NTU Urbano nº 2

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P o n t o d e ô n i b us

Adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN especializado em transportes e blogueiro

Transportes públicos transformando cidades, transformando vidas O transporte coletivo pode transformar as cidades! A frase não vem de nenhum entusiasta ou operador de transporte público, mas é uma constatação de especialistas do Banco Mundial que realizaram diversos estudos em vários locais do planeta, inclusive em nações em desenvolvimento que registraram historicamente um crescimento urbano muito mais rápido e desordenado. Dessas pesquisas e observações, foi lançado o documento “Transformando cidades com o transporte público: integração entre o uso do solo e transportes para a sustentabilidade urbana”. Com base em ações concretas de diversas cidades, que implantaram modernos sistemas de mobilidade, como os corredores de ônibus do tipo BRT (Bus Rapid Transit), o documento mostra que os municípios que conseguiram melhorar a qualidade de vida de seus habitantes ou visitantes foram aqueles que tomaram atitudes para aproveitar melhor o espaço urbano. Os transportes coletivos estão entre as ações para que o espaço nas cidades seja usado de forma democrática. A questão é de fácil entendimento: um ônibus ou uma composição de trem e metrô conseguem substituir uma grande quantidade de carros nas ruas, levando o mesmo número de passageiros e ocupando menos espaço, além de emitir bem menos poluição. Além da necessidade de investimentos e políticas públicas, um dos grandes desafios das cidades nesses processos foi a questão cultural. A boa notícia é que, apesar das dificuldades, foi possível criar não só “novas” cidades, mas novos estilos de vida. Desacostumadas a pensarem coletivamente, as pessoas quando viam os espaços dos carros diminuídos se sentiram até mesmo agredidas em sua individualidade. Mas, depois que perceberam o melhor aproveitamento do espaço, passaram a contar com sistemas mais confiáveis de transpor-

Estudo do Banco Mundial mostra que os municípios que melhoraram a vida da população foram aqueles que escolheram priorizar o transporte coletivo. A mudança se deu nas ruas, mas também na forma como as pessoas começaram a se interagir

tes públicos por não ficarem confinadas no trânsito. Em vez de horas perdidas nos congestionamentos, sobrou mais tempo para a família, estudos ou o merecido descanso. Num debate realizado em janeiro entre o presidente do Banco Mundial, Jim Young Kim, e o prefeito de Nova Iorque, Michael Bloomberg, durante um painel na Conferência “Transforming Transportation 2013”, foram levantados dados que provam que, além de melhorar a qualidade de vida das pessoas, os transportes públicos foram apontados como essenciais para o desenvolvimento econômico. Isso porque, com as vias mais livres, as organizações econômicas e geradoras de emprego, renda e educação podem ter seus bens, serviços e produtos escoados de maneira mais livre, bem como podem contar com trabalhadores mais pontuais, motivados e principalmente, descansados. Além disso, a falta de prioridade aos transportes coletivos faz com que sejam desperdiçadas grandes quantias de recursos, cujos gastos na área de saúde, por exemplo, poderiam ser evitados. Os especialistas defendem ações em diversas frentes, dentre elas, a educação da população, o melhor aproveitamento das ruas e o entendimento que, muito mais do que trazer benefícios à mobilidade urbana, os transportes públicos também auxiliam no acesso a oportunidades de emprego e renda, a serviços como educação e saúde e ao bem-estar nas cidades.

Revista NTU Urbano

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