Revista Momento

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Internacional |

Manifestantes protestam contra medidas adotadas pelo governo na Grécia

América Latina dos Anos 80 e a Grécia de hoje Como os déficits fiscais fragilizaram tais economias

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segunda metade do século XX, época que marcou a disputa pela hegemonia global entre Estados Unidos e União Soviética, também sofreu diversas mudanças no aspecto econômico. As teorias keynesianas que antes eram quase incontestáveis não conseguiram resolver os problemas causados pelos choques do petróleo nos anos 70. Foi neste cenário que o liberalismo tomou conta das novas políticas econômicas até a crise de 2008. Após a segunda guerra mundial (1939-1945) o mundo viveu um momento de prosperidade econômica sem precedentes, algo que durou até que Choque do petróleo atingisse o mundo. Crise esta que atingiu com força as economias importadoras de tal fonte energética, mas que ao mesmo tempo criou grandes reservas aos exportadores, que investiram tal montante em bancos europeus e americanos. A oferta de crédito explodiu, e tais instituições, em que o dinheiro fora depositado, buscaram novos mercados. A America Latina, região que passou por um período de grande desenvolvimento econômico na década de 60, foi um dos mercados que atraiu a atenção dos investidores internacionais. A região precisava de dinheiro para financiar a importações de petróleo e políticas que visavam minimizar os efeitos negativos do 1º Choque do petróleo. Com a grande oferta de crédito, juros flutuantes baixos e a disposição a emprestar por parte dos bancos, tais países conseguiram os empréstimos. Contudo, as taxas de juros dos países desenvolvidos aumentaram devido à inflação, e os latinos americanos que tinham as contas desequilibradas viram suas economias fragilizadas e, devido aos constantes déficits, grande parte viu que não era possível o pagamento das dívidas sem ajuda internacional. Em 1982 o México declara moratória e os emprés-

timos, então já escassos aos outros países, cessam de vez. Em 1987 o Brasil declara moratória sobre os juros. O plano Baker tentou acabar com a dívida, mas não conseguiu. Então o plano Brady, o qual conseguiu perdão parcial da dívida, refinanciamento de dívidas antigas e redução das taxas de juros, entrou em ação e exigiu diversas mudanças nas economias dos países endividados para que esses recebessem ajuda internacional. Hoje o que se pede a Grécia é basicamente o que se pediu a America latina nos anos 80, medidas que visam à redução dos custos de governo que teve um déficit no orçamento, que é a diferença dos gastos e despesas de um país. O déficit foi de 13,6 % do PIB em 2009, para que as dívidas possam ser pagas ou refinanciadas. O índice é quatro vezes o permitido pelas regras da zona do euro. Porém o maior temor é o efeito dominó que esta crise pode ter, principalmente porque alguns países da zona do euro, como Portugal, Irlanda e Itália sofrem do mesmo problema, por isso as providências tomadas visam toda a integridade da zona do Euro. Hoje a dívida grega gira em torno de 300 bilhões de euros, por isso o governo grego anunciou a adoção de medidas de austeridade, tais como o congelamento de salários no setor público, setor esse que na ultima década aumentou excessivamente os gastos principalmente com salários, aumento de impostos, além de aumentar a idade para a aposentaria podendo, dessa maneira, aliviar o sistema previdenciário. Primeiramente a Grécia quer cortar seu déficit em 2010 para 8,7% do PIB, e depois para menos de 3% em 2012, mas essas medidas só serão possíveis se houver cortes no setor público, algo que não vem sendo bem recebido pela população.

CRISE [ ECONÔMICA ]

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POR DANIEL CONINGHAM


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