Comunicação Pública e Política: pesquisa e práticas - Parte 1

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justificam a edição, chamando a liberdade de imprensa, a autonomia e a competência profissional do campo. E tudo pode ser justificado, pois a ninguém ocorreria questionar estes princípios tão caros à civilização. Assim, as hibridações entre informação institucional e jornalística, entre interesses públicos e privados se tornam cada vez mais sofisticadas na combinação de enquadramentos de conteúdos, tecnologias e estéticas, que permitirão identificar as estratégias decisivas para a compreensão da realidade em vários níveis, vinculadas ao que pode/deve ser visto ou acessado. Relações e processos de comunicação permeiam todas as instituições e as teias que as ligam à sociedade e indivíduos. A democracia tem na sua natureza essa comunicação. Ao criar a tipologia das redes para identificar a circulação de opiniões e ações em torno de temas de interesse público, defende-se o poder destas instâncias e sua capacidade e necessidade de intervenção nas coisas da vida. O oposto disso seria o silenciamento coercitivo organizado pelo Estado. Assim como os sistemas de comunicação mediática, os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário possuem o maior poder de defesa de seus argumentos através de aparatos de visibilidade, publicidade e coerção. As redes de comunicação pública podem ser analisadas a partir das suas estratégias e indicadores de qualidade, considerando que nem todas se movem da mesma maneira, assim como os temas de interesse público não afetam a todas. A expressão e a visibilidade das redes de comunicação pública configuram o debate e seu empoderamento está diretamente relacionado a fatores entendidos como indicativos da qualidade da sua argumentação e mobilização capazes de incidir nas decisões primeiras, ou situações que desencadearam a circulação do tema de interesse público. Através de argumentos racionais e posições passionais, de dispositivos profissionais e tecnológicos, mobilizações de rua e estética própria, as redes acionam opiniões e provocam decisões. A eficácia das estratégias utilizadas depende da legitimidade, visibilidade e credibilidade. Estas estratégias apontam para a qualidade do discurso e a capacidade de deliberação dos públicos. A legitimidade é a mais importante, mas também complexa de avaliar, na medida em que é preciso mensurar a capacidade de liderança, de representação e de reconhecimento por diferentes instâncias, direta e indiretamente implicadas no debate. Esta legitimidade incide na repercussão de todas as ações. Abrange os indicadores do reconhecimento da autoridade conferida aos organizadores, líderes devido a sua representatividade, poder ou carisma, por escolha. 54


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