Abdullah – Escravo de Deus – Editora Letras

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CÍLVIO MEIRELES

O primeiro filho que meus pais tiveram foi minha irmã Fátima. Eu sou o quinto entre nove irmãos, nem todos estão vivos, um morreu na África de malária, ele se chamava Munir. É cultural nomear o primeiro filho ou filha com nomes de pessoas importantes da religião islâmica. Se nasce um menino dá-se, por exemplo, o nome de Muhammad, se nasce uma menina, Fátima, que foi a primeira filha do profeta do Islã, os xiitas gostam muito de dar esse nome para as meninas. Minha irmã mais velha foi minha segunda mãe. Meus pais se casaram em 1956 e meu pai estava ansioso para ter filhos, claro que ele queria um menino, mas ele não ligava muito. Acredita-se que a doutrina muçulmana veio para salvar as meninas também, pois os árabes, antes do Islã, tinham uma prática de matar meninas quando nasciam, enterrando-as vivas. Esse é um argumento muito usado pelos muçulmanos para falar sobre o cuidado do Islã para com as mulheres, que antes eram consideradas uma maldição. Existe uma sura, a At Taquir, aya 8-9, onde está escrito: “Quando a filha, sepultada viva, for interrogada: Por que delito foste assassinada?”. Essa passagem do Alcorão foi recitada para combater a cultura dos antigos árabes de matar as meninas ao nascer. Muitos pensavam que meu pai iria dar continuidade ao trabalho do meu avô na mesquita, mas na verdade foi meu tio Musa que assumiu essa responsabilidade. Ele ficou na mesquita e meu pai se casou e mudou para a 32


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