ARTIGO
Alguns enredos são perturbadores como uma noite de insônia. A Morte de Paula D. é um desses casos. Romance curto e obscuro, cheio de retornos e bocas-delobo, ele muito se assemelha a um mosaico composto por acontecimentos recortados da vida de uma mulher comum, de personalidade louca e com tendências suicidas. A narrativa incomum, indômita e frenética desses acontecimentos trágicos da protagonista em sua trajetória de descoberta de si mesma e de suas verdades impalatavéis chamou a atenção do público leitor e da crítica. Obra de autoria de Brisa Paim, escritora e pesquisadora atualmente residente em Coimbra, o romance foi vencedor do Prêmio Lego de Literatura 2007, uma iniciativa
Poderíamos elencar inúmeras qualidades dessa obra tanto no que se refere ao projeto gráfico, quanto à forma quase orquestral como Paim dispôs o texto, que se coloca como um desafio à leitura e um
Alguns enredos são perturbadores como uma noite de insônia. é um desses casos da Faculdade de Letras da Ufal que tem fomentado a produção literária no Estado, revelando e abrindo espaço para novos talentos. Publicado em 2009, o livro foi também indicado ao Prêmio São Paulo de Literatura 2010 na categoria autor estreante.
30
elogio à linguagem. No entanto, é especificamente à questão da linguagem, as construções imagéticas e suas interfaces com o topos da loucura feminina, que direcionaremos o nosso olhar. No decorrer da história da literatura, muitas obras de
janeiro/fevereiro 2012
ficção têm sido povoadas por personagens femininas enlouquecidas. Tais representações da loucura, especialmente nas narrativas escritas por mulheres (como Jane Eyre, de Charlotte Brontë, O Papel de Parede Amarelo, de Charlotte Perkins Gilman, etc.), são bem exploradas por estudiosas/os, principalmente pelas críticas feministas, como Shoshana Felman, Sandra Gilbert e Susan Gubar e Nina Baym. Nesse contexto, citamos o argumento de Cíntia Schwantes em seu artigo “A voz da louca, a voz da outra”, que enfoca o par linguagem-loucura: “Narradoras autodiegéticas, elas [as protagonistas] utilizam os artifícios da linguagem para contar sua experiência de enlouquecimento. Sujeitas a uma autoridade masculina,