As Flechas de Apolo : aspectos culturais da medicina...

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Inúmeras vicissitudes enfrentou, e enfrenta, o homem, para sua sobrevivência; entre elas, e cada vez mais, o próprio homem, que, frequentemente, além de não levar em conta a salubridade de seu próprio ambiente, cria instrumentos terríveis de destruição de seu semelhante. E, deploravelmente, para que tais instrumentos sejam idealizados e materializados, conta-se, entre a de outros cientistas, a colaboração de médicos; não há, pois, exagero em dizer-se que o médico se encontra relacionado, também, à involução da humanidade. Ora, estes fatos impõem a necessidade — muito mais do que se imagina e do que se ensina — de uma segura compreensão da História, do sentido e do alcance do poder do médico e da Medicina. Na atualidade, esse poder é especialmente importante, tendo sido objeto de uma investigação por Boncenne e Assouline (3), na França, e que deu margem a que se salientassem alguns pontos do maior interesse. Inicialmente, o do aumento significativo de publicações, acessíveis a leigos, de obras de médicos famosos que, sem pretensões a literatos, relatando suas grandes experiências decorrentes do contato com pessoas das mais diversas classes sociais, e como testemunhas de importantes acontecimentos, opinam, com crescente audiência, sobre “[...] educação, política, costumes, família, história, Terceiro Mundo, futuro do homem, moral e, ainda, sobre muitos outros assuntos [...]”. Atribuem a “[...] influência excepcional de maitres penseurs [...]” dos médicos aos seguintes fatores: 1. Crises religiosas e políticas. 2. Sobressaliência da moral médica, contrapondo-se a desilusões e a suspeitas quanto a políticos. 3. Laços que se estabelecem em decorrência da relação médico-paciente. 4. Predominância dos progressos da Biologia (contraceptivos, controle da natalidade etc.), sobre os da Física Nuclear, que tanto impressionaram, na década de 1950. 5. Crescente inclusão de notícias médicas em meios de comunicação. 6. Assunção, pelo médico, do papel de humanista. Com os progressos no domínio da higiene e da medicina preventiva (da maior importância, sobretudo em face de doenças cujos tratamentos são desconhecidos ou precários), o médico penetrou na administração pública e na política. Dos programas de governo passaram a figurar, significativamente, medidas, diretas e indiretas, relativas a assuntos de saúde, de alta repercussão individual, social, econômica, militar etc.

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