Segundo Unicom de 2010-1

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À espera de uma família

SOLIDARIEDADE

MARLUCI DRUM REPORTAGEM E FOTOGRAFIA

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Arquivo Pessoal

Há 24 anos o Centr­o Social, Cultural e Educacional Gideões abriga crianças vítimas de maus tratos, abuso sexual ou abandono

Jéssica Soares Gomes chegou ao Centro Social Gideões quando ainda tinha um ano de idade. A mãe não tinha condições de criá-la e o pai ela não chegou conhecer. Jéssica deixou o orfanato aos 17 anos para se casar. Hoje uma mulher de 20 anos, estatura mediana, cabelos e olhos escuros, com um jeito de menina que é perceptível pela forma de se vestir e pelo jeito alegre de ser. Casada, Jéssica mora em Bento Gonçalves. Mesmo assim, sempre que pode, volta a Santa Cruz do Sul para visitar as tias que cuidaram dela e as crianças com as quais conviveu tanto tempo: a sua família. Quando questionada de como foi a vida no lar, Jéssica afirma: “Foi muito boa, bem proveitosa, estudei, fiz curso de costura, aprendi tocar violino, participei de coral. Em alguns momentos senti falta de ter uma mãe, um pai, mas quase não dava tempo de sentir isso, porque sempre havia uma tia ou outra me chamando e sempre um monte de crianças ao meu redor, meus irmãos né?!” A mãe biológica de Jéssica morreu quando ela tinha 12 anos, somente depois do casamento, através da internet, que ela teve contato com parentes mais próximos como tias e avós. Quando Jéssica apareceu na sala onde havia um reforço, as meninas largaram suas tarefas e correram encontrá-la para abraçá-la, como irmãs que não se viam e sentiam saudades. A mãe social Leni Severo de 53 anos, que trabalha e mora no lar, emocionada comenta: “É muito gratificante, porque eles saem , casam e depois eles nos ligam para saber como agente tá e voltam para nos visitar porque nós somos a família deles, é por isso que eles sempre voltam!” O Centro Social, Cultural e Educacional Gideões abriga atualmente 20 menores que foram abandonados ou estavam em situação de risco. O centro, que funciona há 24 anos, possui quatro casas-lar, cada uma delas é administrada por pais sociais, apoiados por uma equipe de trabalho, que busca o crescimento

Jéssica Gomes na época em que viveu no orfanato dos abrigados, tanto no aspecto físico como no psicossocial. As crianças e adolescentes são atendidas em tempo integral e recebem todos os cuidados necessários para a reinserção social e para o desenvolvimento humano. O centro é um lar provisório para as crianças que vivem em situações de risco, como maus tratos, abuso sexual, falta de condições por parte dos pais, tanto humana quanto financeira, para dar uma vida decente aos filhos. Por meios judiciais as crianças são encaminhadas ao centro Gideões, para que possam se recuperar dos traumas sofridos e recomeçarem a vida. As casas possuem na decoração muitos porta retratos pendurados nas paredes e enfeitando as estan-

tes. Neles fotos de crianças, loiras, morenas, negras, brancas, bebês, adolescentes, meninos e meninas. Nas fotos a recordação de aniversários, casamentos, momentos felizes. Nem todas as fotos têm como fundo o lar social, algumas mostram que é possível encontrar uma boa família e levar uma vida feliz. Os quartos são separados, cada um possui dois beliches e por lá tudo é muito organizado e limpo. Os quartos das meninas, logo são identificados pelas bonecas, que, bem vestidas enfeitam as camas. A justiça avalia se os pais biológicos estão em condições de terem novamente a oportunidade de cuidar dos filhos ou se as crianças devem ser encaminhadas para adoção. Dona Leni lembra que no início era muito


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