Filosofia autentica

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humano, social e psicológico), e não uma experiência de si em relação ao ser divino. Assim, o fato de uma pessoa praticar uma religião não significa necessariamente que ela pense em um sentido transcendente para a existência ou experimente uma relação com o mistério. 4. Pense em pessoas e grupos religiosos que você conhece. Essas pessoas e esses grupos dão sinais de uma experiência religiosa autêntica? Lembre-se que analisar o comportamento de pessoas e grupos não significa fazer um julgamento sobre eles, sobretudo porque, no limite, nenhum ser humano conhecerá plenamente o que há na consciência de outro. Analisar o comportamento de pessoas e grupos significa procurar sinais que permitam conhecer o sentido que eles dão à própria vida. Com essa intenção é que convidamos você a refletir. Reposta pessoal. EXERCÍCIO B (p. 313) 1. O que permite afirmar que na experiência religiosa a pessoa experiencia a si mesma sem que, por isso, ela viva uma ilusão ou uma fantasia? O fato de que em uma experiência religiosa autêntica a pessoa experiencia a si mesma, em relação a uma realidade que a transcende. Não se trata de uma ilusão ou fantasia, porque é justamente em uma relação que a pessoa se experiencia: a relação com um polo ou um horizonte de sentido ilimitado, com a concomitante percepção da incapacidade de dominar intelectualmente esse polo ou horizonte. 2. Por que Friedrich Schleiermacher defendeu a necessidade de identificar um sentimento especificamente religioso? Porque as formas modernas de referir-se aos diferentes tipos de experiência não eram suficientes para retratar a experiência religiosa, uma vez que a reduziam a algo de caráter metafísico (compreensão intelectual do modo de ser das coisas) ou a algo de caráter moral (um código de normas de conduta). Considerando que sentimento é diferente de emoção, Schleiermacher propõe chamar de sentimento religioso a experiência relativa à percepção do mistério divino. 3. Qual o conteúdo do sentimento religioso segundo Schleiermacher? A percepção da dependência total do ser humano com relação aos outros seres e à totalidade do mundo ou o infinito, uma dependência que não pode ser definida nem inteiramente explicada, mas sentida. Essa percepção causa a aceitação amorosa da totalidade da existência. 4. Observando sua própria vida, você considera que possui sentimento religioso? Justifique sua resposta. Resposta pessoal. EXERCÍCIO C (p. 317) 1. Por que Rudolf Otto viu a necessidade de complementar a filosofia da religião desenvolvida por Friedrich Schleiermacher? 496

Filosofia e filosofias – existência e sentidos

Porque, no dizer de Otto, era necessário garantir que a experiência religiosa autêntica não fosse confundida com um mero subjetivismo nem restrita a uma experiência produzida pela consciência dos indivíduos (o que poderia não passar de ilusão ou fantasia). Era preciso garantir que um objeto ou um conteúdo se apresentasse à consciência, possibilitando falar sobre ele. É nesse sentido que Otto passou a analisar, da perspectiva do objeto ou do conteúdo, a especificidade da consciência religiosa. 2. Quais as características do Sagrado conforme a observação de Rudolf Otto? Segundo a observação de Rudolf Otto, pode-se chamar de Sagrado aquele objeto ou conteúdo que se apresenta à consciência com as seguintes características: (1) é encontrado como algo que provoca um sentimento do estado de criatura (quando a pessoa percebe o Sagrado, sente que a vida é recebida e que nada no mundo é suficiente para explicar esse sentimento); (2) é encontrado como mistério tremendo ou mistério que causa espanto (ao perceber o Sagrado, a pessoa tem a certeza de estar diante de algo maior do que ela e do que tudo o que existe; em contrapartida, essa experiência faz com que a pessoa tenha noção também de sua pequenez); (3) é encontrado como mistério fascinante (a pessoa não sente medo diante do Sagrado, mas fascinação; sente-se fortemente atraída por ele, desejando conhecê-lo); (4) é encontrado como algo que produz uma força ou energia nova (a pessoa religiosa sente um impulso ou uma vitalidade nova quando estabelece uma relação com o ser divino). 3. Com base no uso da analogia, explique a seguinte frase: “Uma pessoa religiosa pode crer que conhece Deus, mas não pode ter a pretensão de dizer que Deus é só aquilo que ela pensa que ele é”. Como mistério transcendente, Deus não é algo que pode ser dominado conceitualmente (retratado segundo os limites da razão humana). Dessa perspectiva, tudo o que se afirma sobre ele, inclusive nas diversas religiões (com ou sem livros sagrados), é afirmado por analogia. A analogia, ao mesmo tempo que permite falar sobre o transcendente tal como o percebemos, evita a pretensão de que se acredite que aquilo que se pensa sobre ele corresponde exatamente ao que ele é. Assim, por exemplo, quando se afirma que o ser divino é “pai”, “amoroso”, “fonte de equilíbrio” etc., isso quer dizer apenas que ele é “como um pai” (imaginando que todo pai deveria ser bom), “como um ser que ama”, “como uma fonte de equilíbrio”, mas ele não é exatamente um “pai” (se ele fosse um pai, teria todas as falhas que os pais humanos têm e teria ainda um pai, um avô etc., deixando de ser o princípio divino de tudo), nem “amoroso” ao modo do amor imperfeito que percebemos no mundo, nem uma “fonte”, que pode se esgotar. Aliás, Deus também pode ser visto como “mãe” (imaginando que toda mãe deveria ser boa), já que ele não é nem “pai” nem “mãe”, pois não tem sexo. 4. Explique o Princípio de Clifford e o Outro Princípio de Clifford.


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