Dietoterapia nas Doenças Pediátricas

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CAPÍTULO

TERAPIA NUTRICIONAL EM CRIANÇA COM QUEIMADURAS

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Valéria Laguna Salomão Ambrósio

INTRODUÇÃO Hoje, no Brasil, o índice de acidente doméstico por queimadura é ainda muito alto, segundo a Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ). Os incidentes domésticos mais comuns em crianças de até 6 anos de idade são causados por escaldadura por líquidos quentes, contato com ferro de passar roupa quente e choque elétrico.1,2 Já com crianças de 8 a 12 anos ocorrem mais queimaduras causadas por contato com combustíveis inflamáveis (álcool líquido de uso doméstico e gasolina) e fogos de artifício. As queimaduras são lesões decorrentes de agentes capazes de produzir calor excessivo que danificam os tecidos corporais e acarretam morte celular.2-4 As queimaduras podem ser classificadas de acordo com a profundidade e o local atingido: Primeiro grau (espessura superficial) – eritema solar: afeta somente a epiderme, sem formar bolhas. Apresenta vermelhidão, dor, edema e descama em 4 a 6 dias. Segundo grau (espessura parcial-superficial e profunda): afeta a epiderme e parte da derme, forma bolhas ou flictenas. yy Superficial: a base da bolha é rósea, úmida e dolorosa. yy Profunda: a base da bolha é branca, seca, indolor e menos dolorosa.5 A restauração das lesões ocorre em 7 a 21 dias. Terceiro grau (espessura total): afeta a epiderme, a derme e estruturas profundas. É indolor. Existe a presença de placa esbranquiçada ou enegrecida. Apresenta textura coriácea. Provoca alteração hemodinâmica, geralmente é indolor e a aparência da pele varia de cor branca com textura de couro a cor negra e carbonizada, com intensa formação de cicatrizes e de contraturas. Não reepiteliza, requer tratamento com intervenção cirúrgica ou de enxertia cutânea2

(indicada também para queimadura de segundo grau profundo). Quarto grau (gravíssima): além de queimar a epiderme e a derme, atinge a fáscia, músculos, tendões, articulações, ossos e cavidades.2,3 Áreas nobres/queimaduras especiais: olhos, ore­ lhas, face, pescoço, mão, pé, região inguinal, grandes articulações (ombro, axila, cotovelo, punho, articulação coxofemoral, joelho e tornozelo) e órgãos genitais, bem como queimaduras profundas que atinjam estruturas profundas como ossos, músculos, nervos e/ou vasos desvitalizados. O cálculo da extensão do agravo é classificado de acordo com a idade; normalmente, utiliza-se a regra dos nove, criada por Wallace e Pulaski,4 que leva em conta a extensão atingida, a chamada SCQ. Para queimaduras de superfícies corporais de pouca extensão ou que atinjam apenas partes dos segmentos corporais, utiliza-se para o cálculo da área queimada o tamanho da palma da mão (incluindo os dedos) do paciente, o que é tido como equivalente a 1% da SCQ. A avaliação da extensão da queimadura, em conjunto com a profundidade, eventual lesão inalatória, politraumatismo e outros fatores, determinará a gravidade do paciente.1

REGRA DOS NOVE A regra dos nove (Wallace), para cálculo da superfície queimada em crianças a partir de 10 anos de idade e adultos, é mostrada na Tabela 39.1 e na Figura 39.1.2-4 O processo de reparação do tecido queimado de­ penderá de vários fatores, entre eles a extensão local e a profundidade da lesão. A queimadura também desencadeia graves alterações fisiológicas, imunológicas, hormonais e metabólicas, que têm repercussões sistêmicas importantes, com consequências sobre o quadro clínico geral do paciente.1 A alteração


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