Os demônios de cada um de nós 15

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Dem么nios de cada um de n贸s

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Dem么nios de cada um de n贸s L e a n d r o S. F e r r e i r a

S茫o Paulo 2015

Copyright © 2015 by Editora Baraúna SE Ltda

Capa

AF Capas

Diagramação

Jacilene Moraes

Revisão

Raquel Sena

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________ F44d Ferreira, Leandro S. Os demônios de cada um de nós/Leandro S. Ferreira. - 1. ed. - São Paulo: Baraúna, 2015.

ISBN 978-85-437-0435-7 1. Ficção brasileira. I. Título.

15-23713 CDD: 869.93 CDU: 821.134.3(81)-3 ________________________________________________________________ 16/06/2015 18/06/2015

Impresso no Brasil Printed in Brazil

DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br

Rua da Quitanda, 139 – 3º andar CEP 01012-010 – Centro – São Paulo - SP Tel.: 11 3167.4261 www.EditoraBarauna.com.br

Quatro detetives, um serial killer e uma torrente de pesadelos caóticos. O assassino, que se autodenomina Artista, mata sem escrúpulos e planeja tudo minuciosamente. Detetives, Gabriel Batista, Enzo Ramires, Gustavo Silva e Bruno Lacerda, em busca de uma promoção terão que exorcizar os seus próprios demônios e controlar seus comportamentos ambíguos e neuróticos antes de pegar o famigerado matador Artista.

Dedico esse livro ao meu pai, Ivan, e à minha mãe, Léa.

O violino toca uma música melancólica e triste, fazendo com que os seres humanos se fechem em seus casulos de desumanidade.

A linha, tênue, entre a vida e a morte. Maldade e bem. Genialidade e loucura. Fica cada vez mais fina com o passar dos anos.

Cada homem deixa a sua marca. Traça o seu destino e se vai, deixando apenas a sombra de seus fantasmas medonhos.

O ser humano chega ao seu apogeu misterioso. Mostrando o seu extenso horizonte de maldade e podridão.

Ninguém é mais o mesmo. Tudo mudou. Nascemos para morrer. Atravessar o rio é a única salvação.

Os dias são mais escuros. As pessoas se mostram mais assassinas. A moral humana nunca existiu.

O desleixo e a crueldade chegaram ao seu apogeu. Mais alto que o ninho das grandes aves.

Tudo está queimado pelo fogo e só existem cinzas que o vento leva para toda a parte.

O homem suplica para ter a morte, existe apenas o prazer da tortura. Se divertir.

A atmosfera de medo, desesperança, terror e maldade abraça cada indivíduo.

O tenebrismo dos nossos tempos é a chave para a descarga da humanidade.

Aquilo que vem do coração virou um vômito de cor amarelo-esverdeada.

O vento traz um fedor odioso que enche as narinas de maus espíritos.

Sentimos o frio que ataca as nossas espinhas e nos faz estremecer.

Só conseguimos ver o olho negro, com ódio, no outro.

Tudo se vai para o ralo virando bosta.

Tudo o que tocamos vira merda.

Não resta nada.

Nada.

1 Brasil — São Paulo, capital, 22 de janeiro de 1988.

Foi pego desprevenido.

Um pano com morfina em seu nariz e boca. Desmaiou.

Acordou subitamente com uma dor de cabeça. Tentou levantar a mão, mas não conseguiu, notou que suas mãos e pernas estavam presas, por correntes, em uma maca. A maca era velha, com pés enferrujados, com o estofado rasgado e por lavar.

Ficou desesperado, tentou, atonitamente, se soltar das correntes, mas foram tentativas infelizes. Gritou por socorro. Sua voz ficou rouca, e depois de muito tempo, desistiu. Seu corpo estava estático.

Lucas, a vítima, olhou ao redor com mais atenção.

Não sabia por quanto tempo estivera ali, “Será que alguém sentiu a minha falta? O que devo fazer? Vou morrer, vou morrer...”, pensou.

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O pânico se tornou frenético, a alma de Lucas estava inquieta. Tentou achar um refúgio em volta, mas era uma sala pequena e fechada, escura e úmida. Só havia a maca, uma porta trancada, Lucas e uma pequena estante de um metro e meio, madeira maciça e fechada com um cadeado. Lucas, deitado na maca e impossibilitado de fazer qualquer tipo de ato que pudesse salvá-lo, ficou angustiado ao notar que sua inteligência e força não poderiam fazer nada por si. Teve uma ideia, tentou balançar a maca virando seu corpo de um lado para o outro, apenas mais uma tentativa sem resultado, a maca parecia fincada no chão.

Parado, olhou para o teto, lágrimas de desespero começaram a rolar pelo seu rosto, chorava como uma criança. Outras tentativas de gritos e de se soltar foram feitas. Nada. Um sombrio pensamento de morte começou a rolar pela sua mente, entretanto logo ele sacudiu a cabeça esvaziando pensamentos torpes. A calma era a melhor opção nesse momento. Lucas se viu fragilizado perante a incapacidade de salvar-se. Não queria pensar na morte; todavia, quando olhava para os lados e via o cenário, se via preso e com medo, só conseguia pensar que alguma pessoa o queria mal, muito mal. Lembrou dos noticiários em que pessoas eram mortas de forma inumana, lembrou dos livros e revistas de assassinos.

Tudo isso não dispersava a neblina negra de sua mente.

O local estava cada vez mais quente.

Lucas era muito conhecido na comunidade onde morava. Ele era ator e estava começando a ascender em sua profissão. Algumas pessoas o viam com bons 10

olhos, mas a maioria não gostava do seu jeito cada vez mais arrogante e autoritário. Lucas era uma pessoa egoísta e nada humilde.

A maçaneta da porta foi girando lentamente, Lucas olhou a cena desesperado, pensando se seria alguém para ajudá-lo ou fazer mal. Ele ficou em silêncio olhando a cena que parecia se desdobrar em câmera lenta. Finalmente uma fresta da porta se abriu. Ninguém, apenas um frio de estremecer as pernas. Os olhos de Lucas estavam arregalados e fitos na porta. Viu uma pessoa de branco entrar. Parecia um médico, tinha a vestimenta de um pelo menos. Máscara protegendo boca e nariz, óculos para proteger os olhos e um avental. Lucas olhou sem nada dizer, enquanto a pessoa ia direto para o armário. O indivíduo de branco tirou uma chave do bolso e abriu o armário. Tirou um pequeno rádio e o colocou em cima do armário, ligou na tomada e apertou Play. Uma trilha sonora de Hans Zimmer e Lisa Gerrard começou a tocar.

Logo em seguida, o indivíduo tirou algumas ferramentas de cirurgia do armário junto com uma pequena mesa, portátil de metal. Fechou o armário, apoiou a mesa do lado da maca, onde Lucas estava, e arrumou, metodicamente, os aparelhos cirúrgicos.

— Não! Não! Não! — Lucas gritava. — Por que eu? O que você quer de mim? Não! — começou a chorar — meu De...

— Cale-se! — o indivíduo falou com uma voz rouca. — Você foi um garoto mal, Lucas.

— Não... — chorava e tossia. — O que eu te fiz? — Lucas ficou vermelho de tanto tossir.

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— Você que fez a si próprio, se destruiu. — Pegou um bisturi. — Agora escute a música e se delicie com o momento.

O sujeito de branco parecia ter prazer enquanto cortava o estômago de Lucas, que gritava. A trilha sonora, os gritos, sangue, desespero e o olhar de medo pareciam lhe propiciar um momento único e de êxtase. Lucas não resistiu muito aos ferimentos que lhe eram causados pelo indivíduo e morreu.

Lucas tinha apenas 19 anos.

O Homem de Jaleco branco pegou uma porção de sangue de Lucas e, com um pincel, escreveu na parede, em letras garrafais, ARTISTA.

£££

— Rapazes, vamos fazer da seguinte forma — o chefe do departamento investigativo da polícia falava para quatro detetives. — Temos uma vaga para detetive-chefe. Como todos já sabem, Frank se aposentou e temos um lugar em aberto. Como vocês são detetives ambiciosos e sei que querem tentar se levantar na carreira profissional, vou lançar um desafio. Quem pegar o Artista vai ter o prêmio, ok?

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Alguns peritos e fotógrafos já tinham analisado a cena do crime. Falaram sobre a palavra Artista escrita na parede. Geralmente um assassino que não tem nome, como é o caso da maioria, é associado a algo da cena do crime. Todos na delegacia de polícia já conheciam o assassino pelo nome Artista.

O chefe do departamento investigativo, Carlos Alvarenga, é uma lenda na polícia, é conhecido por resolver todos os casos em que esteve envolvido. Foi promovido chefe do departamento há três anos, e vem fazendo um ótimo trabalho. Ele tem fama de ser durão e muito competitivo. Obstinado, quando quer alguma coisa. Não para até obter resultados favoráveis. Seu único problema são as mulheres, não pode ver um rabo de saia. Carlos tem um e noventa de altura, barba espessa, loiro e forte.

Carlos estava em uma reunião com quatro dos melhores detetives da delegacia de polícia. Gabriel Batista, Enzo Ramires, Gustavo Silva e Bruno Lacerda.

Quatro homens dedicados à carreira, cada um com suas características.

Enzo Ramires é o detetive mais indicado para o cargo, porém Gabriel Batista vem desenvolvendo um ótimo trabalho, e Carlos está voltando seu olhar para ele. Gustavo e Bruno são novos na delegacia, mas têm as mesmas garras e ambições.

Os quatro detetives de pé assentiram com a cabeça, concordando com a proposta de Carlos. Todos queriam o cargo de detetive-chefe.

— Vão ficar olhando para mim com essas caras de peixe morto? Vão fazer algo! — Carlos gritou.

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Os detetives saíram sem falar nada, se recostando um no outro ao sair pela pequena porta de madeira maciça.

Gabriel foi para o seu escritório. Sentou-se à mesa e começou a ver todas as informações e fotos que tinha disponível sobre o Artista. Olhou o laudo do legista, as fotos de Lucas sem o estômago e a cena do crime. Releu o laudo.

Análise Primária O corpo foi encontrado em uma sala escura e com cheiro de esgoto. O corpo de Lucas Granjeiro estava em cima de uma maca. Ele se encontrava amarrado com correntes. Há indícios de que o assassino usou morfina para desmaiar a vítima.

Praticamente o estômago inteiro estava para fora do corpo. A vítima ficou viva por mais tempo do que o esperado. Dados médicos apontam que ela, provavelmente, viu o estômago ser retirado do seu corpo e após alguns minutos morreu.

— Merda! — Gabriel disse baixo para si mesmo.

Seus olhos se fixaram na imagem de Lucas morto.

Os dedos cravados na maca, olhos arregalados, mandíbula torta, sangue escorrendo pela boca, sangue por todo o lado. A análise de Gabriel foi interrompida por dois toques na porta da sua sala.

Enzo colocou a cabeça para dentro da sala e disse: — Ei, seu lixo, não ache que vai ganhar essa. Já estou na frente, fique longe para o seu próprio bem.

— Vá se foder, Enzo, por que não arruma outro para encher o saco?

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— Falou, otário, depois não fale que eu não avisei.

— Enzo bateu a porta e saiu gargalhando pelo corredor.

A rixa entre Enzo e Gabriel é antiga. Os dois sempre se destacaram nos casos que participaram. Enzo parecia ter fontes confidenciais que sempre lhe passavam informações sigilosas que resolviam seus casos. Gabriel já tinha um faro aguçado e resolvia seus casos com o tato de um bom detetive. Gabriel começara a se aproximar de Carlos e pressionar uma promoção. Enzo, claro, ficou sabendo disso, não ficou nada feliz e começou a importunar Gabriel, que cada vez mais tinha uma grande preferência para ocupar o cargo de detetive-chefe.

Anos atrás, Gabriel Batista e Enzo Ramires estavam participando de uma mesma investigação. Gabriel estava perto de encontrar um assassino em série. Enzo Ramires estava puto porque não estava nem perto do assassino. Era uma disputa e Batista estava na frente. Enzo, por meio de informações confidenciais, soube qual era o plano de Gabriel. Batista havia achado o assassino e iria prendê-lo. Enzo se antecipou, foi ao local onde sua fonte indicou e prendeu o assassino. Na delegacia Enzo Ramires foi ovacionado, enquanto Gabriel Batista entrou de cabeça baixa em virtude do fracasso de sua operação.

Quando Gabriel chegou ao local onde o assassino deveria estar, Enzo Ramires já havia efetuado a prisão. Batista só não conseguia entender como Enzo Ramires chegou até onde só ele poderia ter chegado. Gabriel tivera uma de suas premonições, e com o faro de um bom detetive, uma pequena prova apontou o lugar onde o assassino morava.

Gabriel pressionou por todos os lados, achou o delator, 15