Filosofia autentica

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Aplicando a análise do Bem à análise dos prazeres e da ausência de dor, pode-se concluir, em continuidade com Moore, que eles são bens particulares ou coisas boas, quer dizer, têm a qualidade recebida do Bem (são valorizadas como manifestações do Bem). Por fim, chamando de felicidade o conjunto de prazeres e a ausência de dor, pode-se concluir que a felicidade transcende os prazeres e a ausência de dor, permanecendo como a fonte do sentido dessas experiências, assim como o Bem transcende as coisas boas e é o que dá a bondade delas sem identificar-se totalmente com elas mesmas. No limite, o Bem e a felicidade são o mesmo. Essa análise permitirá a Moore rejeitar definitivamente a postura naturalista. No seu dizer, a frase “O prazer é o Bem” só é compreensível se pensarmos que o prazer significa o gozo ou a satisfação dos sentidos. A frase “O prazer é o Bem” poderia, então, ser trocada por “O gozo dos sentidos é o Bem”. Mas essa troca só seria justificável se a frase “O gozo dos sentidos é o Bem” fosse entendida como “O gozo dos sentidos faz parte do Bem”, sem pretender que ela 100

Filosofia e filosofias – existência e sentidos

Reproduç ão/Galleria Na zionale d'Arte Moderna e Comtempor ane a , roma , itália

1º Momento (ponto de partida): Moore explica o que é uma definição, baseando-se no dado que, quando definimos uma palavra, mostramos as partes ou as ideias que compõem essa palavra. 2º Momento: Moore faz um contraponto, mostrando que certos conteúdos de pensamento (expressos por palavras) não têm partes; são tão básicos que acabam sendo usados como partes para definir outros conteúdos (outras palavras). 3º Momento: Moore dá um exemplo para ilustrar o contraponto e lembra que não temos como definir o amarelo, pois não é possível analisá-lo (dividi-lo em partes). 4º Momento: o autor aplica o contraponto e seu exemplo à compreensão do Bem. 5º Momento: o autor tira a conclusão de que, como o Bem serve para identificar as coisas boas, e como ele não tem partes, não é possível defini-lo.

Gustav Klimt (18621918), Três idades da mulher, 1905, óleo sobre tela. Klimt, que era conhecido por sua personalidade difícil, permite ver na imagem da criança no aconchego dos braços maternos um retrato das bases da atividade de ser feliz: a confiança na existência (como a confiança em uma boa mãe) permite exercitar a felicidade no momento presente, desfrutando dela, e preparar-se para o futuro.

signifique “O Bem é o gozo dos sentidos” (ou “O Bem é o conjunto dos gozos dos sentidos”), pois o Bem pode ser mais amplo do que o gozo dos sentidos. Imagine que alguém tome a frase “As árvores brasileiras fazem parte do Brasil” e a use para concluir que “O Brasil é a soma das árvores brasileiras” ou “O Brasil é um conjunto de árvores”. É evidente o equívoco desse raciocínio, pois o Brasil é muito mais do que suas árvores. Assim também o equívoco utilitarista consiste em reduzir o Bem aos prazeres. Eles tomam uma tautologia ( p. 101) e a utilizam como forma de extrair uma conclusão não garantida por essa tautologia.

Absoluto e relativo CONCEITOS ESTRATÉGICOS

Ao identificar cinco momentos do texto de Moore, observa-se que tais momentos não correspondem à ordem temporal (tempo histórico) em que o autor escreveu seu texto, mas à estrutura que ele adotou na articulação de suas ideias (tempo lógico). Observando as cores, você pode constatar, por exemplo, que o primeiro momento lógico corresponde ao segundo momento redacional e que a conclusão ou quinto momento lógico corresponde ao primeiro momento redacional:

Absoluto – algo que pode ser pensado por si só, sem precisar de nenhuma referência a outra coisa. Exemplos: A justiça é o absoluto pelo qual se orientam nossas ações justas. Deus, se existe, deve ser absoluto, pois todo o restante é relativo. Relativo – algo que só pode ser pensado em referência a outra coisa. Por extensão, relativo é também tudo o que depende do ponto de vista de quem o analisa. Exemplos: O grau de bondade das coisas é relativo ao Bem. As opiniões são relativas a quem as pronuncia.


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