"Instrumentos", de Ismail Bahri

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LENTE PARA ALÉM

Já no primeiro vídeo desta mostra, o olhar capturado pela pequena gota d’água sobre a pele anuncia um percurso por elementos muito singelos, realmente sutis. Por meio da afetividade, Ismaïl Bahri nos faz notar algo que sempre esteve ali, como em um processo de autoconhecimento. Seja por perspectivas muito próprias ou por experimentos de linguagem, somos atraídos pelo que não é dito explicitamente. Para abordar questões absolutamente complexas, como a passagem do tempo, relações entre elementos distintos ou a finitude, apenas para listar algumas, Bahri elabora a simplicidade. As perguntas são universais, mas aparecem aqui sob uma perspectiva assumidamente subjetiva e apresentam experiências que nos conectam de maneira profunda. Com sua abordagem franca e disposta ao encontro com o outro, Bahri atua a partir do desejo pelo inesperado. Idealizada pela Galerie Nationale du Jeu de Paume, que apresentou a mostra em 2017 em Paris, Instrumentos torna possível estabelecer uma relação com a obra do artista como um dispositivo de conexão e deslocamento entre mundos. Mesmo que em um dos vídeos ouçamos uma conversa local de Túnis, sua cidade natal, a familiaridade já é tanta que, repentinamente, quase podemos acreditar ser um diálogo nas ruas de São Paulo. Ao tratar de pertencimento, impermanência, território e fragilidade, entre muitos outros temas, Ismaïl Bahri trabalha com o que inevitavelmente nos diz respeito. Por meio de sua obra, apresentada pela primeira vez no Brasil em uma exposição individual, é possível auscultar o silêncio, se concedermos a atenção e o tempo que ele nos pede. A lente de Bahri nos permite, pouco a pouco, ver para além da matéria.

RODRIGO VILLELA Diretor Executivo do Espaço Cultural Porto Seguro

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