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LITERATURA E IMPRENSA: A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA E O JORNALISMO PARA ASCENSÃO DOS ESCRITORES ABOLICIONISTAS NA LITERATURA BRASILEIRA DA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX ATÉ AS PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO XX

RAYANNE SOARES

LITERATURA E IMPRENSA: A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA E O JORNALISMO PARA ASCENSÃO DOS ESCRITORES ABOLICIONISTAS NA LITERATURA BRASILEIRA DA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX ATÉ AS PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO XX

Rayanne Soares

LITERATURA E IMPRENSA: A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA E O JORNALISMO PARA ASCENSÃO DOS ESCRITORES ABOLICIONISTAS NA LITERATURA BRASILEIRA DA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX ATÉ AS PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO XX

Rayanne Soares da Paz1 Leandro Wagner de Albuquerque da Silva2

Jornalismo e literatura são irmãos gêmeos que nasceram muito diferentes e que hoje são mais parecidos do que nunca (Zuenir Ventura)

Resumo O presente artigo analisa a importância do jornalismo e literatura para ascensão dos escritores na literatura brasileira, especialmente escritores abolicionistas que fazem parte de um recorte temporal da segunda metade do século XIX até as primeiras décadas do século XX – períodos que antecedem a abolição e em seguida a ideia de igualdade e liberdade que estavam muito vivas na pós-emancipação em que se acreditava muito na utopia pela inclusão social. Partindo da hipótese que o avanço do jornalismo e a literatura foi essencial para aproximar as classes menos favorecidas dos debates políticos, sociais e culturais que ocorriam na época, além dos escritores negros que tiveram espaço maior para o reconhecimento de suas obras. Para isto, este artigo aprofundou-se nos textos literários e recortes jornalísticos com base na pesquisa bibliográfica de Simões (2007) e Costa (2007) entre outros, utilizando ainda a revisão de literatura como método de pesquisa qualitativa. O artigo é composto por duas partes que se referem aos primeiros esforços para estabelecer a imprensa no Brasil, e na segunda parte a modernização da escrita no início do século XX com a imprensa negra já consolidada.

Palavras-chave: Jornalismo literário; Literatura brasileira; História; Novo jornalismo.

1

Estudante de Letras Espanhol no Departamento de Letras do Centro de Artes e Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco.

2 Graduado em Pedagogia pela UFPE, mestre em Educação pelo PPGEdu/UFPE, doutorando em Sociologia pelo PPGS/UFPE.

Abstract This article analyzes the importance of journalism and literature for the rise of writers in the Brazilian literature, especially abolitionist writers who are part of a temporal clipping of the second half of the nineteenth century until the first decades of the twentieth century - periods that precede the abolition and then The idea of equality and freedom that were very vivid in the post-emancipation in which very much believed in the utopia by social inclusion. Starting from the hypothesis that the advancement of journalism and literature was essential to bring the less favored classes of political, social and cultural debates that occurred at the time, in addition to black writers who have had greater space for the recognition of their works. For this, this article was deepened in literary texts and journalistic clippings based on the bibliographic research of Simões (2007) and Costa (2007) among others, using literature review as a qualitative research method. The article consists of two parts that refer to the first efforts to establish the press in Brazil, and in the second part the modernization of writing in the early twentieth century with the already consolidated black press.

Keywords: literary journalism; Brazilian literature; Story; New journalism.

Resumen Este artículo analiza la importancia del periodismo y la literatura para el surgimiento de los escritores en la literatura brasileña, especialmente los escritores abolicionistas que forman parte de un recorte temporal de la segunda mitad del siglo XIX hasta las primeras décadas del siglo XX, períodos que preceden a la La abolición y luego la idea de igualdad y libertad que fueron muy vívidas en la postemancipación en la que se cree mucho en la utopía por inclusión social. A partir de la hipótesis de que el avance del periodismo y la literatura fue esencial para llevar las clases menos favorecidas de los debates políticos, sociales y culturales favorecidos que ocurrieron en ese momento, además de los escritores negros que han tenido un mayor espacio para el reconocimiento de sus obras. Para esto, este artículo se profundizó en textos literarios y recortes periodísticos basados en la investigación bibliográfica de Simões (2007) y Costa (2007), entre otros, utilizando la revisión de la literatura como un método de investigación cualitativo. El artículo consta de dos partes que se refieren a los primeros esfuerzos para establecer la prensa en Brasil, y en la segunda parte la modernización de la escritura a principios del siglo XX con la prensa negra ya consolidada.

Palabras clave: periodismo literario; Literatura brasileña; Historia; Nuevo periodismo.

INTRODUÇÃO Nos últimos anos do século XIX, nas sociedades recém emancipadas, escrever era uma prática realizadora da crítica social. No Brasil, podemos dizer que essa prática se estabeleceu com a escrita abolicionista em periódicos, pois a partir destes, a modernização da escrita literária e jornalística foi ainda mais crescente, dado que a imprensa como meio de comunicação, era também um instrumento para fazer uma análise da sociedade mais crítica e política, isto é, o uso literatura como uma forma de independência para expressar os desejos e problemas da sociedade.

Para compor a metodologia da pesquisa que vai guiar este pequeno artigo, foi utilizada a análise bibliográfica e um levantamento de referências, no principal canal de acervos de jornais e revistas como hemeroteca digital. Na primeira parte, foram aproveitados como base teórica autores como Simões (2007), Chalhoub (2020) e Lustosa (2003), entre outros que serviram para conceituar e caracterizar jornalismo e literatura e as primeira iniciativas de jornais com a temática voltada para as questões sociais e abolicionistas. Permitindo que essa nova forma de escrita fosse a principal causa da mudança na forma dos dois campos.

Já na segunda parte, aborda a perspectiva dos jornais no começo do século XX, onde refletiuse ainda, através principalmente de autores como Cristiane Costa (2005) e Márcio Acselrad (2015), mas não se limitando a estes, sobre como essa influência da literatura e jornalismo foi importante para ascensão dos escritores permitindo que os novos modelos de escrita fosse se modernizando até chegar no que chamamos hoje de jornalismo literário. A análise do artigo foi construída com base também em recortes de jornais e textos históricos que contribuíram para a formação do diálogo.

Como parte do embasamento teórico desta pesquisa, ao longo do artigo foram citados autores importantes nesse período que atuaram na literatura e no jornalismo, escritores a exemplo de Lima Barreto, Machado de Assis, Olavo Bilac, José do Patrocínio, Emília Freitas entre outros. São alguns desses nomes que compõem o cenário importante no jornalismo literário, nas questões sociais e temáticas abolicionistas.

As considerações finais se dedicam a retificar o que foi abordado ao longo do artigo mostrando ainda que, nos anos que se seguiram, o elo entre jornalismo e a literatura continua sendo importante para os escritores, assim como para o público, uma vez que este se apresenta com textos mais aprofundados e detalhistas que acompanham as transformações da cultura, da arte e do próprio jornalismo, comprometida com pautas que elevem ao pensamento crítico e reflexivo.

Parte 1: AS PRIMEIRAS INICIATIVAS DOS JORNAIS NEGROS Podemos considerar a imprensa produzida no Brasil no século XIX como um agente histórico, não apenas porque a chegada dos periódicos em circulação no Brasil era uma novidade, mas pelo conteúdo revolucionário que modificou a forma da escrita jornalística e literária com o passar dos anos. Isto é, a presença dos literatos foi fundamental para o avanço da escrita jornalística e importante agente na luta pela garantia dos direitos sociais e combate a escravidão3.

Durante o século XIX, no Brasil, literatura e imprensa eram facilmente confundidas, os homens de letras recorriam ao trabalho nos jornais em busca do que não encontravam com facilidade nos livros: notoriedade e possibilidade de ascensão pela renda recebida com o ofício jornalístico.

Escritores como Lima Barreto, Machado de Assis, Cruz e Souza, Olavo Bilac e Euclides da Cunha tiveram seus primeiros textos publicados em periódicos em que trabalhavam. (Acselrad et al 2015, p.

86).

Além disso, havia outro fator para que os literários dividissem a função entre o jornal e a literatura. Na década de 1870 não era possível se manter financeiramente apenas como escritor, para alcançar uma base segura de sobrevivência era necessário recorrer a outros meios, neste caso, como muitos escritores da literatura já possuíam o “dom” da palavra, era possível se estabelecer nos periódicos de jornais e revistas. Com isso, muitos escritores se juntaram ao grupo de intelectuais comandados por José do Patrocínio que iniciaria a campanha abolicionista na Gazeta de Notícias em 1877.

Acredita-se que a literatura comprometida com as questões sociais oferece oportunidade de vivências e experiências de mundo através do processo de interação, que vai se formar a partir do contato do leitor com as impressões criadas pelo autor. É possível destacar na escrita do jornalismo literário concepções a respeito dos objetivos da obra de arte, e do papel do escritor engajado com a problemática nacional. Isto é, escrever com a finalidade de refletir o mundo circundante para

3

A escravidão no Brasil ocorreu entre os séculos XVI e XIX. Foi uma exploração da força de trabalho de homens e mulheres africanas, sustentada pelo tráfico negreiro vindos pelo oceano Atlântico. Em 1535 chegou a Salvador (BA) o primeiro navio com negros escravizados. Este ano é o marco do início da escravidão no Brasil que só “terminaria” em 13 de maio de 1888, com a Lei Áurea. No entanto, a história da escravidão no Brasil começa bem antes destas datas estimadas, dado que as primeiras pessoas a serem escravizadas na colônia foram os indígenas, antes da chegada dos negros.

despertar, além do senso crítico, alternativas renovadoras dos costumes e de práticas sociais (RAMA, 1998).

A imprensa foi a forma mais fácil de acesso à informação do período que antecipa a abolição e se estende até o inicio do século XX, permitindo uma postura crítica com relação à política, cultura e pautas étnico-raciais que antes a camada menos favorecida era mais afastada desses assuntos, além disso, os jornais, em sua constituição, foram importantes para a formação dos ideais de nação, ademais de um valor educacional (PIRES et al., 2016). Temas que dialogam com vários estilos de época, apresentam conteúdos geradores de debates e reveladores de conflitos atuais.

Segundo Lustosa (2003), no século XIX os jornais exerciam um papel fundamental no âmbito educacional, uma vez que, o acesso à educação e informação de qualidade era reservado a uma minoria, neste caso, a imprensa jornalística supria muitas vezes a carência de livros e bibliotecas acessíveis. Nesse sentido, podemos inferir que o analfabetismo foi um dos motivos para o jornalismo e a literatura se tornarem mais lidos: através da imprensa. “Foi o período do processo de expansão e diversificação do público leitor e consumidor de bens culturais” (ASSIS, 1859).

De acordo com Simões (2007), no período colonial não havia imprensa, somente com a chegada da família real em 1808 iniciou a publicação de pequenos periódicos impressos no país.

Porém, a Gazeta do Rio de Janeiro, primeiro jornal do Brasil, continha conteúdos meramente informativos com notícias que não se tratavam do Brasil, mas da Europa principalmente. Somente com a chegada do Correio Braziliense passou ser direcionado ao Brasil, seu objetivo era o de influir na vida política do país. Seu redator procurava difundir “os ideais do liberalismo e as vantagens do sistema de governo baseado na Constituição” (Lustosa, 2003, p. 8).

Segundo Muniz Sodré (1999), o período que antecedeu a independência foi um período histórico na qual apareceram periódicos que se dedicam a discutir cada vez mais as questões sociais e políticas do país. Segundo o autor, a imprensa auxiliou as denúncias através de jornais e nos movimentos emancipatórios. No período regencial (1831 - 1840) surgiu o primeiro jornal com a temática voltada para os negros, O Homem de Cor (1833), editado pelo tipógrafo Paulo Brito, depois notabilizada por Machado de Assis. O jornal tem um papel de destaque na história da imprensa brasileira devido ao engajamento nas causas emancipatórias e desenvolvimento democrático que influenciou a criação de outros jornais como O Cabrito e O Meia Cara,Brasileiro Pardo e O Lafuente, todos do mesmo ano e voltados para causas raciais.

A Gazeta de Notícias, que passou a circular no dia 2 de agosto de 1875, foi o primeiro jornal idealizado por intelectuais a inovar com vendas avulsas por baixos preços. Os leitores poderiam comprar jornal em vários pontos da cidade ou das mãos do vendedor ambulante. A Gazeta de Notícias se destacou pela qualidade de seus colaboradores, grandes nomes da literatura brasileira e abolicionistas ativos como Machado de Assis, Olavo Bilac, Coelho Neto, Raul Pompéia e José do Patrocínio. A campanha abolicionista, ganhou mais força na década de 1880, na qual legitimou o trabalho do jornalista José do Patrocínio, que dirigiu os jornais Gazeta da Tarde (1881-1887) e Cidade do Rio (1887- 1902), (SIMÕES, 2007.).

Os jornais foram importante instrumento para os autores abolicionistas da época. Pois, a imprensa era um espaço de participação política e divulgação literária. A grande maioria dos literatos brasileiros do século XIX e XX foram jornalistas e puderam ter mais liberdade para escrever nos jornais (CHALHOUB, 2020). Alguns escritores atuavam diretamente na política, como José do Patrocínio, por exemplo, ao lado de Machado de Assis, foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras e vereador da Câmara Municipal do Rio de Janeiro.

Outro exemplo importante é o Cruz e Souza, atuou como diretor do jornal abolicionista tribuna popular em 1881, onde combateu a escravidão e o preconceito racial. Cruz e Souza foi nomeado promotor de Laguna em 1883 por Francisco Luís da Gama Rosa - Médico, jornalista e Presidente da Província de Santa Catarina e da Paraíba, no século XIX –no entanto, foi impedido de assumir o cargo por impugnação de políticos da época, fruto da discriminação racial.

Emília Freitas colaborou em jornais como o Libertador (1881) e foi uma das integrantes da Sociedade das Cearenses Libertadoras. Inaugurada em 1883, a sociedade contava com a participação de muitas mulheres na direção e diversos apoiadores que ajudaram diretamente na campanha pela abolição no Ceará.

Outro periódico que se destaca pelos temas relacionados a causas sociais, políticas e abolicionistas é o O Homem: Realidade Constitucional ou Dissolução Social (1876), periódico pernambucano na qual se dedicava as questões da ilegalidade da discriminação dos libertos. Com abordagem mais ampla e profunda e argumentos mais sólidos, além de fazer os primeiros protestos contra as teorias da eugenia e branqueamento populacional. Em sua primeira página lê-se: “à direita, LIBERDADE: Nenhum cidadão pôde ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da lei. Const. Art. 179 § 1”. À esquerda: “FRATERNIDADE: Aquele que tem ódio a seu irmão está em trevas e anda nas trevas, e não sabe por onde vai porque as trevas cegaram seus olhos.

S. João. Ep. I cap. II v. II”. No meio: “IGUALDADE: Todo cidadão pode ser admitido em cargos públicos, civis, políticos ou militares sem outra diferença que não seja a dos seus talentos e virtudes.

A lei será igual para todos, quer proteja quer castigue, e recompensará em proporção dos merecimentos de cada um. Const., art. 179, § XIII e XIV”. Argumentada pelo pensamento filosófico iluminista.

Além desse, outros periódicos significativos no estado de Pernambuco, que contribuíram para os debates da época de forma aprofundada foram: “O Artista” (1888-1891), “O Recife – Semanário Abolicionista Republicano” (1888), “A Academia” (1888), “A exposição” (1887-1888) e a revista mensal do Centro Republicano de Pernambuco, “A República” (1887-1888).

O século XIX foi de fato revolucionário para o avanço da escrita jornalística e literária. Foi expressivo crescimento da imprensa no Brasil, apesar dos altos índices de analfabetismo desde o final do império, onde só a elite e classe média urbana conseguia ler jornais (FERRARO, 2004). Contudo, boa parte da população analfabeta, ainda que uma pequena parte, tinha acesso aos conteúdos dos jornais, devido às leituras públicas em cafés e praças públicas. A presença de escritores abolicionistas nos jornais tem relação, sobretudo, com o comprometimento desses escritores em levar o discurso político a toda população sem distinção de classe social possibilitando ainda a inovação de uma escrita mais elaborada.

Parte 2: JORNAIS NO COMEÇO DO SÉCULO XX E NOVAS PERSPECTIVAS Ao longo da história, os modelos e as novas técnicas de escrita na imprensa foram se modernizando devido às mudanças no cenário histórico brasileiro, para se adequar ao público e atrair novos leitores. Nas duas primeiras décadas do século XX, a abolição da escravatura e a proclamação da república provocaram movimentos que mudaram as formas de se fazer arte no país. Vivia-se a república do café com leite, na qual o domínio político dos dois estados mais ricos da nação: São Paulo, cujo poder econômico se destacava como o maior exportador de café a principal atividade econômica do Brasil, e Minas Gerais, que além da produção do leite e do café, era também o maior colégio eleitoral do país.

Nesse contexto, a capital do Brasil na época, Rio de Janeiro, passou por um processo de modernização urbana promovida pelo prefeito Pereira Passos. Seguindo o modelo art nouveau, o prefeito modificou o perfil da cidade, derrubando o que considerava velho e feio para construir o

novo e moderno. Em consonância disso, o crescimento da imprensa foi concomitantemente à urbanização e à industrialização do país, dessa forma, a imprensa passou a ser mediadora das divulgações de ideologias e cultura (NUNES, 2011).

Se a Belle Époque tropical é considerada um período de estagnação literária, em termos estritamente estéticos, por outro lado ela desenvolveu as condições sociais para a profissionalização do trabalho intelectual. E também para sua massificação. Ao contrário do que sonhavam os escritores, porém, essa profissionalização se daria não por meio da arte, a literatura, mas do jornalismo, a indústria. Mudanças econômicas, sociais, tecnológicas e demográficas permitiram a proliferação de jornais na virada do século, criando centenas de empregos. E formando um público para literatura nacional. (COSTA, 2005, p. 24)

Com a chegada do Teatro Municipal (1910) e a Biblioteca Nacional (1911), culturalmente, o jornalismo evoluiu com a chegada da linotipia, fotogravuras e ilustrações. As revistas literárias e científicas surgiram com o propósito de divulgar produções importantes da literatura brasileira. O folhetim era substituído por reportagens, entrevistas e críticas literárias. As revistas que já circulavam e outras que surgiram, ganharam espaço na intelectualidade brasileira, destacam-se a Revista da Semana, Careta, Fon-Fon, O Pirralho e Ilustração Brasileira. Com isso, a literatura passa também por um processo de mudanças na sua escrita e objetivo.

O final do período do século XIX e início do século XX foi marcado pela mudança gradual dos introdutores do realismo, naturalismo e parnasianismo, era então, o surgimento do movimento modernista de 1922. Considera-se esse momento intermediário como pré-modernismo, na qual representa um período importante para entender a profissionalização do trabalho intelectual (NUNES, 2011).

Dois autores que se destacaram nesse contexto foram Lima Barreto e Olavo Bilac, ambos tiveram uma participação no jornalismo e no fazer literário na virada do século. Bilac se adaptou ao jornalismo de forma plena, já Lima Barreto teceu críticas ao jornalismo artificial e a literatura que não lidavam com as questões da realidade da época. Isso porque o autor prioriza sua participação nos jornais não apenas como fonte de renda, mas pelos benefícios simbólicos que a imprensa tinha o poder de proporcionar: reconhecimento social. Apesar disso, foi através do jornalismo que o autor conseguiu ser reconhecido postumamente e ter minimizado sua marginalização social. (NUNES, 2011).

Apesar de ter participado de jornais maiores como a Gazeta da Tarde (1911), Lima Barreto teve percepção principalmente na pequena imprensa, na qual colaborou em jornais como O Debate (1917), ABC (1916), A Voz do Trabalhador (1913), Floreal (1907), entre outros, apesar da baixa remuneração, nesses periódicos ele poderia escrever com mais autonomia e liberdade. Deixando um legado para a literatura e o jornalismo que a escrita precisa estar comprometida com as questões sociais do país.

O Jornalismo literário se trata de uma modalidade que surgiu no final do século XIX e que se consolidou no início do século XX. O novo modelo de escrita tende a aproximar textos jornalísticos e literários. Podemos considerar o jornalismo e literatura como duas expressões distintas, mas que são unidas pelo mesmo gênero que se completam e colaboram para um novo modelo mais aprofundado de escrita, a exemplo de Castro Alves, intimamente um poeta, e José do Patrocínio, essencialmente um jornalista. Porém, ambos fazem parte da cultura brasileira, ligados sobretudo à causa da abolição da escravatura através da escrita.

Como sabemos, não são raros os casos de escritores que iniciaram a carreira nos periódicos de jornais (ACSELRAD, 2020) afirma que “todo jornalista é um escritor em potencial e vice-versa”.

De acordo com Costa (2005), o salário não foi o único motivo pelo qual homens e mulheres das letras se aproximaram das redações de jornais. Segundo a autora, o trabalho com a escrita facilitou a aproximação dos ofícios. Em seu livro Pena de Aluguel, a autora entrevistou vários profissionais entre escritores e jornalistas com a seguinte pergunta: “O jornalismo, especialmente no Brasil, é um fator bom ou ruim para a arte literária?”. Segundo a pesquisa, o jornalismo beneficia o escritor por proporcionar uma prática de escrita diária, a disciplina, o exercício da clareza e a ampliação de contato com o mundo. Mas também pode ser prejudicial caso o profissional se submeta a longas jornadas de trabalho.

Segundo (COSTA, 2005), formação cultural e ascensão social também foram alguns dos motivos para que o elo entre a literatura e o jornalismo fosse possível. No entanto, alguns críticos defendem que a escrita na imprensa pode influenciar negativamente no processo de escrita literária.

Já outros defendem que a participação dos escritores na imprensa foi positiva, pois além de ser um veículo de comunicação de fácil acesso e barato, colabora com a divulgação das obras, além de servir como uma fonte de renda e possibilidade de independência.

O fato é que, através do elo entre jornalismo e literatura, como vimos, representou uma oportunidade fundamental na ascensão social, cultural e econômica para os escritores. Além de

permitir um aumento significativo no número de leitores, os periódicos passaram a inserir uma escrita mais elaborada em seu contexto.

O jornal, assim como a revista, deve ser aquele que irá complementar aquilo que já foi passado de maneira rápida e superficial pelo rádio, pela televisão e pela internet. Entendemos que o aparecimento desses novos veículos não causará a extinção do jornal impresso se seus donos compreenderem que é uma oportunidade para aperfeiçoamento e renovação. Exemplos de ruptura de fronteiras entre a literatura e a retórica do jornalismo são as reportagens, crônicas, perfis, comentários, entrevistas, artigos e ensaios, que se tornaram os trunfos para a sobrevivência dos jornais, por representarem a fecundidade criativa do jornalismo, alicerçada por técnicas literárias. (Acselrad et al 2015 p. 84-98)

Como vimos, o acesso à cultura e à informação, são algumas condições de possibilidade de plena participação social da cultura brasileira e da interdisciplinaridade. Assim, desde a modernização da imprensa juntamente com a literatura, foi possível estabelecer um compromisso com a democratização cultural e social. Para corroborar essa afirmação, podemos citar a hipótese do pensamento de Antonio Candido, na qual pode ser extraída uma concepção da educação literária, recorrendo a alguns textos do autor que aludem às temáticas tais como educação, o ensino da literatura e a função social da literatura.

Autores como Machado e Lima dividiam princípios semelhantes sobre o papel da imprensa e de seus profissionais, frente à responsabilidade da mídia, na qual deveria fornecer informações e opiniões que precisavam contribuir para formação qualitativa do patrimônio cultural coletivo. Essa postura foi o que influenciou Machado e Lima a pautarem seus trabalhos, tanto jornalísticos como literários, a favor da educação dos seus leitores. (SILVA, 2009).

O momento histórico da pós escravidão, o país estava definindo como seria a política livre das heranças coloniais, era momento de discutir qual seria o futuro do país. Nesse sentido, a escrita dos literatos para a imprensa era importante para a divulgação dos seus textos que também refletiam de alguma forma aquele contexto. O jornal era a principal forma de difusão do conhecimento social e da literatura no Brasil. O crescimento do número de jornais refletia o anseio de informação por parte do público urbano e a emergência de uma classe média com interesses culturais mais definidos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho foi possível apontar os diálogos entre jornalismo e literatura, em que a forma da escrita divide opiniões sobre até que ponto o jornalismo pode atrapalhar ou beneficiar o escritor.

No artigo, tomamos como objetivo analisar como essa união das duas áreas beneficiaram os escritores e como a escrita nos jornais abolicionistas permitiram uma escrita mais aprofundada para o público leitor, transformando essa tendência que chamamos hoje de jornalismo literário ou New Journalism4.

Para tanto, foi necessário abordar o momento histórico na qual estavam se iniciando as novas tendências de escrita no Brasil. É importante enfatizar que, na história, há modificações que podem surgir na forma do fazer literário e jornalístico que acabam acompanhando essas novas transformações de estrutura do país. No entanto, o jornalismo literário tem se apresentado bastante eficiente desde os primeiros indícios da nova tendência até os dias atuais.

Podemos citar como exemplos atuais, jornais que não estão inseridos no marco temporal desta pesquisa, mas que são importantes citar como exemplo do que a presença dos escritores nos jornais, principalmente na dedicação da escrita abolicionista, desde segunda metade do século XIX até as primeiras décadas do século XX puderam deixar de legado por influência de uma escrita mais ampla.

Cito aqui dois exemplos muito importantes no cenário jornalístico-literário de Pernambuco.

Os jornais contemporâneos Suplemento Pernambucano, jornal criado em 2007 como suplemento cultural do Diário Oficial do Estado de Pernambuco. Atualmente, comercializados à parte do Diário Oficial. O jornal aborda assuntos relacionados à Literatura e a questões do contemporâneo. Assim como a Revista Continente, produzida pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe) a Continente acompanha as transformações da cultura, da arte e do próprio jornalismo, comprometida com pautas que elevem ao pensamento crítico e reflexivo. que também continuam contribuindo para divulgação de obras literárias, assim como manter um conteúdo informativo sobre arte, cultura ou política de forma mais aprofundada do que encontramos nas reportagens nos periódicos da grande mídia.

Portanto, encerra-se esta etapa de pesquisa enfatizando a importância da escrita comprometida com as questões sociais de seu tempo, e a imprensa, como principal fonte de divulgação de notícias a sociedade precisa se atentar a essa nova tendência de escrita para que esta esteja colaborando com a educação social. Pois é importante que os assuntos que se referem à política, cultura e educação não estejam restritos às camadas sociais mais favorecidas, é necessário estar comprometida com o coletivo, com pautas que elevem ao pensamento crítico e reflexivo.

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New Journalism, ou simplesmente Novo Jornalismo, é um estilo de escrita jornalística que utiliza técnicas literárias. O modelo surgiu no final do século XIX, mas só se consolidou nas décadas de 1960 e 1970.

REFERÊNCIAS

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CHALHOUB, Sidney; PINTO, Ana Flávia Magalhães. Pensadores negros-Pensadoras negras: Brasil séculos XIX e XX. Fino Traço Editora, 2020.

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DA SILVA, Marcos Fabrício Lopes. Machado De Assis e Lima Barreto, Críticos Da Imprensa.

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RAMA, Ángel; SUBIRATS, Eduardo; VON DER WALDE, Erna. La ciudad letrada. Hanover: Arca, 1998.

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