Exceção 2011

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ASSASSINATO

memória

Ênio estudou até a 5ª série do ensino fundamental, no interior de Santa Cruz do Sul, próximo ao Corredor dos Lopes. Desde muito novo começou a trabalhar. Seu primeiro emprego foi de safrista em uma fumageira. Mesmo com pouco estudo, o garoto não se acomodou e seguiu batalhando por um espaço mais digno no mundo. Estudou línguas, cresceu na empresa e se tornou gerente comercial. Especializou-se na língua inglesa com tanto empenho que um camarada de seu irmão, Lúcio, chegou a dizer que ele era um dos brasileiros que melhor dominava a língua mais falada no mundo. English of course. Talvez até fosse, mas não é mais possível saber. Ênio Pedro Wickert foi assassinado no dia 14 de abril de 2005, aos 46 anos. Seu corpo foi encontrado dentro de seu carro, um Palio Adventure, às margens da BR 471, no trecho que passa pelo Bairro Harmonia, em Santa Cruz do Sul, às 23h15. Dois tiros foram disparados. Um atingiu Ênio no ombro direito e perfurou seus órgãos vitais causando-lhe a morte. O outro atingiu seu carro, fazendo com que a bala disparada ficasse alojada na coluna lateral do veículo. Os únicos objetos que sumiram do local foram seu celular e as chaves do carro, levando a polícia crer a que não se tratava de latrocínio (roubo seguido de morte). Junto com o corpo de Ênio estava, ainda, seu notebook, sua carteira com quase 250 reais e cartões, um aparelho de DVD portátil, uma pasta com papéis da empresa, livros e o relógio de pulso, além de um aparelho de CD. Já se passaram mais de seis anos e o mistério sobre o assassinato de Ênio Wickert continua assombrando a família, a polícia e a cidade. Restam um crime, uma vítima e muitas hipóteses. O delegado responsável pelo caso, Miguel Mendes Ribeiro, trabalha atualmente com

a linha de raciocínio de que o crime não foi premeditado, mas sim um caso eventual. Segundo ele, as circunstâncias em que o assassinato ocorreu, bem como a posição do corpo da vítima, indicam que não se tratou de algo planejado. O irmão de Ênio pensa diferente. A principal suspeita de Lúcio é que a morte do seu irmão mais novo tenha sido uma “encomenda” de alguém com muito dinheiro. “Suspeitamos que tenha sido um estrangeiro”, afirma. Lúcio Wickert conta que seu irmão era uma pessoa fechada. Tão fechada que descobriu apenas após a sua morte que Ênio era homossexual. Fato esse que muitas pessoas acreditavam ter relação com sua morte. Mas Lúcio não. Ele acha que os motivos foram outros, mesmo que as suspeitam não passem de hipóteses. A aflição por saber quem tirou a vida de seu irmão levou Lúcio a oferecer 10 mil reais de recompensa em 2008 para quem tivesse informações concretas que levassem ao assassino. Proposta que ainda está de pé, embora até hoje ninguém tenha revelado nada que valesse a recompensa. As circunstâncias do crime só fazem aumentar as dúvidas de Lúcio. Próximo ao local onde ocorreu o assassinato de Ênio existe um ferro-velho. Lúcio conta que foi atrás do proprietário na época do crime, assim como a polícia também fez, para saber se essa pessoa tinha visto alguma coisa. Na ocasião, o dono do local levou Lúcio para conhecer o último lugar onde seu irmão esteve com vida. Embaixo de uma luminária, explicou Lúcio. Mas, mesmo assim, a luz da lâmpada não foi suficiente para impedir a escuridão das intenções daqueles que tiraram a vida de seu irmão. O proprietário do estabelecimento disse não ter ouvido nada, assim como seu cunhado, que morava também no local. Esse cunhado, como contou Lúcio, costumava ouvir “qualquer mosca”, mas nessa noite, disse só ter ouvido o silêncio.

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