Dissertação - Diego Augusto Diehl

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Na Amazônia, a modernização conservadora é realizada no campo a partir de projetos conservadores de “reforma agrária”, baseados na concepção ideológica de “vazio demográfico”, desconsiderando a existência e as necessidades da população amazônida, e logrando instalar projetos de ocupação territorial baseados na derrubada descontrolada da floresta e na aplicação de técnicas arcaicas de cultivo da terra111. Alguns dos projetos que se pode considerar como fracassados ao longo desse período são o Programa de Integração Nacional (PIN)112 e o POLAMAZÔNIA113, cujo resultado principal foi a atração de pequenas empresas madeireiras que enriqueceram rapidamente com o comércio predador de madeiras nobres da região – configurando-se nos principais agentes do atualmente denominado arco do desmatamento –, e o subseqüente plantio de pastos para a criação de gado, que, em virtude da baixa capitalização e das técnicas arcaicas para a manutenção

em

território

amazônico,

produziram

enormes

impactos

socioambientais114, além de sua maior parte se enquadrar, atualmente, na condição de pastos degradados. O que há, portanto, ao longo de todo esse período, e especialmente entre 1970 e 1990, é a destruição de antigas relações de produção e a imposição das relações de produção propriamente capitalistas, configuradas pelo latifúndio e pela expropriação de pequenos produtores, que passam a se assalariar nas fazendas, quando não são simplesmente expulsos, direta ou indiretamente, para os bolsões de miséria nas cidades: 111

Exemplos disso são o uso descontrolado de queimadas e a aplicação de técnicas de cultivo agrícola utilizados no Sul e Sudeste brasileiros, mas que se mostram ineficientes e altamente predadores no bioma amazônico. 112 Programa executado entre 1975 e 1980, tinha por objetivo promover a integração da região ao território nacional (lembre-se a frase de efeito “Amazônia: integrar para não entregar”), responsável por projetos social e ambientalmente irresponsáveis, com as rodovias Transamazônica e Cuiabá-Santarém. O PIN buscou ainda assentar famílias de nordestinos “flagelados da seca” (na verdade expulsos pelo velho latifúndio coronelista), e também nisso foi muito mal-sucedido. 113 Tinha por objetivo constituir dezenas de pólos de desenvolvimento econômico na Amazônia, com base em mercadorias diversas que ora atendiam às necessidades do mercado mundial, ora às do mercado interno do Sul e Sudeste do Brasil. Os principais projetos estão relacionados à pecuária extensiva, cuja voracidade por terras foi um dos principais fatores da violência agrária vista durante todo esse período. 114 Diversos são os relatos dessa época de conflitos, e não raro de massacres de povos indígenas, comunidades extrativistas e de pequenos camponeses em toda a região, em virtude da sanha do latifúndio por concentrar cada vez mais terras. A cumplicidade do Estado (comandado por essa mesma elite patrimonialista) fazia com que se “fechasse os olhos” para os crimes perpetuados, a ponto de se considerar o Pará e outros Estados da Amazônia como “terra sem lei”, ou o “faroeste brasileiro”. A grilagem é, nesse sentido, apenas mais uma técnica utilizada por estes latifundiários para se apropriar ilegalmente de terras públicas, com o beneplácito das autoridades do Estado. Vide PICOLI, Fiorelo. O capital e a devastação da Amazônia. São Paulo: Expressão Popular, 2006. Passim.

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