Graciliano Nº 1

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Ailton Cruz

Luiz Sávio de Almeida

Quem é Professor Dr. em Historia Social e Professor Emérito da UFAL

Depoimento Meu primeiro contato com Graciliano foi através de Memórias de Cárcere. Depois fui lendo devagar uma coleção editada, caso não me engane, pela José Olympio. Estava nos 17 para a frente. Anos depois, utilizava seus romances para debater com os alunos temas de sociologia rural. Evidentemente, a escrita não reproduz a realidade das vidas, mas Graciliano mergulha de tal maneira no cotidiano que suas contradições surgem e foi a tensão presente na sua fala sobre a realidade que a ele até hoje me prendeu.

permanentes e é no clima que se delineia depois de 1935 que vai se dar a prisão de Graciliano Ramos. Em nenhum momento, o nome de Graciliano aparece nas lutas políticas. Os nomes de intelectuais que se diziam ser comunistas eram Alberto Passos Guimarães e Waldemar Cavalcanti. Em longas conversas comigo, Alberto jamais mencionou o nome de Graciliano Ramos como militante. Nem a Raquel de Queiroz (trotskista à época) falou de qualquer atividade partidária do Graciliano, e mantivemos alguns bons papos sobre Ma-

ceió, embora ela detestasse recordar aquela época pelo imenso sofrimento pessoal que viveu. Num dos papos, conta as versões corridas sobre prisão de Graciliano e lança: “Meu filho, somente diga estas coisas depois que eu morrer!”. Fiquei embaraçado, ela notou e arremessou o torpedo: “Fique tranquilo menino, eu morro logo!”. Começamos a rir e falei: “Então não me interessa saber. A conversa não tá gravada, como é que vou provar que você disse? Pode guardar para você as suas coisas!”. E rindo terminamos este telefonema.

Na verdade, ela desejava fazer alusão ao que circulava: a) prisão por natureza política ideológica; b) prisão em face da fofoca política ou perseguição pessoal; c) prisão em face de problemas pessoais. Quem sabe tudo não se mistura numa aura que parece misteriosa? O fato é que o pessoal, o político ou ambos conspiraram para que surgisse um texto que representaria as vidas de encarcerados, numa referência à memória dos que eram ditos portadores de pensamento ilegal. O fato é que, com relação à sua prisão, Graciliano contou o que desejava fosse sabido.


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