IV prêmio PROEX/UFPA de Literatura

Page 114

O Sobrevôo

Mayara Lopes de La-Rocque

As palavras. As palavras que são dele e também minhas, quando ditas, que me comem todo o corpo aos pedaços, me deixando um tédio inteiro de sempre querer mais aquela voz que me escapa aos ouvidos, gulosos de amor. Ele me beija a nuca e eu quero mais. Ele me beija o pé do ouvido e lhe digo sem palavras o que o meu corpo palpita à sua mão cálida, tão cálida de tocar meu seio, meu busto, meu peito e mais adentro e mais abaixo aquela emoção descabida do meu âmago, que me aquece dos pés a cabeça e me atrai para dentro dele, e dele, dentro de mim. Um passeio completo de suas palavras em minha pele. A liberdade de sobrevoar a também pele do ar daquele quarto mofado, daquela janela sem luz, daquele vidro embaçado e dos quatro cantos de um colchão. Ao fundo, a poesia rompe e penetra aquele breu, grita e denuncia o silêncio entre corpos. Sem testemunha, Eros se escreve. Quando em mistério, Hermes abriga palavra alguma, a palavra latente. Onde ninguém, criase mundo, os deuses existem. E então, andamos pelas ruas a vangloriar todas as coisas que apenas existem; vangloriamos o céu, vangloriamos o sol e pousamos CONTOS

113


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.