectiva fundada em critérios gnosiológicos acabaram interpretando a obra marxiana a partir do viés cientificista, reduzindo e restringindo o seu legado a postulações que giravam em torno de uma disciplina específica (como a economia, a história, a sociologia, etc.), ou até mesmo a simples reflexões epistemológicas (as discussões em torno da teoria do conhecimento em Marx, em que marcaram forte presença noções como o materialismo histórico-dialético, cientificidade materialista etc.). Aqui, entretanto, o espaço não permite amplas considerações sobre a gama de variações que afloraram do debate em torno da obra marxiana, razão pela qual cumpre limitarmo-nos ao enunciado lukacsiano segundo o qual a novidade do pensamento de Marx se encontra na forma como são elaboradas e tratadas as abstrações. O “ponto essencial do novo método” conscientemente desenvolvido por Marx é assim compreendido: o tipo e o sentido das abstrações, dos experimentos ideais, são determinados não a partir de pontos de vista gnosiológicos ou metodológicos (e menos ainda lógicos), mas a partir da própria coisa, ou seja, da essência ontológica da matéria tratada (Lukács, 2012, p. 322).

Tal determinação é o reconhecimento da fecunda inflexão do pensamento de Marx em relação ao conjunto de problemas que atravessou séculos e assumiu as mais variadas formas no interior do pensamento filosófico: “o objeto da ontologia marxista, diferentemente da ontologia clássica e subsequente, é o que existe realmente: a tarefa é a de investigar o ente com a preocupação de compreender o seu ser e encontrar os diversos graus e as diversas conexões em seu interior” (Abendroth

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