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imagem cedida pela Associação dos Antigos Alunos da Casa Pia de Évora

fundado por D. Teotónio de Bragança onde se recolhiam mulheres de vida licenciosa que quisessem regenerar-se. O Recolhimento de Nossa Senhora da Piedade, fundado pelo mesmo arcebispo, que recolhia meninas órfãs e pobres. O Colégio de São Manços, também fundado por D. Teotónio, inicialmente destinado à educação de crianças pobres, tornou-se depois recolhimento de donzelas desamparadas; nesta fase era ocupado por senhoras colegiais e porcionistas. O Colégio dos Meninos Órfãos, do início do século XVII, foi fundado por Manuel de Faria Severim. Recolhia meninos órfãos e desamparados aos quais era ensinado a ler, escrever e contar, sendo depois colocados num ofício; por isso deste colégio herdou a Casa Pia não só os bens, como a missão a cumprir, já que o próprio fundador estipulou que o colégio devia receber “órfão, desamparados e enjeitados” que seriam alimentados, vestidos e educados de forma a saírem “mestres consumados”. 3

Instalações A utilização do magnífico edifício do colégio do Espírito Santo viria a levantar inúmeros problemas à Casa Pia de Évora. Não só teve de o partilhar com outras instituições – como o Governo Civil, a Junta Geral, a Repartição de Fazenda e, sobretudo, o Liceu de Évora, com quem manteve algumas questões de difícil resolução – como deu origem a que faltassem “ dormitórios espaçosos e ventilados, oficinas de trabalho, locais próprios para recreio e exercícios, casas de banho, aulas onde as crianças não estivessem comprimidas”4 É que a Casa Pia teve de adaptar o espaço existente às suas novas funções. No rés-do-chão situava-se o refeitório, a cozinha, as oficinas e os espaços ao ar livre para recreio e ginástica. No piso superior ficavam os dormitórios, as arrecadações e as salas de aula. A aula de instrução primária situava-se no corredor norte-

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sul do piso superior. As oficinas situavam-se no pavimento térreo do edifício. De acordo com o seu primeiro regulamento a Casa Pia dividia-se em dois colégios, um para cada sexo, dirigidos por um regente e uma regente sob a inspecção do administrador. O espaço era dividido pelos dois colégios, destinando-se à secção feminina o corredor que, partindo do cruzamento denominado “centro do mundo”, se orientava para norte e onde se situava a capela do fundador. Todo o restante espaço era ocupado pelo colégio masculino. Esta situação levou os administradores a considerarem que era urgente proceder a obras no edifício: “por estreiteza do local do colégio das órfãs têm estas que sair do seu aposento, pelo menos quatro vezes por dia, atravessarem o colégio dos alunos, para irem ao refeitório e à aula de ensino mútuo, do que se seguem graves inconvenientes que necessariamente reclamam providências apesar das cautelas que se tem posto para não serem observadas no seu trânsito e concorrerem àqueles locais a horas desencontradas.” 5 Essas obras teriam permitido que as alunas passassem a ter no seu colégio cozinha, refeitório, armazéns, lavandarias, casa de engomar, salas de aula e de costura - sendo esta uma das mais frequentadas já que todas as alunas por aí passavam - “cómodos indispensáveis para uso e ensino das alunas que por seu estado e condição muito lhe aproveita saberem todos os usos domésticos para que um dia possam ser boas criadas de servir ou boas donas de casa.” 6 Já a anterior administração tinha solicitado o edifício do extinto convento da Purificação para aí instalarem o colégio feminino, o que acabou por ser recusado pelo Ministério do Reino. Só em 1906 o colégio feminino saiu do edifício do Espírito Santo instalando-se, junto com o recolhimento escola e o asilo de cegos João Baptista Rolo, no Convento Novo.

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