Comunicação Pública e Política: pesquisa e práticas - Parte 1

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No sentido proposto por Harvey (2014), a questão da mobilidade urbana ganha uma nova significação. Reivindicar o direito ao transporte público é reivindicar o direito ao próprio espaço urbano. Castells (2013) reforça a ideia de mobilidade como direito universal e aponta a imobilidade estrutural das metrópoles, resultado da especulação imobiliária e da corrupção, como o núcleo da insatisfação no caso brasileiro. No Brasil, segundo Singer (2013), aos protestos de rua soma-se também a expressão de uma classe média tradicional inconformada com diferentes aspectos da realidade nacional e o reflexo de um chamado novo proletariado, composto por trabalhadores jovens que conseguiram emprego com carteira assinada na década lulista (2003-2013), mas que sofrem com baixa remuneração, alta rotatividade e más condições de trabalho. As manifestações de junho de 2013, pela ruptura dos fatos cotidianos e pelo impacto social e político que representam, podem ser consideradas um acontecimento e reúnem todas as características que interessam a cobertura jornalística e midiática. Mas, além disso, ao analisar os enquadramentos construídos sobre elas, é preciso considerar que, mais que um conjunto de eventos, trata-se de uma força mobilizadora de debates sobre problemas públicos e ação política. É, portanto, um acontecimento do tipo público. Assim, justifica-se a inclusão, no recorte analisado, não somente da cobertura das manifestações, mas de sua repercussão e dos temas associados a ela, especialmente de ordem política. A partir desta apropriação teórica, levanta-se ainda a hipótese de que a materialização do acontecimento em acontecimento público midiático implica em diferenças na apropriação dele por cada uma das mídias, marcadas por certo tipo de linguagem e inseridas, cada uma, em um contexto sócio-histórico específico. É esta característica que dá sentido social às escolhas de temas, enquadramentos e abordagens. Seguindo a perspectiva da comunicação pública – como horizonte normativo baseado na racionalidade, na igualdade de acesso à esfera pública e na paridade argumentativa de todos os interessados – compreende-se que estas características do espaço público definem também os enquadramentos que pretendam se constituir dentro de uma ideia de interesse público.

TV Globo, televisão privada, e TV Brasil, televisão pública O acontecimento manifestações de junho de 2013 poderia ser narrado e avaliado a partir de, pelo menos, quatro pontos de vista imediatos: 146


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