Revista NTU Urbano Ed. 1

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P o n t o d e ô n i bus

Adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN especializado em transportes e blogueiro

Jovens americanos adotam o transporte público como estilo de vida

O

s jovens hoje protestam em diversas cidades brasileiras contra o valor das tarifas de ônibus. E não há de se tirar a razão da juventude, pois, para o bolso do trabalhador, as passagens são caras mesmo. Mas não adianta reivindicar por tarifas menores se não houver também uma reivindicação por prioridade ao transporte público. É isso o que deixará mais baixos os custos do sistema e, por consequência, o valor das passagens mais próximo da realidade do trabalhador. Uma pesquisa da Universidade em Michigan, nos Estados Unidos, revela que, devido aos investimentos em transportes, os jovens norte-americanos têm se interessado menos por carros, em comparação a décadas passadas. Mas, no país norte-americano, há uma rede de metrô e de corredores de ônibus que satisfaz as necessidades de deslocamentos. Considerada a terra do culto ao automóvel, os Estados Unidos têm se conscientizado que o transporte individual torna as cidades impraticáveis e impedem o direito básico do ir e vir das pessoas com liberdade, devido aos congestionamentos e ao mau uso do espaço urbano. E essa consciência tem sido despertada nas novas gerações. De acordo com o levantamento da Universidade de Michigan, menos jovens estão dispostos a comprar carros. Além da recessão econômica dos últimos quatro anos, maior consciência ambiental e a praticidade estão entre os motivos. A população, em especial a mais jovem, entende que é mais rápido, prático e barato se deslocar de transporte público. Dados do instituto de pesquisas norte-americano CNW mostram que hoje o público de 21 a 34 anos que possui carro responde por 27% do mercado de automóveis. Em

Pesquisa nos EUA revela que jovens estão usando menos carros. No Brasil, a tendência seria a mesma se o transporte coletivo recebesse prioridade nos investimentos públicos.

1985, essa fatia era de 38%. Ainda de acordo com a Universidade de Michigan, em 1983, apenas 8% dos jovens entre 21 e 34 anos não tinham carta de habilitação. Em 2008, esse número saltou para 18%. Obviamente que, além da crise econômica, o aumento da população não deve ser descartado. Mas chama a atenção que o perfil de deslocamento tem mudado, mesmo entre jovens que possuem veículos próprios: 24% se deslocam de bicicleta e mais de 50% dos que têm carros optam pelo transporte coletivo no dia a dia. Numa época em que, com razão, a juventude brasileira tem se queixado das altas tarifas dos transportes públicos, é importante destacar que, quando o setor recebe prioridade, ele não oferece apenas serviços melhores, mas mais baratos também, mesmo que após um certo prazo de sua implantação. Ônibus que trafegam mais rapidamente em espaços exclusivos gastam menos combustível, peças, pneus. Além disso, um único veículo faz mais viagens. Ou seja, o custo final diminuiu. Basta depois o poder público fiscalizar e conceder os aumentos de acordo com a variação justa dos custos. Ninguém precisa abolir o carro de suas vidas, mas o transporte público nas cidades é uma questão de inteligência. Ocupar menos espaços com carros para sobrar mais espaços para pessoas.

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